quinta-feira, 30 de junho de 2011
Floresta - «O país não tem dado a devida importância ao sector»
O Presidente da Associação Nacional de Empresas Florestais, Agrícolas e do Ambiente (ANEFA) critica duramente o poder político por nas últimas décadas ter menosprezado a floresta, um sector, recorda, que representa 3% do Produto Interno Bruto (PIB) nacional. Pedro Serra Ramos defende a necessidade de mais investimento e denuncia a existência de má gestão no Fundo Florestal Permanente, «que deveria ser utilizado directamente na floresta».
Café Portugal (CP) - 2011 é o Ano Internacional das Florestas. Qual a importância desta celebração e de que modo vê as preocupações nacionais sobre esta matéria?
Pedro Serra Ramos (PSR) – O país não tem dado a devida importância ao sector florestal, que aparece apenas quando surgem os incêndios. Isso tem muito a ver com o facto de a floresta ser um espaço que leva muito tempo a crescer e de vivermos ainda muito da floresta que nos foi deixada pelos nossos pais e avós. As pessoas não sentem uma necessidade em preservá-la. É fundamental não esquecer que este sector representa 3% em termos do PIB. Porém, o que temos vindo a assistir nos últimos anos é a uma degradação da floresta.
CP - Quais as causas que estão na origem dessa degradação?
PSR - Primeiro, como é expectável, os incêndios. Depois, as pragas, uma consequência esperada. Se temos uma floresta que está em equilíbrio e ela entra em desequilíbrio por causa dos incêndios é natural que os elementos que vivem nela, tentem procurar alimento nas outras florestas que estão ao lado e que permanecerão verdes. E, nessa medida, o aparecimento das pragas é uma consequência disso mesmo. Depois, também há alguma alteração no modo como se cuida da floresta que, entretanto, se alterou por falta de capacidade de investimento e devido às alterações climáticas.
CP - Estamos a falar de descuido?
PSR - Sim, mas a origem desse descuido tem a ver com a falta de capacidade das pessoas para investir. Ou seja, por um lado temos uma situação em que as áreas florestais foram deixadas por pais e avós às pessoas, que já não têm uma ligação muito directa com a floresta. Antigamente, recordo, as pessoas viviam junto à floresta e esta servia, muitas vezes, como fonte de rendimento. Actualmente isso não acontece. Muitas das pessoas que herdaram a sua floresta não sabem sequer onde ficam os seus terrenos. E isso faz com que não haja uma ligação afectiva com o espaço florestal. Por outro lado, as dificuldades financeiras que os países atravessam levam a que as pessoas não tenham dinheiro para investir. E aqui estamos a falar de valores muito altos. Limpar um hectare de floresta, por exemplo, pode custar mil euros.
CP - Isso é incomportável para muitos particulares.
PSR - Sim, mas um hectare de floresta, se reparar, não é nada, é praticamente a dimensão de um campo de futebol. Isto é incomportável e, sobretudo para as pessoas que não têm grandes capacidades, não é uma prioridade. Portanto, é difícil, hoje, mostrar às pessoas as mais-valias do investimento no seu espaço florestal.
CP - Estamos a falar de um problema de gestão?
PSR - Há um problema que o sector tem de resolver rapidamente: encontrar formas de financiamento. Há muitas pessoas que até se encontram disponíveis para investir. O problema é que não têm dinheiro nem formas de financiamento. Os quadros comunitários poderiam ter sido uma solução. Relativamente a este último pacote financeiro que recebemos, arrancou de forma muito má em termos de funcionamento e a verdade é que só agora é que as pessoas estão a começar a candidatar-se às linhas de apoio. Apresentando os projectos agora, quando muito, serão colocados em execução só no próximo ano. Este último quadro comunitário tem muito pouca taxa de execução, pela dificuldade burocrática que teve no início e que levou a que as pessoas, no fundo, se desmotivassem face ao investimento florestal. Há uma outra maneira disponível para financiar a floresta.
CP - Está a falar de formas alternativas de exploração económica da floresta?
PSR - A floresta produz bens de que todos usufruímos e que até hoje não têm sido pagos e cuja cobrança é inevitável e este conceito é cada vez mais falado ao nível europeu. Ou seja, está na altura de avançar com o princípio do utilizador-pagador e das pessoas pagarem por esses serviços. O que acontece em Portugal é que isso já acontece sem que os contribuintes tenham consciência disso.
Ou seja, cada vez que é atestado um depósito de combustível é cobrado um imposto verde que foi criado, e que vai para o conhecido Fundo Florestal Permanente (FFP). O FFP foi criado para resolver precisamente este problema da dificuldade de financiamento do sector.
CP - E como avalia a implementação do FFP?
PSR - A gestão do FFP tem corrido muito mal. Não no sentido de obter a receita porque ela ronda os 30 milhões de euros por ano e nesse aspecto tem funcionado. Mas em termos da sua utilização, não tem funcionado. O FFP, que deveria ser utilizado directamente na floresta, está a ser usado para todo o tipo de coisas, associadas ao sector, menos para a floresta directamente.
CP - Em que é que o FFP tem sido usado?
PSR - O FFP existe há seis anos. Começou a falar-se dele quando as pessoas perceberam que não estava a ser usado na floresta directamente. Ou melhor está a ser usado no sector florestal mas não na floresta. O FFP tem sido utilizado numa série de actividades desde a investigação, no apoio as estruturas organizativas, no planeamento e na publicidade em torno da floresta por causa da questão dos incêndios. Ora, o sector florestal tem actualmente um problema grave - é que o corte de madeira efectuado anualmente é muito superior ao crescimento anual da floresta portuguesa. Assim, se não focamos a capacidade de investimento existente na reposição do equilíbrio entre o que se corta e o crescimento florestal vamos ter graves problemas.
CP - Isso é um perigo.
PSR - Vamos chegar a uma situação de insustentabilidade e a um ponto em que queremos floresta e não a temos e não conseguimos repor o stock florestal de um dia para o outro.
CP - A cortiça, por exemplo, é dos produtos que mais exportamos. Porque não se aposta mais neste produto?
PSR - Penso que tem tudo a ver com a grande dificuldade de investimento. Como existe pouco dinheiro disponível cada organização olha para os seus interesses em vez de olhar para o interesse comum, a floresta e a árvore. O diagnóstico do sector florestal português foi feito no final da década passada (1999/2000), o assunto foi amplamente discutido e originou o chamado Plano de Sustentabilidade da Floresta Portuguesa.
CP - E o que aconteceu a esse Plano?
PSR - Ficou guardado numa gaveta. Criou-se tudo e para cada uma das fileiras florestais foram definidas metas e objectivos. Foi feito o retrato daquilo que existia e foram delineados os vários passos que deveriam ser seguidos para mantermos a sustentabilidade da floresta portuguesa. Esse Plano não passou da teoria. E cada vez que politicamente entra um Governo em funções, fazem-se novos planos e estratégias, perde-se mais tempo e gasta-se o dinheiro disponível.
CP - Sendo 2011 o Ano Internacional das Florestas, esta realidade pode ou não despertar consciências?
PSR - Pode, através da persistência. Neste momento isso passa por encontrar uma forma de financiar o sector. Se tivéssemos uma forma de financiar o sector, conseguíamos convencer os produtores florestais a investir mais.
CP - Como têm passado essa mensagem junto do poder político, por exemplo?
PSR - Cada vez que falamos no FFP para ser utilizado directamente na floresta o poder político ri-se e diz: «coloquem-se na fila porque há mais gente à espera». E esta não pode ser a resposta e muito menos relegar para segundo plano aquilo que é realmente importante. Estamos cansados de planeamento e de estruturação, sobretudo quando este não tem qualquer efeito prático.
CP - Será possível, a médio/longo prazo, ter uma floresta sustentável?
PSR - Possível é. Não temos outra solução, porque grande parte dos solos do nosso país não comportam outra coisa a não ser a floresta. E a alternativa que temos é entre floresta e mato. Está na altura de, politicamente, as pessoas se aperceberem dessa situação e de, de uma vez por todas, acabarem com os planeamentos sucessivos e passarem a criar e a cuidar da floresta.
CP - A floresta ocupa 38 % do território de Portugal continental. Olhando para o mapa, quais são as regiões onde ela é mais sustentável e onde há mais preocupação em termos de rendimento?
PSR - As zonas mais devastadas ultimamente têm sido também as mais produtivas. Temos de ter claramente dois tipos de floresta: uma que seja produtiva a curto prazo e que permita gerar uma receita que ajude noutros projectos. Refiro-me a regiões que se situam mais próximo do Litoral, em termos de produção de eucalipto e da madeira de pinheiro bravo. Por outro lado, o Interior abrange zonas menos produtivas, onde podemos apostar num outro tipo de floresta, a mais longo prazo. È claro que no caso do sobreiro a situação é bastante diferente.
Incêndios
CP - O abandono dos territórios e o envelhecimento populacional são também factores influenciadores dessa situação?
PSR - A sensação que temos é que as populações, à medida que se vai abandonando a floresta, vão igualmente deixando as regiões onde esta predomina, por falta de trabalho. Por exemplo, o ano de 2003 foi dos piores em termos de incêndios florestais. Existe muita madeira de 2003 queimada que ainda não foi retirada. Isto revela o comportamento que as pessoas têm perante o sector florestal. Mas, se nestas zonas não vive ninguém e não há trabalho, as pessoas vão-se igualmente afastando.
CP - Aí o Estado não devia ter um papel determinante?
PSR - Aí o Estado deveria ter um papel de liderança e de reencontro de vontades. Ninguém pede subsídios ao Estado, apenas que tome uma posição forte de liderança naquilo que são os interesses do País, e que passa por ter mais e melhor floresta. Por exemplo, há três anos houve uma procura grande de madeira por parte de empresas estrangeiras para a produção de Biomassa.
CP - Falando do território, como está o levantamento de cadastro das propriedades, não só do Estado como de particulares?
PSR - O problema não é o levantamento das áreas em si, mas sim as questões jurídicas associadas à posse da terra. Não basta chamar os proprietários, identificar as propriedades e fazer o levantamento das áreas. O que acontece é que muitas vezes os proprietários já não conhecem os limites dos seus terrenos e isso obriga a juntar todos os vizinhos para se definirem os limites reais, e isso não é fácil. Se o cadastro for efectuado sem ter isso em conta, os tribunais vão se encher de processos relacionados com as questões cadastrais, que atrasará o processo durante muitos mais anos. Quando se fala em fazer o cadastro, esta é a principal dificuldade. O principal desafio, hoje, está em arranjar uma metodologia simples que permita juntar toda a informação existente e encaminhá-la para um processo legal de decisão rápida.
CP - Em relação aos incêndios, o que tem falhado: a prevenção ou a falta de meios no combate?
PSR - Um dos problemas é a ausência de população nas zonas florestais. Antigamente, a população que vivia junto à floresta em conjunto com os guardas florestais faziam uma vigilância continua. Com o abandono das zonas florestais o problema adensou-se. Apesar disso a situação melhorou muito com a intervenção da GNR, porque é uma entidade respeitada e tem uma actuação local mais vincada. Há obviamente um desaproveitamento de meios. Não se compreende porque é que a prevenção e o combate aos incêndios são efectuados sem a ajuda das empresas florestais, que é quem melhor conhece a floresta, localmente. Por outro lado, as empresas florestais possuem meios, como as buldozzers ou as motosserras que podem ajudar no combate aos incêndios florestais mas são muito pouco utilizadas em Portugal. Não vemos esse tipo de estratégia, de aproveitamento dos recursos existentes.
CP - Qual é o grau de responsabilidade do Estado?
PSR - O Estado tem de assumir um papel de liderança na conciliação de vontades que vão desde a prevenção até à recuperação das áreas queimadas. O que se pede é que junte os diferentes agentes do sector e que procure organizar os interesses em torno de um objectivo comum, a preservação da floresta.
Ana Clara
cafeportugal.net
Café Portugal (CP) - 2011 é o Ano Internacional das Florestas. Qual a importância desta celebração e de que modo vê as preocupações nacionais sobre esta matéria?
Pedro Serra Ramos (PSR) – O país não tem dado a devida importância ao sector florestal, que aparece apenas quando surgem os incêndios. Isso tem muito a ver com o facto de a floresta ser um espaço que leva muito tempo a crescer e de vivermos ainda muito da floresta que nos foi deixada pelos nossos pais e avós. As pessoas não sentem uma necessidade em preservá-la. É fundamental não esquecer que este sector representa 3% em termos do PIB. Porém, o que temos vindo a assistir nos últimos anos é a uma degradação da floresta.
CP - Quais as causas que estão na origem dessa degradação?
PSR - Primeiro, como é expectável, os incêndios. Depois, as pragas, uma consequência esperada. Se temos uma floresta que está em equilíbrio e ela entra em desequilíbrio por causa dos incêndios é natural que os elementos que vivem nela, tentem procurar alimento nas outras florestas que estão ao lado e que permanecerão verdes. E, nessa medida, o aparecimento das pragas é uma consequência disso mesmo. Depois, também há alguma alteração no modo como se cuida da floresta que, entretanto, se alterou por falta de capacidade de investimento e devido às alterações climáticas.
CP - Estamos a falar de descuido?
PSR - Sim, mas a origem desse descuido tem a ver com a falta de capacidade das pessoas para investir. Ou seja, por um lado temos uma situação em que as áreas florestais foram deixadas por pais e avós às pessoas, que já não têm uma ligação muito directa com a floresta. Antigamente, recordo, as pessoas viviam junto à floresta e esta servia, muitas vezes, como fonte de rendimento. Actualmente isso não acontece. Muitas das pessoas que herdaram a sua floresta não sabem sequer onde ficam os seus terrenos. E isso faz com que não haja uma ligação afectiva com o espaço florestal. Por outro lado, as dificuldades financeiras que os países atravessam levam a que as pessoas não tenham dinheiro para investir. E aqui estamos a falar de valores muito altos. Limpar um hectare de floresta, por exemplo, pode custar mil euros.
CP - Isso é incomportável para muitos particulares.
PSR - Sim, mas um hectare de floresta, se reparar, não é nada, é praticamente a dimensão de um campo de futebol. Isto é incomportável e, sobretudo para as pessoas que não têm grandes capacidades, não é uma prioridade. Portanto, é difícil, hoje, mostrar às pessoas as mais-valias do investimento no seu espaço florestal.
CP - Estamos a falar de um problema de gestão?
PSR - Há um problema que o sector tem de resolver rapidamente: encontrar formas de financiamento. Há muitas pessoas que até se encontram disponíveis para investir. O problema é que não têm dinheiro nem formas de financiamento. Os quadros comunitários poderiam ter sido uma solução. Relativamente a este último pacote financeiro que recebemos, arrancou de forma muito má em termos de funcionamento e a verdade é que só agora é que as pessoas estão a começar a candidatar-se às linhas de apoio. Apresentando os projectos agora, quando muito, serão colocados em execução só no próximo ano. Este último quadro comunitário tem muito pouca taxa de execução, pela dificuldade burocrática que teve no início e que levou a que as pessoas, no fundo, se desmotivassem face ao investimento florestal. Há uma outra maneira disponível para financiar a floresta.
CP - Está a falar de formas alternativas de exploração económica da floresta?
PSR - A floresta produz bens de que todos usufruímos e que até hoje não têm sido pagos e cuja cobrança é inevitável e este conceito é cada vez mais falado ao nível europeu. Ou seja, está na altura de avançar com o princípio do utilizador-pagador e das pessoas pagarem por esses serviços. O que acontece em Portugal é que isso já acontece sem que os contribuintes tenham consciência disso.
Ou seja, cada vez que é atestado um depósito de combustível é cobrado um imposto verde que foi criado, e que vai para o conhecido Fundo Florestal Permanente (FFP). O FFP foi criado para resolver precisamente este problema da dificuldade de financiamento do sector.
CP - E como avalia a implementação do FFP?
PSR - A gestão do FFP tem corrido muito mal. Não no sentido de obter a receita porque ela ronda os 30 milhões de euros por ano e nesse aspecto tem funcionado. Mas em termos da sua utilização, não tem funcionado. O FFP, que deveria ser utilizado directamente na floresta, está a ser usado para todo o tipo de coisas, associadas ao sector, menos para a floresta directamente.
CP - Em que é que o FFP tem sido usado?
PSR - O FFP existe há seis anos. Começou a falar-se dele quando as pessoas perceberam que não estava a ser usado na floresta directamente. Ou melhor está a ser usado no sector florestal mas não na floresta. O FFP tem sido utilizado numa série de actividades desde a investigação, no apoio as estruturas organizativas, no planeamento e na publicidade em torno da floresta por causa da questão dos incêndios. Ora, o sector florestal tem actualmente um problema grave - é que o corte de madeira efectuado anualmente é muito superior ao crescimento anual da floresta portuguesa. Assim, se não focamos a capacidade de investimento existente na reposição do equilíbrio entre o que se corta e o crescimento florestal vamos ter graves problemas.
CP - Isso é um perigo.
PSR - Vamos chegar a uma situação de insustentabilidade e a um ponto em que queremos floresta e não a temos e não conseguimos repor o stock florestal de um dia para o outro.
CP - A cortiça, por exemplo, é dos produtos que mais exportamos. Porque não se aposta mais neste produto?
PSR - Penso que tem tudo a ver com a grande dificuldade de investimento. Como existe pouco dinheiro disponível cada organização olha para os seus interesses em vez de olhar para o interesse comum, a floresta e a árvore. O diagnóstico do sector florestal português foi feito no final da década passada (1999/2000), o assunto foi amplamente discutido e originou o chamado Plano de Sustentabilidade da Floresta Portuguesa.
CP - E o que aconteceu a esse Plano?
PSR - Ficou guardado numa gaveta. Criou-se tudo e para cada uma das fileiras florestais foram definidas metas e objectivos. Foi feito o retrato daquilo que existia e foram delineados os vários passos que deveriam ser seguidos para mantermos a sustentabilidade da floresta portuguesa. Esse Plano não passou da teoria. E cada vez que politicamente entra um Governo em funções, fazem-se novos planos e estratégias, perde-se mais tempo e gasta-se o dinheiro disponível.
CP - Sendo 2011 o Ano Internacional das Florestas, esta realidade pode ou não despertar consciências?
PSR - Pode, através da persistência. Neste momento isso passa por encontrar uma forma de financiar o sector. Se tivéssemos uma forma de financiar o sector, conseguíamos convencer os produtores florestais a investir mais.
CP - Como têm passado essa mensagem junto do poder político, por exemplo?
PSR - Cada vez que falamos no FFP para ser utilizado directamente na floresta o poder político ri-se e diz: «coloquem-se na fila porque há mais gente à espera». E esta não pode ser a resposta e muito menos relegar para segundo plano aquilo que é realmente importante. Estamos cansados de planeamento e de estruturação, sobretudo quando este não tem qualquer efeito prático.
CP - Será possível, a médio/longo prazo, ter uma floresta sustentável?
PSR - Possível é. Não temos outra solução, porque grande parte dos solos do nosso país não comportam outra coisa a não ser a floresta. E a alternativa que temos é entre floresta e mato. Está na altura de, politicamente, as pessoas se aperceberem dessa situação e de, de uma vez por todas, acabarem com os planeamentos sucessivos e passarem a criar e a cuidar da floresta.
CP - A floresta ocupa 38 % do território de Portugal continental. Olhando para o mapa, quais são as regiões onde ela é mais sustentável e onde há mais preocupação em termos de rendimento?
PSR - As zonas mais devastadas ultimamente têm sido também as mais produtivas. Temos de ter claramente dois tipos de floresta: uma que seja produtiva a curto prazo e que permita gerar uma receita que ajude noutros projectos. Refiro-me a regiões que se situam mais próximo do Litoral, em termos de produção de eucalipto e da madeira de pinheiro bravo. Por outro lado, o Interior abrange zonas menos produtivas, onde podemos apostar num outro tipo de floresta, a mais longo prazo. È claro que no caso do sobreiro a situação é bastante diferente.
Incêndios
CP - O abandono dos territórios e o envelhecimento populacional são também factores influenciadores dessa situação?
PSR - A sensação que temos é que as populações, à medida que se vai abandonando a floresta, vão igualmente deixando as regiões onde esta predomina, por falta de trabalho. Por exemplo, o ano de 2003 foi dos piores em termos de incêndios florestais. Existe muita madeira de 2003 queimada que ainda não foi retirada. Isto revela o comportamento que as pessoas têm perante o sector florestal. Mas, se nestas zonas não vive ninguém e não há trabalho, as pessoas vão-se igualmente afastando.
CP - Aí o Estado não devia ter um papel determinante?
PSR - Aí o Estado deveria ter um papel de liderança e de reencontro de vontades. Ninguém pede subsídios ao Estado, apenas que tome uma posição forte de liderança naquilo que são os interesses do País, e que passa por ter mais e melhor floresta. Por exemplo, há três anos houve uma procura grande de madeira por parte de empresas estrangeiras para a produção de Biomassa.
CP - Falando do território, como está o levantamento de cadastro das propriedades, não só do Estado como de particulares?
PSR - O problema não é o levantamento das áreas em si, mas sim as questões jurídicas associadas à posse da terra. Não basta chamar os proprietários, identificar as propriedades e fazer o levantamento das áreas. O que acontece é que muitas vezes os proprietários já não conhecem os limites dos seus terrenos e isso obriga a juntar todos os vizinhos para se definirem os limites reais, e isso não é fácil. Se o cadastro for efectuado sem ter isso em conta, os tribunais vão se encher de processos relacionados com as questões cadastrais, que atrasará o processo durante muitos mais anos. Quando se fala em fazer o cadastro, esta é a principal dificuldade. O principal desafio, hoje, está em arranjar uma metodologia simples que permita juntar toda a informação existente e encaminhá-la para um processo legal de decisão rápida.
CP - Em relação aos incêndios, o que tem falhado: a prevenção ou a falta de meios no combate?
PSR - Um dos problemas é a ausência de população nas zonas florestais. Antigamente, a população que vivia junto à floresta em conjunto com os guardas florestais faziam uma vigilância continua. Com o abandono das zonas florestais o problema adensou-se. Apesar disso a situação melhorou muito com a intervenção da GNR, porque é uma entidade respeitada e tem uma actuação local mais vincada. Há obviamente um desaproveitamento de meios. Não se compreende porque é que a prevenção e o combate aos incêndios são efectuados sem a ajuda das empresas florestais, que é quem melhor conhece a floresta, localmente. Por outro lado, as empresas florestais possuem meios, como as buldozzers ou as motosserras que podem ajudar no combate aos incêndios florestais mas são muito pouco utilizadas em Portugal. Não vemos esse tipo de estratégia, de aproveitamento dos recursos existentes.
CP - Qual é o grau de responsabilidade do Estado?
PSR - O Estado tem de assumir um papel de liderança na conciliação de vontades que vão desde a prevenção até à recuperação das áreas queimadas. O que se pede é que junte os diferentes agentes do sector e que procure organizar os interesses em torno de um objectivo comum, a preservação da floresta.
Ana Clara
cafeportugal.net
quarta-feira, 29 de junho de 2011
Fundo Florestal prestes a nascer em Vinhais
Em Vinhais pode vir a surgir o primeiro Fundo Florestal do país. Uma estratégia para tentar colmatar as graves dificuldades financeiras que atravessa a empresa Ecolignum - Madeiras Nobres de Vinhais.
As quotas da maioria das Juntas de Freguesia já foram compradas pela empresa TecVinhais, que em conjunto com o proprietário, Nuno Costa Gomes, detém 51 por cento da sociedade.
Nuno Costa Gomes procura, agora, viabilizar a Ecolignum, que está a funcionar há cerca de dois anos e meio.
“A Ecolignum atravessa dificuldades financeiras e económicas graves, existem dívidas avultadas, nomeadamente à Segurança Social e às Finanças. Estamos a fazer um plano de reestruturação da empresa que passa pelo saneamento económico e uma injecção de capital, que já aconteceu para as situações mais urgentes, mas o nosso interesse maior é fazer um plano estratégico que dê sustentabilidade à empresa a curto, médio e longo prazo”, explica Nuno Costa Gomes.
A estratégia passa agora pela entrada em Vinhais do primeiro Fundo Florestal criado no País.
O Fundo Floresta Atlântica gere património florestal e já fechou contrato com algumas juntas de freguesia do concelho de Vinhais.
O gestor do Fundo, António Nora, diz que agora pretende aumentar a área para gerir, através da celebração de novos contratos com autarquias e comissões de baldios.
“Em Vinhais já temos algumas áreas contratadas, que abrangem cerca de mil hectares.
O negócio florestal só faz sentido se houver alguma economia de escala, portanto o que pretendemos é aumentar a área. Era desejável que fizéssemos arrendamentos ou aquisições até cerca de 5 mil hectares, era esse o nosso objectivo”, adianta António Nora.
O Fundo prevê investir 2 milhões de euros nos próximos dois anos, mas o investimento poderá chegar aos 30 milhões de euros nos próximos 25 anos.
Caso esta entidade consiga gerir uma área florestal considerável, também poderão ser criados 200 postos de trabalho nos próximos três anos.
Para o projecto ter sucesso é necessário o envolvimento dos autarcas.
O presidente da Junta de Rebordelo, Francisco Cunha, representante das juntas de freguesia do concelho de Vinhais, garante que a maioria dos autarcas concordam arrendar a floresta ao Fundo Floresta Atlântica.
“É provável que seja muito rentável para as juntas e para o concelho, porque vão ser criados 200 postos de trabalho. Já estive a falar com algumas juntas e já concordaram.
Em Rebordelo temos pouca área florestal, mas entraremos em contacto com os agricultores e veremos no que vai dar isto”, afirma o autarca.
A madeira retirada da floresta gerida pelo Fundo será transformada e valorizada na Ecoligum.
Esta opção é mais rentável para a Floresta Atlântica, que poupa nas despesas com o transporte da madeira para o litoral.
A Câmara de Vinhais continua com uma quota de 14 por cento na Ecolignum.
A autarquia já abriu um concurso público para alienar a participação nesta empresa, mas continua à espera de propostas de investidores privados.
Escrito por Brigantia
As quotas da maioria das Juntas de Freguesia já foram compradas pela empresa TecVinhais, que em conjunto com o proprietário, Nuno Costa Gomes, detém 51 por cento da sociedade.
Nuno Costa Gomes procura, agora, viabilizar a Ecolignum, que está a funcionar há cerca de dois anos e meio.
“A Ecolignum atravessa dificuldades financeiras e económicas graves, existem dívidas avultadas, nomeadamente à Segurança Social e às Finanças. Estamos a fazer um plano de reestruturação da empresa que passa pelo saneamento económico e uma injecção de capital, que já aconteceu para as situações mais urgentes, mas o nosso interesse maior é fazer um plano estratégico que dê sustentabilidade à empresa a curto, médio e longo prazo”, explica Nuno Costa Gomes.
A estratégia passa agora pela entrada em Vinhais do primeiro Fundo Florestal criado no País.
O Fundo Floresta Atlântica gere património florestal e já fechou contrato com algumas juntas de freguesia do concelho de Vinhais.
O gestor do Fundo, António Nora, diz que agora pretende aumentar a área para gerir, através da celebração de novos contratos com autarquias e comissões de baldios.
“Em Vinhais já temos algumas áreas contratadas, que abrangem cerca de mil hectares.
O negócio florestal só faz sentido se houver alguma economia de escala, portanto o que pretendemos é aumentar a área. Era desejável que fizéssemos arrendamentos ou aquisições até cerca de 5 mil hectares, era esse o nosso objectivo”, adianta António Nora.
O Fundo prevê investir 2 milhões de euros nos próximos dois anos, mas o investimento poderá chegar aos 30 milhões de euros nos próximos 25 anos.
Caso esta entidade consiga gerir uma área florestal considerável, também poderão ser criados 200 postos de trabalho nos próximos três anos.
Para o projecto ter sucesso é necessário o envolvimento dos autarcas.
O presidente da Junta de Rebordelo, Francisco Cunha, representante das juntas de freguesia do concelho de Vinhais, garante que a maioria dos autarcas concordam arrendar a floresta ao Fundo Floresta Atlântica.
“É provável que seja muito rentável para as juntas e para o concelho, porque vão ser criados 200 postos de trabalho. Já estive a falar com algumas juntas e já concordaram.
Em Rebordelo temos pouca área florestal, mas entraremos em contacto com os agricultores e veremos no que vai dar isto”, afirma o autarca.
A madeira retirada da floresta gerida pelo Fundo será transformada e valorizada na Ecoligum.
Esta opção é mais rentável para a Floresta Atlântica, que poupa nas despesas com o transporte da madeira para o litoral.
A Câmara de Vinhais continua com uma quota de 14 por cento na Ecolignum.
A autarquia já abriu um concurso público para alienar a participação nesta empresa, mas continua à espera de propostas de investidores privados.
Escrito por Brigantia
Fundo do Baixo Sabor em risco
O fundo do Baixo Sabor pode estar em risco para os quatro municípios transmontanos que vão beneficiar das verbas que este instrumento vai disponibilizar, como contrapartida pela construção da barragem. Recentemente a Associação Nacional de Município negociou com o Governo e com a EDP a actualização das rendas, situação que não está a agradar aos autarcas locais abrangidos pois entendem que isso vai alterar aquilo que ficou entre o Instituto de Conservação da Natureza e da Biodiversidade (ICNB) e a Associação de Municípios do Baixo Sabor como refere o presidente da câmara de Macedo de Cavaleiros.“Por força de algumas alterações legislativas que estão a tentar introduzir fica posto em causa, generalizando e nivelando por baixo todos os empreendimentos desse tipo e pondo em causa todo um trabalho de defesa do ambiente” refere.Beraldino Pinto explica ainda que a intenção é trocar o fundo de compensação ambiental pelo pagamento de uma renda de ocupação de terrenos, como acontece com as barragens de Picote, em Miranda do Douro, e Bemposta, em Mogadouro.“A substituição de um fundo, que foi criado por força de uma declaração de impacte ambiental, por uma renda de ocupação de área inundada penso que não faz qualquer sentido e espero que essa proposta não vá para a frente” afirma.
Alfândega da Fé, Macedo de Cavaleiros, Mogadouro e Torre de Moncorvo são os municípios afectados pela albufeira da barragem do Sabor e que podem deixar de receber a contra-partida financeira com vista à preservação ambiental, que estava prevista para 75 anos, período de exploração hidroeléctrica do empreendimento.
Escrito por CIR
Alfândega da Fé, Macedo de Cavaleiros, Mogadouro e Torre de Moncorvo são os municípios afectados pela albufeira da barragem do Sabor e que podem deixar de receber a contra-partida financeira com vista à preservação ambiental, que estava prevista para 75 anos, período de exploração hidroeléctrica do empreendimento.
Escrito por CIR
Arte sem fronteiras - Miranda do Douro
Exposição internacional reúne cerca de três dezenas de artistas de vários países
O concelho de Miranda do Douro vai receber entre 9 e 17 de Julho o projecto “Arte sem Fronteiras”. Trata-se de um evento proposto pela Associação Internacional de Artistas com várias filiais pelo mundo e tem como finalidade levar a cultura às populações com custos reduzidos, no sentido de promover o país, as regiões, os usos, os costumes e tradições do nosso povo e a permuta de conhecimento de várias escolas entre artistas. Além da possibilidade de ver uma exposição de cerca de 30 artistas oriundos um pouco de todo o mundo e reconhecidos nacional e internacionalmente, o público e a população têm a oportunidade de participar em Workshops e ter um contacto directo com os artistas. Estes para além da sua arte, trazem também experiências e vão viver experiências no concelho de Miranda do Douro, de forma a transmiti-las mais tarde, no seu país de origem.
in:mensageironoticias.pt
O concelho de Miranda do Douro vai receber entre 9 e 17 de Julho o projecto “Arte sem Fronteiras”. Trata-se de um evento proposto pela Associação Internacional de Artistas com várias filiais pelo mundo e tem como finalidade levar a cultura às populações com custos reduzidos, no sentido de promover o país, as regiões, os usos, os costumes e tradições do nosso povo e a permuta de conhecimento de várias escolas entre artistas. Além da possibilidade de ver uma exposição de cerca de 30 artistas oriundos um pouco de todo o mundo e reconhecidos nacional e internacionalmente, o público e a população têm a oportunidade de participar em Workshops e ter um contacto directo com os artistas. Estes para além da sua arte, trazem também experiências e vão viver experiências no concelho de Miranda do Douro, de forma a transmiti-las mais tarde, no seu país de origem.
in:mensageironoticias.pt
terça-feira, 28 de junho de 2011
MARCHA PELA IGUALDADE - Sexta-feira, 1 de Julho · 14:00 - 17:00
A equipa do Projeto Convergências irá organizar uma atividade no âmbito do IV PLANO NACIONAL PARA A IGUALDADE, GÉNERO, CIDADANIA E NÃO DISCRIMINAÇÃO, 2011-2013. Ação para a qual convida a comunidade de Bragança, estabelecimentos de ensino, associações, empresas públicas e privadas, entre outras organizações.
O ponto de encontro está marcado na Praça Cavaleiro Ferreira (junto ao chafariz) em seguida marcharemos todo/as junto/as a...té à Praça da Sé onde faremos uma paragem, e continuaremos pela rua Combatente da Grande Guerra (rua direita), onde finalizaremos a marcha pela igualdade.
Esta ação tem como objetivo despertar para as desigualdades, ainda existentes entre homens e mulheres, nas esferas públicas e privadas, alertando para a importância de valores como a igualdade, solidariedade e justiça, liberdade e paz.
A expetativa é que esta ação tenha impacto na comunidade em geral e nos media, dando assim grande visibilidade à questão da Igualdade de Género. Esta é também uma ação que permite que a comunidade geral manifeste a sua responsabilidade social alertando para fenómenos sociais que parecem invisíveis mas que têm grande impacto nas vítimas e na sociedade em geral.
VISTA UMA T-SHIRT BRANCA E JUNTE-SE A NÓS ...No dia 1 de Julho pelas 14h00 na Praça Cavaleiro Ferreira (junto ao chafariz)
QUEREMOS UM FUTURO COM IGUALDADE !
O ponto de encontro está marcado na Praça Cavaleiro Ferreira (junto ao chafariz) em seguida marcharemos todo/as junto/as a...té à Praça da Sé onde faremos uma paragem, e continuaremos pela rua Combatente da Grande Guerra (rua direita), onde finalizaremos a marcha pela igualdade.
Esta ação tem como objetivo despertar para as desigualdades, ainda existentes entre homens e mulheres, nas esferas públicas e privadas, alertando para a importância de valores como a igualdade, solidariedade e justiça, liberdade e paz.
A expetativa é que esta ação tenha impacto na comunidade em geral e nos media, dando assim grande visibilidade à questão da Igualdade de Género. Esta é também uma ação que permite que a comunidade geral manifeste a sua responsabilidade social alertando para fenómenos sociais que parecem invisíveis mas que têm grande impacto nas vítimas e na sociedade em geral.
VISTA UMA T-SHIRT BRANCA E JUNTE-SE A NÓS ...No dia 1 de Julho pelas 14h00 na Praça Cavaleiro Ferreira (junto ao chafariz)
QUEREMOS UM FUTURO COM IGUALDADE !
Transmontanos contra fim das Linhas
Podem vir a encerrar as linhas de comboio de Trás-os-Montes. Segundo um estudo elaborado à revelia da Refer por uma equipa dos Ministério das Finanças e das Obras Públicas do Governo PS e dado a conhecer pelo jornal Público, deveriam encerrar cerca de 800 quilómetros de linhas em todo o país, quase 200 delas em Trás-os-Montes, nomeadamente a linha do Douro, entre a Régua e o Pocinho, e as linhas do Corgo, Tâmega e Tua.
Mas Daniel Conde, do Movimento Cívico pela Linha do Tua e pelo da Linha do Corgo diz que o país está a ficar excessivamente dependente do transporte rodoviário e cada vez mais sujeito a uma ‘bomba relógio’. Lembra a paralisação de camionistas em 2008 para ilustrar alguns dos efeitos do desinvestimento na via-férrea. “É um modelo ineficiente. Apenas três por cento das mercadorias são transportadas por via ferroviária. Em 20 anos, perdemos milhões de passageiros, enquanto em Espanha ganharam-se 150 por cento”.
O líder do Movimento Cívico acusa a CP de ser a empresa pública que mais prejuízos acumulou, “mesmo depois de encerrar serviços para poupar”.
Para além disso, “com uma boa gestão, bons acessos e horários”, o caminho de ferro “tem futuro. “Não podemos continuar a ter, por exemplo, na linha do Douro, ligações entre a Régua e o Porto que não dão seguimento para os rápidos que seguem para Lisboa por meros três minutos. É um modelo ineficiente, despesista, estúpido e mesquinho”, sublinha.
Por sua vez, José Silvano, presidente da Câmara de Mirandela e da distrital de Bragança do PSD, sempre se bateu pelo caminho-de-ferro. Agora, com a mudança de Governo, promete continuar com a luta porque “a linha férrea é o futuro económico e turístico do país, sobretudo no Interior”, destaca. Estudos feitos pela autarquia apontam para um impacto positivo de um milhão de euros na economia da região.
in:jornalnordeste.com
Mas Daniel Conde, do Movimento Cívico pela Linha do Tua e pelo da Linha do Corgo diz que o país está a ficar excessivamente dependente do transporte rodoviário e cada vez mais sujeito a uma ‘bomba relógio’. Lembra a paralisação de camionistas em 2008 para ilustrar alguns dos efeitos do desinvestimento na via-férrea. “É um modelo ineficiente. Apenas três por cento das mercadorias são transportadas por via ferroviária. Em 20 anos, perdemos milhões de passageiros, enquanto em Espanha ganharam-se 150 por cento”.
O líder do Movimento Cívico acusa a CP de ser a empresa pública que mais prejuízos acumulou, “mesmo depois de encerrar serviços para poupar”.
Para além disso, “com uma boa gestão, bons acessos e horários”, o caminho de ferro “tem futuro. “Não podemos continuar a ter, por exemplo, na linha do Douro, ligações entre a Régua e o Porto que não dão seguimento para os rápidos que seguem para Lisboa por meros três minutos. É um modelo ineficiente, despesista, estúpido e mesquinho”, sublinha.
Por sua vez, José Silvano, presidente da Câmara de Mirandela e da distrital de Bragança do PSD, sempre se bateu pelo caminho-de-ferro. Agora, com a mudança de Governo, promete continuar com a luta porque “a linha férrea é o futuro económico e turístico do país, sobretudo no Interior”, destaca. Estudos feitos pela autarquia apontam para um impacto positivo de um milhão de euros na economia da região.
in:jornalnordeste.com
Voluntariado - Bragança
Finalidade
O Banco de Voluntariado de Bragança tem a finalidade de difundir, promover e dinamizar as relações entre o voluntariado do concelho e as instituições e entidades interessadas. A Câmara Municipal de Bragança pretende que os cidadãos tenham a oportunidade de participar em actividades sociais/comunitárias e projectos das diferentes instituições/entidades, promovendo ao mesmo tempo a cidadania e a consciência colectiva dos problemas sociais mais importantes no concelho. Mediando as partes interessadas, a CMB procurará apoiar os Voluntários e as Instituições, segundo os diferentes interesses, possibilidades, capacidades e disponibilidades.
Objectivos
Valorizar e promover o Voluntariado;
Conciliar a oferta e procura de Voluntariado;
Sensibilizar os cidadãos e as instituições para o Voluntariado;
Divulgar projectos e oportunidades de Voluntariado;
Contribuir para o aprofundamento do conhecimento sobre Voluntariado
Competências
Em termos concretos, propõe-se:
Aceitar a candidatura de pessoas interessadas em participar em projectos de Voluntariado assim como receber solicitações de voluntários por parte de instituições promotoras de programas/ projectos de Voluntariado;
Encaminhar os voluntários para instituições promotoras de programas/ projectos de Voluntariado;
Acompanhar a inserção dos voluntários nas instituições promotoras de programas/ projectos de Voluntariado;
Promover formação estruturada e contínua a pessoas que desenvolvem ou pretendem desenvolver trabalho voluntário;
Desenvolver projectos de Voluntariado;
Disponibilizar informação e documentação sobre a temática Voluntariado
Destinatários
Aos voluntários, independentemente da idade, sexo ou convicções, que pretendam oferecer a sua disponibilidade para participar em projectos de voluntariado no concelho de Bragança, integrar acções de formação nesta área, aprofundar o seu conhecimento sobre este tema e informar-se sobre as iniciativas de voluntariado desenvolvidas pelo Banco ou por outras entidades.
Às organizações, públicas ou privadas, sem fins lucrativos, que promovem ou pretendam promover projectos e programas de voluntariado no Concelho de Bragança.
A todas as pessoas interessadas sobre o tema voluntariado que queiram recolher informação e documentação sobre o mesmo; e conhecer ou integrar as actividades desenvolvidas pelo Banco.
Inscrição Online
ORGANIZAÇÕES (clica aqui)
VOLUNTÁRIOS (clica aqui)
Para informações adicionais, por favor contacte:
Telef.: 273 300 840
E-mail: bvoluntariado@cm-braganca.pt
O Banco de Voluntariado de Bragança tem a finalidade de difundir, promover e dinamizar as relações entre o voluntariado do concelho e as instituições e entidades interessadas. A Câmara Municipal de Bragança pretende que os cidadãos tenham a oportunidade de participar em actividades sociais/comunitárias e projectos das diferentes instituições/entidades, promovendo ao mesmo tempo a cidadania e a consciência colectiva dos problemas sociais mais importantes no concelho. Mediando as partes interessadas, a CMB procurará apoiar os Voluntários e as Instituições, segundo os diferentes interesses, possibilidades, capacidades e disponibilidades.
Objectivos
Valorizar e promover o Voluntariado;
Conciliar a oferta e procura de Voluntariado;
Sensibilizar os cidadãos e as instituições para o Voluntariado;
Divulgar projectos e oportunidades de Voluntariado;
Contribuir para o aprofundamento do conhecimento sobre Voluntariado
Competências
Em termos concretos, propõe-se:
Aceitar a candidatura de pessoas interessadas em participar em projectos de Voluntariado assim como receber solicitações de voluntários por parte de instituições promotoras de programas/ projectos de Voluntariado;
Encaminhar os voluntários para instituições promotoras de programas/ projectos de Voluntariado;
Acompanhar a inserção dos voluntários nas instituições promotoras de programas/ projectos de Voluntariado;
Promover formação estruturada e contínua a pessoas que desenvolvem ou pretendem desenvolver trabalho voluntário;
Desenvolver projectos de Voluntariado;
Disponibilizar informação e documentação sobre a temática Voluntariado
Destinatários
Aos voluntários, independentemente da idade, sexo ou convicções, que pretendam oferecer a sua disponibilidade para participar em projectos de voluntariado no concelho de Bragança, integrar acções de formação nesta área, aprofundar o seu conhecimento sobre este tema e informar-se sobre as iniciativas de voluntariado desenvolvidas pelo Banco ou por outras entidades.
Às organizações, públicas ou privadas, sem fins lucrativos, que promovem ou pretendam promover projectos e programas de voluntariado no Concelho de Bragança.
A todas as pessoas interessadas sobre o tema voluntariado que queiram recolher informação e documentação sobre o mesmo; e conhecer ou integrar as actividades desenvolvidas pelo Banco.
Inscrição Online
ORGANIZAÇÕES (clica aqui)
VOLUNTÁRIOS (clica aqui)
Para informações adicionais, por favor contacte:
Telef.: 273 300 840
E-mail: bvoluntariado@cm-braganca.pt
EDP avança hoje com projecto para incentivar novas famílias em Trás-os-Montes
A EDP, os Novos Povoadores e a Câmara de Alfândega da Fé vão avançar hoje com um projecto piloto para incentivar a instalação de novas famílias naquele concelho transmontano.
Segundo disse hoje à Lusa, a directora da Fundação EDP, Isabel Marques, esta iniciativa assenta num projecto piloto que está a ser instalado na região do Baixo Sabor, onde se encontra em fase de construção um grande empreendimento hidroeléctrico.
«O projecto tem por objectivo atrair casais que pretendam construir uma nova vida nesta região, que tem perdido população, e acreditamos que há cada vez mais pessoas que pretendem mudar a sua vida para o interior do país», acrescentou a responsável.
A criação de condições para reter jovens e atrair novos residentes figura no topo da lista de preocupações, a par do emprego e do desenvolvimento turístico da região.
«O Baixo Sabor tem sido uma região piloto em vários projectos socais, económicas ou culturais promovidos pela EDP, dado o facto de haver uma barragem que está em fase adiantada de construção», sublinhou Isabel Marques.
As famílias candidatas à mudança, deverão obedecer a alguns critérios que garantam «o sucesso do novo projecto de vida».
«Para atender a esta necessidade, a EDP recorre à experiência dos Novos Povoadores, entidade, que tem vindo a desenvolver o conceito de repovoamento das zonas mais despovoadas do país, através da migração de famílias urbanas, a qual vai apoiar a mediação às famílias em mudança, em estreita articulação com a Câmara», concluiu a responsável pela Fundação EDP.
A iniciativa, após formalizada, visa atender a uma das principais expectativas detectadas pela EDP nos inquéritos de opinião realizados nas regiões abrangidas pelas novas barragens tendo em vista área do território menos povoadas.
O projecto será financiado pela EDP, no âmbito do conjunto de iniciativas de promoção de desenvolvimento nos concelhos onde desenvolve novos investimentos hídricos.
Lusa/ SOL
Segundo disse hoje à Lusa, a directora da Fundação EDP, Isabel Marques, esta iniciativa assenta num projecto piloto que está a ser instalado na região do Baixo Sabor, onde se encontra em fase de construção um grande empreendimento hidroeléctrico.
«O projecto tem por objectivo atrair casais que pretendam construir uma nova vida nesta região, que tem perdido população, e acreditamos que há cada vez mais pessoas que pretendem mudar a sua vida para o interior do país», acrescentou a responsável.
A criação de condições para reter jovens e atrair novos residentes figura no topo da lista de preocupações, a par do emprego e do desenvolvimento turístico da região.
«O Baixo Sabor tem sido uma região piloto em vários projectos socais, económicas ou culturais promovidos pela EDP, dado o facto de haver uma barragem que está em fase adiantada de construção», sublinhou Isabel Marques.
As famílias candidatas à mudança, deverão obedecer a alguns critérios que garantam «o sucesso do novo projecto de vida».
«Para atender a esta necessidade, a EDP recorre à experiência dos Novos Povoadores, entidade, que tem vindo a desenvolver o conceito de repovoamento das zonas mais despovoadas do país, através da migração de famílias urbanas, a qual vai apoiar a mediação às famílias em mudança, em estreita articulação com a Câmara», concluiu a responsável pela Fundação EDP.
A iniciativa, após formalizada, visa atender a uma das principais expectativas detectadas pela EDP nos inquéritos de opinião realizados nas regiões abrangidas pelas novas barragens tendo em vista área do território menos povoadas.
O projecto será financiado pela EDP, no âmbito do conjunto de iniciativas de promoção de desenvolvimento nos concelhos onde desenvolve novos investimentos hídricos.
Lusa/ SOL
segunda-feira, 27 de junho de 2011
Ruinas do Mosteiro de Castro de Avelãs
O mosteiro medieval de Castro de Avelãs, de invulgar arquitectura “hispânica”, merece uma atenta e prolongada visita, tanto mais que se localiza a escassa meia dezena de quilómetros de Bragança, beneficiando ainda de óptima acessibilidade através do IP4 e EN 103.
O Mosteiro de S. Salvador de Castro de Avelãs, instituição religiosa mais poderosa de Trás-os-Montes durante o período medieval, viria a ser extinto pelos meados do século XVI (1545-1546). Do complexo monacal primitivo só resta hoje, de genuína arquitectura românica cluniacense, a cabeceira do templo, de remate semi-circular e revestimento em tijolo, com manifesta influência inspiradora da arte leonesa de Sahagun. A planta original incluiria três naves, apenas restando actualmente a central. No interior de um dos absidíolos, agora aberto no exterior, abriga-se um arcaz tumular granítico.
A tradição popular diz ser este pertencente a um poderoso cavaleiro – o Conde de Ariães, personagem de tenebrosa e lendária história. Nesta freguesia, que tem por orago S. Bento, regista-se ainda um outro templo – a Igreja de Fontes – bem assim como uma interessante ponte de alvenaria, dita do Conde de Ariães.
O Mosteiro de S. Salvador de Castro de Avelãs, instituição religiosa mais poderosa de Trás-os-Montes durante o período medieval, viria a ser extinto pelos meados do século XVI (1545-1546). Do complexo monacal primitivo só resta hoje, de genuína arquitectura românica cluniacense, a cabeceira do templo, de remate semi-circular e revestimento em tijolo, com manifesta influência inspiradora da arte leonesa de Sahagun. A planta original incluiria três naves, apenas restando actualmente a central. No interior de um dos absidíolos, agora aberto no exterior, abriga-se um arcaz tumular granítico.
A tradição popular diz ser este pertencente a um poderoso cavaleiro – o Conde de Ariães, personagem de tenebrosa e lendária história. Nesta freguesia, que tem por orago S. Bento, regista-se ainda um outro templo – a Igreja de Fontes – bem assim como uma interessante ponte de alvenaria, dita do Conde de Ariães.
Primeiro Contacto de uma Tribo da Papúa Nova Guiné com o Homem Branco
Foi em 1976 que os membros da tribo dos Toulambis, residentes na paradisíaca ilha de Papúa Nova Guiné, contactaram pela primeira vez com o “homem branco”, subespécie considerada por muitos como a mais efectiva ameaça ao planeta terra. Os rostos de assombro e emoção por parte dos Toulambis são comovedores, e a memorável cena de algum modo despoleta dezenas de reflexões à volta de conceitos como sejam os da civilização, desenvolvimento, conquista, todos eles comprometedores da retórica ocidental e que podem ser responsáveis, em boa medida, pela actual decadência social.
TRACTORES AGRÍCOLAS - Conduza com Segurança
A Autoridade Nacional de Segurança Rodoviária (ANSR) lançou uma campanha de prevenção e segurança rodoviária dedicada aos tractores agrícolas, a segunda de uma série de seis campanhas previstas para o presente ano, que contam com a colaboração de cartoonistas e ilustradores portugueses.
Geração à rasca foi a minha...!
«Geração à rasca foi a minha.
Foi uma geração que viveu num país vazio de gente por causa da emigração e da guerra colonial, onde era proibido ser diferente ou pensar que todos deveriam ter acesso à saúde, ao ensino e à segurança social.
Uma Geração de opiniões censuradas a lápis azul. De mulheres com poucos direitos, mas de homens cheios deles. De grávidas sem assistência e de crianças analfabetas. A mortalidade infantil era de 44,9%. Hoje é de 3,6%.
Que viveu numa terra em que o casamento era para toda a vida, o divórcio proibido, as uniões de facto eram pecado e filhos sem casar uma desonra.
Hoje, o conceito de família mudou. Há casados, recasados, em união de facto, casais homossexuais, monoparentais, sem filhos por opção, mães solteiras porque sim, pais biológicos, etc.
A mulher era, perante a lei, inferior. A sociedade subjugava-a ao marido, o chefe de família, que tinha o direito de não autorizar a sua saída do país e que podia, sem permissão, ler-lhe a correspondência.
Os televisores daquele tempo eram a preto e branco, uns autênticos caixotes, em que se colocava um filtro colorido, no sentido de obter melhores imagens, mas apenas se conseguia transformar os locutores em "Zombies" desfocados.
Hoje, existem plasmas, LCD ou Tv com LEDs, que custam uma pipa de massa.
Na rádio ouviam-se apenas 3 estações, a oficial Emissora Nacional, a católica Rádio Renascença e o inovador Rádio Clube Português. Não tínhamos os Gato Fedorento, só ouvíamos Os Parodiantes de Lisboa, os humoristas da época.
Havia serões para trabalhadores todos os sábados, na Emissora Nacional, agora há o Toni Carreira e o filho que enchem pavilhões quase todos os meses. A Lady Gaga vem cantar a Portugal e o Pavilhão Atlântico fica a abarrotar. Os U2, deram um concerto em Coimbra em 2010, e UM ANO antes os bilhetes esgotaram.
As Docas eram para estivadores, e o Cais do Sodré para marujos. Hoje são para o JET 7, que consome diariamente grandes quantidades de bebidas, e não só...
O Bairro Alto, era para a malta ir às meninas, e para os boémios. Éramos a geração das tascas, do vinho tinto, das casas do fado e das boites de fama duvidosa. Discotecas eram lojas que vendiam discos, como a Valentim de Carvalho, a Vadeca ou a Sasseti.
As Redes Sociais chamavam-se Aerogramas, cartas que na nossa juventude enviávamos lá da guerra aos pais, noivas, namoradas, madrinhas de guerra, ou amigos que estavam por cá.
Agora vivem na Internet, da socialização do Facebook, de SMS e E-Mails cheios de "k" e vazios de conteúdo.
As viagens Low-Cost na nossa Geração eram feitas em Fiat 600, ou então nas viagens para as antigas colónias para combater o "inimigo".
Quem não se lembra dos celebres Niassa, do Timor, do Quanza, do Índia entre outros, tenebrosos navios em que, quando embarcávamos, só tínhamos uma certeza... ...a viagem de ida.
Quer a viagem fosse para Angola, Moçambique ou Guiné, esses eram os nossos cruzeiros.
Ginásios? Só nas coletividades. Os SPAS chamavam-se Termas e só serviam doentes.
Coca-Cola e Pepsi, eram proibidas, o "Botas", como era conhecido o Salazar, não nos deixava beber esses líquidos. Bebíamos, laranjada, gasosa e pirolito.
Recordo que na minha geração o País, tal como as fotografias, era a preto e branco.
A minha geração sim, viveu à rasca. Quantas vezes o meu almoço era uma peça de fruta (quando havia), e a sopa que davam na escola. E, ao jantar, uma lata de conserva com umas batatas cozidas, dava para 5 pessoas.
Na escola, quando terminei o 7º ano do Liceu, recebi um beijo dos meus pais, o que me agradou imenso, pois não tinham mais nada para me dar. Hoje vão comemorar os fins dos cursos, para fora do país, em grupos organizados, para comemorar, tudo pago pelos paizinhos..
Têm brutos carros, Ipad's, Iphones, PC's, .... E tudo em quantidade. Pago pela geração que hoje tem a culpa de tudo!!!
Tiram cursos só para ter diploma. Só querem trabalhar começando por cima.
Afinal qual é a geração à rasca...???
(Da autoria de uma jovem de 71 anos (isso mesmo!)...
Uma Geração de opiniões censuradas a lápis azul. De mulheres com poucos direitos, mas de homens cheios deles. De grávidas sem assistência e de crianças analfabetas. A mortalidade infantil era de 44,9%. Hoje é de 3,6%.
Que viveu numa terra em que o casamento era para toda a vida, o divórcio proibido, as uniões de facto eram pecado e filhos sem casar uma desonra.
Hoje, o conceito de família mudou. Há casados, recasados, em união de facto, casais homossexuais, monoparentais, sem filhos por opção, mães solteiras porque sim, pais biológicos, etc.
A mulher era, perante a lei, inferior. A sociedade subjugava-a ao marido, o chefe de família, que tinha o direito de não autorizar a sua saída do país e que podia, sem permissão, ler-lhe a correspondência.
Os televisores daquele tempo eram a preto e branco, uns autênticos caixotes, em que se colocava um filtro colorido, no sentido de obter melhores imagens, mas apenas se conseguia transformar os locutores em "Zombies" desfocados.
Hoje, existem plasmas, LCD ou Tv com LEDs, que custam uma pipa de massa.
Na rádio ouviam-se apenas 3 estações, a oficial Emissora Nacional, a católica Rádio Renascença e o inovador Rádio Clube Português. Não tínhamos os Gato Fedorento, só ouvíamos Os Parodiantes de Lisboa, os humoristas da época.
Havia serões para trabalhadores todos os sábados, na Emissora Nacional, agora há o Toni Carreira e o filho que enchem pavilhões quase todos os meses. A Lady Gaga vem cantar a Portugal e o Pavilhão Atlântico fica a abarrotar. Os U2, deram um concerto em Coimbra em 2010, e UM ANO antes os bilhetes esgotaram.
As Docas eram para estivadores, e o Cais do Sodré para marujos. Hoje são para o JET 7, que consome diariamente grandes quantidades de bebidas, e não só...
O Bairro Alto, era para a malta ir às meninas, e para os boémios. Éramos a geração das tascas, do vinho tinto, das casas do fado e das boites de fama duvidosa. Discotecas eram lojas que vendiam discos, como a Valentim de Carvalho, a Vadeca ou a Sasseti.
As Redes Sociais chamavam-se Aerogramas, cartas que na nossa juventude enviávamos lá da guerra aos pais, noivas, namoradas, madrinhas de guerra, ou amigos que estavam por cá.
Agora vivem na Internet, da socialização do Facebook, de SMS e E-Mails cheios de "k" e vazios de conteúdo.
As viagens Low-Cost na nossa Geração eram feitas em Fiat 600, ou então nas viagens para as antigas colónias para combater o "inimigo".
Quem não se lembra dos celebres Niassa, do Timor, do Quanza, do Índia entre outros, tenebrosos navios em que, quando embarcávamos, só tínhamos uma certeza... ...a viagem de ida.
Quer a viagem fosse para Angola, Moçambique ou Guiné, esses eram os nossos cruzeiros.
Ginásios? Só nas coletividades. Os SPAS chamavam-se Termas e só serviam doentes.
Coca-Cola e Pepsi, eram proibidas, o "Botas", como era conhecido o Salazar, não nos deixava beber esses líquidos. Bebíamos, laranjada, gasosa e pirolito.
Recordo que na minha geração o País, tal como as fotografias, era a preto e branco.
A minha geração sim, viveu à rasca. Quantas vezes o meu almoço era uma peça de fruta (quando havia), e a sopa que davam na escola. E, ao jantar, uma lata de conserva com umas batatas cozidas, dava para 5 pessoas.
Na escola, quando terminei o 7º ano do Liceu, recebi um beijo dos meus pais, o que me agradou imenso, pois não tinham mais nada para me dar. Hoje vão comemorar os fins dos cursos, para fora do país, em grupos organizados, para comemorar, tudo pago pelos paizinhos..
Têm brutos carros, Ipad's, Iphones, PC's, .... E tudo em quantidade. Pago pela geração que hoje tem a culpa de tudo!!!
Tiram cursos só para ter diploma. Só querem trabalhar começando por cima.
Afinal qual é a geração à rasca...???
(Da autoria de uma jovem de 71 anos (isso mesmo!)...
AULP reúne em Bragança
Cerca de 400 académicos, oriundos da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa e de Macau, reuniram-se em Bragança, de 6 a 9 de Junho, para o XXI Encontro da Associação das Universidades de Língua Portuguesa (AULP), tendo como entidade de acolhimento o Instituto Politécnico e que contou com o apoio da Câmara Municipal de Bragança.
Sob a temática “Novas formas de cooperação: espaços de convergência nos países lusófonos”, a abertura oficial do evento decorreu no Teatro Municipal de Bragança, com a presença do Presidente da Câmara Municipal de Bragança, Eng.º António Jorge Nunes, do Ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Professor Mariano Gago, do Presidente do Conselho Coordenador dos Institutos Superiores Politécnicos (CCISP) e do Instituto Politécnico de Bragança, Professor Sobrinho Teixeira, do Professor Adriano Moreira, do Presidente da AULP e Reitor da Universidade de Minas Gerais, Professor Clélio Campolina, entre muitos outros.
Além das conferências e palestras, o XXI Encontro da AULP integrou, ainda, a atribuição da medalha de Ouro de Mérito do CCISP ao Presidente do Instituto de Macau, Professor Lei Heong Iok, numa cerimónia seguida da inauguração da exposição do pintor Mário Rocha, na Biblioteca Municipal de Bragança.
No último dia do evento, durante o qual foi eleito para presidir a AULP o Reitor da Universidade de Lúrio (Moçambique), Jorge Ferrão, decorreu, ainda, o lançamento do livro Comemorativo do XXI Encontro da AULP e do “Terra de Duas Línguas: Antologia de Autores Transmontanos”, no Centro de Arte Contemporânea Graça Morais.
in:cm-braganca.pt
Veja os vídeos do XXI Encontro da Associação das Universidades de Língua Portuguesa:
Sob a temática “Novas formas de cooperação: espaços de convergência nos países lusófonos”, a abertura oficial do evento decorreu no Teatro Municipal de Bragança, com a presença do Presidente da Câmara Municipal de Bragança, Eng.º António Jorge Nunes, do Ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Professor Mariano Gago, do Presidente do Conselho Coordenador dos Institutos Superiores Politécnicos (CCISP) e do Instituto Politécnico de Bragança, Professor Sobrinho Teixeira, do Professor Adriano Moreira, do Presidente da AULP e Reitor da Universidade de Minas Gerais, Professor Clélio Campolina, entre muitos outros.
Além das conferências e palestras, o XXI Encontro da AULP integrou, ainda, a atribuição da medalha de Ouro de Mérito do CCISP ao Presidente do Instituto de Macau, Professor Lei Heong Iok, numa cerimónia seguida da inauguração da exposição do pintor Mário Rocha, na Biblioteca Municipal de Bragança.
No último dia do evento, durante o qual foi eleito para presidir a AULP o Reitor da Universidade de Lúrio (Moçambique), Jorge Ferrão, decorreu, ainda, o lançamento do livro Comemorativo do XXI Encontro da AULP e do “Terra de Duas Línguas: Antologia de Autores Transmontanos”, no Centro de Arte Contemporânea Graça Morais.
in:cm-braganca.pt
Veja os vídeos do XXI Encontro da Associação das Universidades de Língua Portuguesa:
II Encontro Europeu da Castanha em Bragança
Mais de 40 instituições de toda a Europa, representadas por cerca de 250 especialistas e investigadores, marcaram presença no II Encontro Europeu da Castanha que decorreu em Bragança, nos dias 16 e 17 de Junho.
Trata-se de um evento organizado a pensar no futuro, uma vez que aborda uma temática de elevada relevância, já que “valoriza a castanha, que é um produto importante, podendo estimular a sua procura”, sublinhou o Presidente da Câmara Municipal de Bragança, Eng.º António Jorge Nunes, durante a sessão de abertura do II Encontro Europeu da Castanha, que decorreu na Escola Superior de Tecnologia de Bragança.
Já o Presidente do Instituto Politécnico de Bragança, Professor João Sobrinho Teixeira, mostrou-se satisfeito por Bragança acolher o evento, adiantando que “é necessário motivar mais investigadores para a temática da castanha”.
Durante o primeiro dia do II Encontro Europeu da Castanha, teve lugar, ainda, a celebração de um protocolo por parte da Rede Portuguesa da Castanha, constituída por 25 empresas e instituições ligadas ao sector, com vista à sua organização, desde a produção, à exportação e à transformação.
Organizado pelo Instituto Politécnico de Bragança, em parceria com a Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, a empresa Sortegel e a associação Arborea, este evento é mais uma prova da capacidade de bem receber da Cidade de Bragança que, só no último mês, acolhe eventos à escala europeia e mundial, como a I Feira Ibérica de Sustentabilidade Urbana e o XXI Encontro da Associação das Universidades de Língua Portuguesa, ou a 17.ª Conferência mundial da EARMA (de 22 a 24 de Junho), que trará mais de 200 gestores e administradores nas áreas da ciência e da investigação a Bragança.
in:cm-braganca.pt
Trata-se de um evento organizado a pensar no futuro, uma vez que aborda uma temática de elevada relevância, já que “valoriza a castanha, que é um produto importante, podendo estimular a sua procura”, sublinhou o Presidente da Câmara Municipal de Bragança, Eng.º António Jorge Nunes, durante a sessão de abertura do II Encontro Europeu da Castanha, que decorreu na Escola Superior de Tecnologia de Bragança.
Já o Presidente do Instituto Politécnico de Bragança, Professor João Sobrinho Teixeira, mostrou-se satisfeito por Bragança acolher o evento, adiantando que “é necessário motivar mais investigadores para a temática da castanha”.
Durante o primeiro dia do II Encontro Europeu da Castanha, teve lugar, ainda, a celebração de um protocolo por parte da Rede Portuguesa da Castanha, constituída por 25 empresas e instituições ligadas ao sector, com vista à sua organização, desde a produção, à exportação e à transformação.
Organizado pelo Instituto Politécnico de Bragança, em parceria com a Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, a empresa Sortegel e a associação Arborea, este evento é mais uma prova da capacidade de bem receber da Cidade de Bragança que, só no último mês, acolhe eventos à escala europeia e mundial, como a I Feira Ibérica de Sustentabilidade Urbana e o XXI Encontro da Associação das Universidades de Língua Portuguesa, ou a 17.ª Conferência mundial da EARMA (de 22 a 24 de Junho), que trará mais de 200 gestores e administradores nas áreas da ciência e da investigação a Bragança.
in:cm-braganca.pt
Já se rola na ciclovia de Bragança
Já foi inaugurada a primeira fase da ciclovia de Bragança. Com uma extensão de quatro quilómetros, este percurso circunda o Instituto Politécnico de Bragança e tem ligação à zona envolvente do rio Fervença. A estrutura destinada a passeios de bicicleta representa um investimento de cerca de 2 milhões e 800 mil euros, comparticipado por fundos comunitários.
Apesar da polémica em torno do valor avultado da obra, que viu mesmo chumbado em assembleia municipal um pedido de empréstimo, o presidente da Câmara de Bragança prefere enaltecer o contributo da ciclovia para a qualidade de vida dos brigantinos. Jorge Nunes garante mesmo que é um projecto que vai ter continuidade.“Para além desta ciclovia, à qual falta um pequeno troço de ligação ao centro Ciência Viva, temos já um outro troço em fase de construção e outro em fase de adjudicação. Este será um projecto para continuar”, garantiu Jorge Gomes, sublinhando que Bragança está “bastante avançada” neste aspecto “para a dimensão que a cidade tem”.A construção da ciclovia também permitiu vedar e embelezar o IPB. Sobrinho Teixeira mostra-se satisfeito com o resultado da parceria estabelecida com a Câmara de Bragança e acredita que esta obra vai contribuir para aumentar o número de alunos.“Torna-se muito mais aprazível aquilo que já era vulgar, que era circular à volta do IPB. E permite também uma interacção entre quem circunda e o próprio Instituto.”
A ciclovia foi inaugurada no dia do encerramento da 17ª Conferência do EARMA- Associação Europeia de Administradores e Gestores de Ciência, a quem foi dedicada uma escultura erguida junto à ponte do Loreto.
Escrito por Brigantia
Apesar da polémica em torno do valor avultado da obra, que viu mesmo chumbado em assembleia municipal um pedido de empréstimo, o presidente da Câmara de Bragança prefere enaltecer o contributo da ciclovia para a qualidade de vida dos brigantinos. Jorge Nunes garante mesmo que é um projecto que vai ter continuidade.“Para além desta ciclovia, à qual falta um pequeno troço de ligação ao centro Ciência Viva, temos já um outro troço em fase de construção e outro em fase de adjudicação. Este será um projecto para continuar”, garantiu Jorge Gomes, sublinhando que Bragança está “bastante avançada” neste aspecto “para a dimensão que a cidade tem”.A construção da ciclovia também permitiu vedar e embelezar o IPB. Sobrinho Teixeira mostra-se satisfeito com o resultado da parceria estabelecida com a Câmara de Bragança e acredita que esta obra vai contribuir para aumentar o número de alunos.“Torna-se muito mais aprazível aquilo que já era vulgar, que era circular à volta do IPB. E permite também uma interacção entre quem circunda e o próprio Instituto.”
A ciclovia foi inaugurada no dia do encerramento da 17ª Conferência do EARMA- Associação Europeia de Administradores e Gestores de Ciência, a quem foi dedicada uma escultura erguida junto à ponte do Loreto.
Escrito por Brigantia
Associação Lusófona de investigadores vai ser constituída amanhã em Bragança
Vai ser constituída amanhã, em Bragança, a Associação Lusófona e Internacional de Administradores de Ciência, que tem como objectivo a gestão e administração de ciência nos países em que o português é a língua materna.
José Mário Leite, director-adjunto do Instituto Gulbenkian de Ciência e membro do Conselho da EARMA- Associação Europeia de Administradores e Gestores em Ciência, realça a importância desta associação para os países lusófonos.
“Esta associação que vai ser criada no próximo sábado vai ser sobretudo uma espécie de ponta de lança dos países da lusofonia na Europa e também uma porta de intercâmbio entre os Estados Unidos da América e a América Latina, onde nós queremos arrastar países como Angola, Moçambique, S. Tomé e Príncipe, Cabo Verde e Timor”, salienta Mário Leite.
Esta associação vai integrar instituições ligadas à investigação em ciência de vários países. Portugal assume uma posição privilegiada nesta área e poderá ajudar outros países lusófonos a alcançarem uma posição de destaque ao nível da investigação internacional.
“Portugal beneficia de tudo, primeiro porque está integrado na Europa, tem muitos elementos na EARMA, tem uma ligação estreita com os Estados Unidos e sobretudo com a NCURA que é a grande associação dos gestores e administradores de ciência mundiais. Eles vão à frente em tudo, são mais de 2 mil enquanto nós na Europa andamos à volta dos 200. Por isso, todos os países lusófonos podem beneficiar imenso com esta ligação”, enaltece José Mário Leite.
Na cerimónia de constituição da Associação Lusófona e Internacional de Administradores de Ciência vão ser conhecidos os seus representantes. Apesar dos nomes ainda não estarem confirmados, a Brigantia sabe que esta associação vai integrar pessoas com ligações ao distrito de Bragança.
Brigantia, 2011-06-24
José Mário Leite, director-adjunto do Instituto Gulbenkian de Ciência e membro do Conselho da EARMA- Associação Europeia de Administradores e Gestores em Ciência, realça a importância desta associação para os países lusófonos.
“Esta associação que vai ser criada no próximo sábado vai ser sobretudo uma espécie de ponta de lança dos países da lusofonia na Europa e também uma porta de intercâmbio entre os Estados Unidos da América e a América Latina, onde nós queremos arrastar países como Angola, Moçambique, S. Tomé e Príncipe, Cabo Verde e Timor”, salienta Mário Leite.
Esta associação vai integrar instituições ligadas à investigação em ciência de vários países. Portugal assume uma posição privilegiada nesta área e poderá ajudar outros países lusófonos a alcançarem uma posição de destaque ao nível da investigação internacional.
“Portugal beneficia de tudo, primeiro porque está integrado na Europa, tem muitos elementos na EARMA, tem uma ligação estreita com os Estados Unidos e sobretudo com a NCURA que é a grande associação dos gestores e administradores de ciência mundiais. Eles vão à frente em tudo, são mais de 2 mil enquanto nós na Europa andamos à volta dos 200. Por isso, todos os países lusófonos podem beneficiar imenso com esta ligação”, enaltece José Mário Leite.
Na cerimónia de constituição da Associação Lusófona e Internacional de Administradores de Ciência vão ser conhecidos os seus representantes. Apesar dos nomes ainda não estarem confirmados, a Brigantia sabe que esta associação vai integrar pessoas com ligações ao distrito de Bragança.
Brigantia, 2011-06-24
domingo, 26 de junho de 2011
Graça Morais
Graça Morais nasceu em 1948, em Vieiro (Trás-os-Montes). Licencia-se em 1971 em pintura pela ESBAP. Em 1974 expõe pela primeira vez no Museu Alberto Sampaio. Em 1975 funda o grupo puzzle. Entre 1976 e 1978 vive em Paris como bolseira da Fundação Calouste Gulbenkian.
A pintura de Graça Morais é sobretudo uma procura de exprimir o Portugal rural que marcou a sua infância e que sempre encarnaram os seus desejos e receios. De traço forte onde é visível o fascínio por Chagal, Graça Morais cria um mundo de contrastes onde o figurativo é tratado com cuidado e mestria.
Contudo, no seu todo, é uma obra tão poética como agreste. Nem bucólica, nem saudosista, muito menos geradora de rupturas, a pintura de Graça Morais perde-se no tempo e na memória criando universos intimistas onde a realidade serve de suporte ao gesto criativo.
Talvez devido à sua fobia à exposição nunca conheceu o reconhecimento internacional de outros seus contemporâneos, o que é uma pena, pois que de todos os novos consagrados talvez seja a mais portuguesa.
Está representada em diversas colecções como: CAMJAP r11; Fundação Gulbenkian, Museu de Serralves, Museu de Arte Moderna de São Paulo, etc.
sábado, 25 de junho de 2011
E NADA VOLTOU A SER COMO ANTES...
No princípio dos anos 80, em Manchester, criava-se uma revolução tranquila. Em Lisboa, Miguel Esteves Cardoso escrevia, António Sérgio divulgava, na Rockhouse ouvia-se e os Sétima Legião nasciam.
LISBOA ERA DIFERENTE HÁ 20 ANOS.
LISBOA ERA DIFERENTE HÁ 20 ANOS.
Os circuitos, os ritmos, os locais. Mas também as pessoas. Criavam-se cumplicidades, secretas, a partir de consumos culturais. Fossem discos, filmes, livros ou... Manchester. Trocavam-se cassetes. Ouvia-se Joy Division, mas não se ouvia Donna Summer. Um círculo restrito ensaiava algo de novo. A música era um dos elementos de ligação, mas rapidamente transbordou para outros campos.
Na rádio ouvia-se o "Rolls Rock" de António Sérgio, à noite ia-se à Rockhouse e ao Frágil, nos gestos e nas roupas tentava-se ser como Ian McCulloch, nas garagens ensaiavam-se os acordes de uma pequena revolução na música moderna feita em Portugal, e no Rock Rendez Vouz (RRV) expunha-se ao vivo os resultados das experiências.
Directa ou indirectamente, o que sucedia em Manchester - e o legado pós-punk - marcava o que de mais estimulante acontecia na cidade. Na altura poucos sabiam; mas nada voltou a ser como antes.
ESTAR.
Rodrigo Leão, ex-Sétima Legião e Madredeus, actualmente com carreira a solo, recorda-se bem: "Coincidiu com o momento em que comecei a fazer música mais a sério. Éramos [Sétima Legião] putos quando gravámos, em 1982, o 'Glória'. Foi quando comecei a ouvir Joy Division, New Order ou Echo & The Bunnymen. Foi a última corrente musical que me despertou tanto interesse." Os ecos do que se passava em Inglaterra eram dados pelos textos de Miguel Esteves Cardoso (MEC) no "Sete", por artigos da imprensa musical da altura ("Música & Som", "Musicalíssimo", suplemento "Som 80", "Rockweek") e, mais tarde, em 1984, pelo "Blitz".
"O meu contacto com a onda de Manchester, que identificávamos com as gabardinas, começou pelos textos do MEC - a coluna 'Bolas Para o Pinhal' no 'Sete' - e apanhei também ecos através do 'Rolls Rock'", confirma Jorge Ferraz, sociólogo e mentor de inúmeros projectos (Bye Bye Lolita Girl, Ezra Pound & A Loucura, Santa Maria Gasolina Em Teu Ventre, Acidoxibordel, God Spirou). "Mas o primeiro contacto com essa música surgiu através de amigos que importavam discos, via postal. Eram objectos raros, quase secretos. Aliás, todo o imaginário colado à música ajudava a uma ruptura com o meio onde estávamos. Todos mitificámos essas figuras. Enquanto músico, nunca me interessaram essas bandas, embora tivesse uma grande paixão pelos Joy Division em 1981 e 1982."
Quem importava discos, via postal, era João Pinto, ao tempo a residir no Barreiro. Hoje é advogado, em Lisboa. "Não perdia os programas do Sérgio e chegava a ouvir o John Peel, mesmo com interferências", conta, acrescentando: "Comprava discos de importação numa loja do Imaviz, mas a maior parte mandava-os vir de Inglaterra. Foi uma época fantástica. Durante a semana juntava os amigos em casa, ouvíamos música e, aos fins-de-semana, íamos para Lisboa. Sábado de manhã, à Feira da Ladra, à tarde à Juke Box e, à noite, ao RRV. Dávamo-nos com gente de Campo de Ourique ou de Almada. Enfim, existia um círculo que partilhava o gosto pela mesma música. Depois, vestíamos de igual: de cinzento, gabardines, camisas abotoadas até cima, cabelo espetado, sapatos ingleses ou botas da tropa."
LER E OUVIR.
"O meu contacto com a onda de Manchester, que identificávamos com as gabardinas, começou pelos textos do MEC - a coluna 'Bolas Para o Pinhal' no 'Sete' - e apanhei também ecos através do 'Rolls Rock'", confirma Jorge Ferraz, sociólogo e mentor de inúmeros projectos (Bye Bye Lolita Girl, Ezra Pound & A Loucura, Santa Maria Gasolina Em Teu Ventre, Acidoxibordel, God Spirou). "Mas o primeiro contacto com essa música surgiu através de amigos que importavam discos, via postal. Eram objectos raros, quase secretos. Aliás, todo o imaginário colado à música ajudava a uma ruptura com o meio onde estávamos. Todos mitificámos essas figuras. Enquanto músico, nunca me interessaram essas bandas, embora tivesse uma grande paixão pelos Joy Division em 1981 e 1982."
Quem importava discos, via postal, era João Pinto, ao tempo a residir no Barreiro. Hoje é advogado, em Lisboa. "Não perdia os programas do Sérgio e chegava a ouvir o John Peel, mesmo com interferências", conta, acrescentando: "Comprava discos de importação numa loja do Imaviz, mas a maior parte mandava-os vir de Inglaterra. Foi uma época fantástica. Durante a semana juntava os amigos em casa, ouvíamos música e, aos fins-de-semana, íamos para Lisboa. Sábado de manhã, à Feira da Ladra, à tarde à Juke Box e, à noite, ao RRV. Dávamo-nos com gente de Campo de Ourique ou de Almada. Enfim, existia um círculo que partilhava o gosto pela mesma música. Depois, vestíamos de igual: de cinzento, gabardines, camisas abotoadas até cima, cabelo espetado, sapatos ingleses ou botas da tropa."
LER E OUVIR.
Ao tempo, a Rockhouse (a partir de 1982, Juke Box), ao Bairro Alto, era visita obrigatória. Na cabine de DJ estava Fernando Nabais, hoje ligado ao universo da net e da música, nomeadamente ao projecto O Homem Invisível. A leitura do "New Musical Express" era imprescindível, mas não só. "Eram sagradas as crónicas do MEC. Os discos chegavam através de um dos sócios do Eduardo, da Rockhouse, que vivia na Alemanha." A história de Rodrigo Leão não é diferente: "A música chegava-me através de amigos e quando alguém ia a Inglaterra aproveitava-se a deixa."
À volta dos Sétima Legião gravitaram duas das mais importantes figuras dessa época - o músico e produtor Ricardo Camacho e MEC. O primeiro viria a tornar-se membro da banda, produzindo o primeiro álbum, "A Um Deus Desconhecido", manifestamente influenciado pelos truques de estúdio aprendidos com o amigo Vini Reilly. "O Camacho foi fundamental", refere Rodrigo. "Era fã dos Durutti Column, dos Joy Division. O Miguel era também amigo do Vini Reilly e captou o espírito da Factory na nossa música."
Mas outros acontecimentos revelaram-se decisivos no alimentar da paixão: "Recordo-me de, em 1980, termos ouvido um dos primeiros singles dos U2 e do fascínio que provocou e, mais tarde, em 1982, quando fui ao Festival Vilar de Mouros ver Echo & The Bunnymen, U2 ou A Certain Ratio. Coincidiu com a fase em que começámos a ir para a Juke Box e é evidente que o princípio da Sétima está ligada a esse ambiente. Num dos primeiros concertos tocámos de gabardines, existia uma identificação."
Até Dezembro de 1979, o programa "Rotação", da Rádio Renascença, era o veículo de divulgação do punk, new wave e pós-punk. Inclusive, de bandas portuguesas como os Faíscas, Aqui D'el Rock, Minas & Armadilhas, Xutos & Pontapés e Corpo Diplomático. Em 1980 nasceu o "Rolls Rock". Ao leme destas iniciativas estava António Sérgio.
"Havia uma loja ou outra, caso da discoteca do Carmo, onde pessoas esclarecidas importavam discos em pequenas quantidades. Mas a maior parte arranjava-os nas viagens trimestrais a Londres", recorda o responsável pela eclosão do conceito de "som da frente" (nome do seu programa de rádio posterior). "Nessa altura, divulgar música nova tinha um rótulo de militância e era objecto de admiração, até pelo país que Portugal era, onde o peso do antigo regime estava fresco."
A música era elemento aglutinador, mas era um novo estilo de vida que se queria implantar e Sérgio tinha consciência disso: "As entrevistas dos músicos serviam de referência bibliográfica. Quando o Joe Strummer dos Clash falou do [Charles] Bukowski despertou-me a atenção. Mais tarde, os Manic Street Preachers levaram-me à Sylvia Plath. Existia esforço para acompanhar um comboio de cultura, de alegria de viver, que era irreversível. Não era só música, era uma maneira de pensar, que tem a ver com livros, filmes. Foi uma bóia de salvação, uma forma de dizermos 'vamos sair daqui', do marasmo dominante em Portugal."
João Pinto também refere esse elemento de ligação: "Foi através da música que cheguei a Kafka, Mishima, Artaud, Duras, Coppola, Scorsese. Algumas das referências já nem me dizem muito, mas tudo aquilo fazia-nos sentir vivos. Existia uma curiosidade natural pelo mundo. Provavelmente tem a ver com o tempo da adolescência - que é algo que marca - mas existia um sentimento que estávamos a iniciar algo de novo."
EDITAR.
À volta dos Sétima Legião gravitaram duas das mais importantes figuras dessa época - o músico e produtor Ricardo Camacho e MEC. O primeiro viria a tornar-se membro da banda, produzindo o primeiro álbum, "A Um Deus Desconhecido", manifestamente influenciado pelos truques de estúdio aprendidos com o amigo Vini Reilly. "O Camacho foi fundamental", refere Rodrigo. "Era fã dos Durutti Column, dos Joy Division. O Miguel era também amigo do Vini Reilly e captou o espírito da Factory na nossa música."
Mas outros acontecimentos revelaram-se decisivos no alimentar da paixão: "Recordo-me de, em 1980, termos ouvido um dos primeiros singles dos U2 e do fascínio que provocou e, mais tarde, em 1982, quando fui ao Festival Vilar de Mouros ver Echo & The Bunnymen, U2 ou A Certain Ratio. Coincidiu com a fase em que começámos a ir para a Juke Box e é evidente que o princípio da Sétima está ligada a esse ambiente. Num dos primeiros concertos tocámos de gabardines, existia uma identificação."
Até Dezembro de 1979, o programa "Rotação", da Rádio Renascença, era o veículo de divulgação do punk, new wave e pós-punk. Inclusive, de bandas portuguesas como os Faíscas, Aqui D'el Rock, Minas & Armadilhas, Xutos & Pontapés e Corpo Diplomático. Em 1980 nasceu o "Rolls Rock". Ao leme destas iniciativas estava António Sérgio.
"Havia uma loja ou outra, caso da discoteca do Carmo, onde pessoas esclarecidas importavam discos em pequenas quantidades. Mas a maior parte arranjava-os nas viagens trimestrais a Londres", recorda o responsável pela eclosão do conceito de "som da frente" (nome do seu programa de rádio posterior). "Nessa altura, divulgar música nova tinha um rótulo de militância e era objecto de admiração, até pelo país que Portugal era, onde o peso do antigo regime estava fresco."
A música era elemento aglutinador, mas era um novo estilo de vida que se queria implantar e Sérgio tinha consciência disso: "As entrevistas dos músicos serviam de referência bibliográfica. Quando o Joe Strummer dos Clash falou do [Charles] Bukowski despertou-me a atenção. Mais tarde, os Manic Street Preachers levaram-me à Sylvia Plath. Existia esforço para acompanhar um comboio de cultura, de alegria de viver, que era irreversível. Não era só música, era uma maneira de pensar, que tem a ver com livros, filmes. Foi uma bóia de salvação, uma forma de dizermos 'vamos sair daqui', do marasmo dominante em Portugal."
João Pinto também refere esse elemento de ligação: "Foi através da música que cheguei a Kafka, Mishima, Artaud, Duras, Coppola, Scorsese. Algumas das referências já nem me dizem muito, mas tudo aquilo fazia-nos sentir vivos. Existia uma curiosidade natural pelo mundo. Provavelmente tem a ver com o tempo da adolescência - que é algo que marca - mas existia um sentimento que estávamos a iniciar algo de novo."
EDITAR.
Para suprir a dificuldade que era obter os discos, começam a surgir tentativas de implantar lojas, editoras, mecanismos de distribuição. As extintas Fundação Atlântica e loja Contraverso - "que nasceu da intenção de editarmos o Wim Mertens e a Isabel Antenna que pertenciam à Les Disques Du Crépuscule, associada da Factory", segundo José Guedes, hoje responsável pela distribuidora Última - seriam dois dos casos mais conhecidos. Mas antes existiu a Cliché. Uma ideia de Rui Pavão, que o Y foi encontrar em férias na ilha de Porto Santo, na companhia de Ana da Silva das Raincoats - também elas modelos do pós-punk em Inglaterra.
"Nos anos 80 regressei a Portugal, depois de ter vivido em Inglaterra. A minha mulher tinha tirado um curso de moda e, na companhia de uns amigos, pensámos em criar uma loja de roupa, mas depois a ideia evoluiu para um espaço misto com discos", conta Pavão. "Paralelamente, através de uma pessoa na América, que conhecia um tipo dos Material de Bill Laswell, pensámos em editar o grupo. Ao mesmo tempo, tínhamos contactos em Inglaterra através da Ana das Raincoats, que estavam na Rough Trade. Ou seja, tínhamos amigos que começaram a trazer discos, tudo ilegal. E foi assim que começámos a vender Young Marble Giants, Raincoats e Pig Bag. Mas era uma coisa pequena, não rendia."
A Cliché editora acabou e a loja também não se aguentou, mas as sementes estavam lançadas. "Era um sítio onde se juntava malta jovem. Quase não consumiam, mas existia algo no ar. Era malta como o Rui Cunha dos Heróis [do Mar] ou gente que gostava de música, como o Ricardo Saló ou o Leonaldo de Almeida do Lux. O Cunha era grande devorador de revistas e o que se passava em Inglaterra não nos passava ao lado."
CRIAR.
"Nos anos 80 regressei a Portugal, depois de ter vivido em Inglaterra. A minha mulher tinha tirado um curso de moda e, na companhia de uns amigos, pensámos em criar uma loja de roupa, mas depois a ideia evoluiu para um espaço misto com discos", conta Pavão. "Paralelamente, através de uma pessoa na América, que conhecia um tipo dos Material de Bill Laswell, pensámos em editar o grupo. Ao mesmo tempo, tínhamos contactos em Inglaterra através da Ana das Raincoats, que estavam na Rough Trade. Ou seja, tínhamos amigos que começaram a trazer discos, tudo ilegal. E foi assim que começámos a vender Young Marble Giants, Raincoats e Pig Bag. Mas era uma coisa pequena, não rendia."
A Cliché editora acabou e a loja também não se aguentou, mas as sementes estavam lançadas. "Era um sítio onde se juntava malta jovem. Quase não consumiam, mas existia algo no ar. Era malta como o Rui Cunha dos Heróis [do Mar] ou gente que gostava de música, como o Ricardo Saló ou o Leonaldo de Almeida do Lux. O Cunha era grande devorador de revistas e o que se passava em Inglaterra não nos passava ao lado."
CRIAR.
Em Manchester, Liverpool ou Londres, Joy Division, Echo & The Bunnymen, Teardrop Explodes, The Sound, The Chameleons, The Fall ou Siouxsie & The Banshees eram adulados. No Porto, Ban ou Culto Da Ira representavam a geração cinzenta. Em Lisboa, no princípio dos anos 80, surgiam os primeiros sucedâneos dessas bandas inglesas. Na Av. de Roma, Alvalade, Campo de Ourique ou, na outra margem, em Almada, uma nova geração nascia, ao lado dos GNR ou Rádio Macau. Tinham nomes como Sétima Legião, Croix Sainte, Urb ou Dead Dream Factory e serviriam de embrião a outras que surgiriam nos anos vindouros, como Pop Dell'Arte, Mão Morta, Linha Geral, Jovem Guarda, Mler Ife Dada, Essa Entente ou Golpe De Estado.
O Rock Rendez Vouz, ao Rego, era a catedral, mas na António Arroio, n'A Teia em Alcântara, no ISCTE, em Belas-Artes ou nos liceus de Campo de Ourique existia algo a pulsar. "Fizemos os primeiros concertos no RRV, em Belas-Artes e no Liceu D. Leonor", recorda Rodrigo Leão. "Existiam bandas como os Croix Sainte ou os Urb, que frequentavam os mesmos circuitos. Recordo-me de ir a casa do Luís San Payo, então nos Croix Sainte, buscar amplificadores e íamos a pé com aquilo até ao RRV. Existia um entusiasmo muito grande. Estávamos a concretizar um sonho."
O Dramático de Cascais acolhia os Clash, o Pavilhão do Restelo os Echo & The Bunnymen e Siouxsie & The Banshees e a Aula Magna os Durutti Column. Mas foi ao Rego, no Rock Rendez Vouz, que tudo parecia acontecer. Por lá passaram The Woodentops, Danse Society, The Sound ou The Chameleons, mas bandas portuguesas era coisa que não faltava. "Não existia um ambiente de tertúlia à volta deste consumo de música, embora os concertos do RRV tivessem sido importantes. Ia-se ver grupos portugueses, muitas vezes até sem quaisquer referências", lembra Ferraz.
SAIR.
O Rock Rendez Vouz, ao Rego, era a catedral, mas na António Arroio, n'A Teia em Alcântara, no ISCTE, em Belas-Artes ou nos liceus de Campo de Ourique existia algo a pulsar. "Fizemos os primeiros concertos no RRV, em Belas-Artes e no Liceu D. Leonor", recorda Rodrigo Leão. "Existiam bandas como os Croix Sainte ou os Urb, que frequentavam os mesmos circuitos. Recordo-me de ir a casa do Luís San Payo, então nos Croix Sainte, buscar amplificadores e íamos a pé com aquilo até ao RRV. Existia um entusiasmo muito grande. Estávamos a concretizar um sonho."
O Dramático de Cascais acolhia os Clash, o Pavilhão do Restelo os Echo & The Bunnymen e Siouxsie & The Banshees e a Aula Magna os Durutti Column. Mas foi ao Rego, no Rock Rendez Vouz, que tudo parecia acontecer. Por lá passaram The Woodentops, Danse Society, The Sound ou The Chameleons, mas bandas portuguesas era coisa que não faltava. "Não existia um ambiente de tertúlia à volta deste consumo de música, embora os concertos do RRV tivessem sido importantes. Ia-se ver grupos portugueses, muitas vezes até sem quaisquer referências", lembra Ferraz.
SAIR.
Aos sábados de manhã, a Feira da Ladra servia de ponto de encontro. Trocavam discos, criavam-se cumplicidades, arranjavam-se mais membros para a banda. "Vinham pessoas de Lisboa e arredores", recorda João Pinto. "Falava-se de discos, roupas, das viagens que se sonhava fazer a Inglaterra. Era ponto de passagem antes de irmos às 'matinées' da Rockhouse." Fernando Nabais refere o Chiado e a Av. de Roma como poisos habituais. "Parávamos nos cafés do Chiado. Também na Av. de Roma, no Vá-vá. Era lá que parava o pessoal dos Heróis e da Sétima, que ensaiavam no prédio em frente. De vez em quando, à tarde, ensaiavam no terraço e aparecia também o Zé Pedro e o Cabeleira dos Xutos."
As memórias de Rodrigo Leão não são diversas: "Andava a estudar no Liceu D. Leonor. Ouvíamos música em casa uns dos outros, íamos ao cinema às famosas sessões do Quarteto, da meia-noite às cinco. À noite íamos para o Bairro Alto, para as tascas, como o Gingão, a Tia Alice e, claro, a Juke Box e o Frágil."
À noite, a Rockhouse, o Café Concerto, a Ocarina e o Frágil funcionavam como pontos de encontro. À porta da Rockhouse estava Zé da Guiné, lá dentro os corpos movimentavam-se ao som de "Transmission" dos Joy Division ou "Temptation" dos New Order. Na cabine de DJ, Fernando Nabais. "Comecei como cliente, ia às 'matinées', gostava da música e tornei-me amigo do DJ Bruno. Estava sempre a chateá-lo para ele me dizer o que estava a tocar e, a certa altura, convidou-me a pôr música. Passava Joy Division, A Certain Ratio, Teardrop Explodes - a 'pop das gabardinas' como o MEC lhe chamava - e também aquelas coisas que os influenciavam, como Velvet ou Doors. Mais tarde, passei Rip Rig & Panic ou Pig Bag."
Entre os clientes, gente da música, moda e artes. "Era um público exigente que não saía só aos fins-de-semana. Estavam em cima dos fenómenos em Inglaterra e preparavam-se para a noite. Sair era um ritual. Recordo-me do António Variações, do Al Berto, do Lima Barreto, dos músicos dos Heróis do Mar antes da formação do grupo, do Rui Reininho quando viveu em Lisboa... À conta dessa aura, passavam por lá também os músicos estrangeiros, como o Vini Reilly ou os Echo & The Bunnymen."
VESTIR.
As memórias de Rodrigo Leão não são diversas: "Andava a estudar no Liceu D. Leonor. Ouvíamos música em casa uns dos outros, íamos ao cinema às famosas sessões do Quarteto, da meia-noite às cinco. À noite íamos para o Bairro Alto, para as tascas, como o Gingão, a Tia Alice e, claro, a Juke Box e o Frágil."
À noite, a Rockhouse, o Café Concerto, a Ocarina e o Frágil funcionavam como pontos de encontro. À porta da Rockhouse estava Zé da Guiné, lá dentro os corpos movimentavam-se ao som de "Transmission" dos Joy Division ou "Temptation" dos New Order. Na cabine de DJ, Fernando Nabais. "Comecei como cliente, ia às 'matinées', gostava da música e tornei-me amigo do DJ Bruno. Estava sempre a chateá-lo para ele me dizer o que estava a tocar e, a certa altura, convidou-me a pôr música. Passava Joy Division, A Certain Ratio, Teardrop Explodes - a 'pop das gabardinas' como o MEC lhe chamava - e também aquelas coisas que os influenciavam, como Velvet ou Doors. Mais tarde, passei Rip Rig & Panic ou Pig Bag."
Entre os clientes, gente da música, moda e artes. "Era um público exigente que não saía só aos fins-de-semana. Estavam em cima dos fenómenos em Inglaterra e preparavam-se para a noite. Sair era um ritual. Recordo-me do António Variações, do Al Berto, do Lima Barreto, dos músicos dos Heróis do Mar antes da formação do grupo, do Rui Reininho quando viveu em Lisboa... À conta dessa aura, passavam por lá também os músicos estrangeiros, como o Vini Reilly ou os Echo & The Bunnymen."
VESTIR.
Não eram só os discos que interessavam que eram difíceis de encontrar. Também a roupa exigia imaginação. "Vestíamos roupa em segunda mão. Fornecíamo-nos na Feira ou nas Madames Bettencourt e Irene. As pessoas vestiam de preto, beije, cinzento, azul e castanho. Os sapatos eram um drama, tínhamos que pedir a alguém que fosse lá fora", explica Fernando Nabais.
As gabardines eram fundamentais, mas não eram o elemento-chave. "O principal era, a partir de um elemento comum, atribuir-lhe um cunho de diferença", diz João Pinto. "Claro que era uma diferença partilhada, porque se não fosse assim não fazia sentido. Às vezes bastava um pormenor, como a camisa totalmente abotoada, um crachá, um penteado, para surgir identificação. O sentimento de pertença passava por aí. Mais tarde começaram a surgir designações como 'urbano-depressivos' ou 'vanguardistas', mas sempre me pareceu redutor. O que existia era gente, diferente entre si, que ansiava por algo de diverso, mesmo se, depois, por reacção, negasse esse período. O que é natural."
António Sérgio partilha da mesma visão: "Não foi o meu caso, mas naturalmente quando nascem fenómenos deste género existe um acompanhamento no modo de vestir. Recordo-me de ver um concerto no pátio de Belas-Artes com a Sétima e os Croix Sainte e de olhar à volta e ver tudo de cinzento. Parecia-me soturno de mais, afinal aquilo era música pop."
Música pop que organizava o que vinha de trás - Velvet, Doors, Can, punk - e que prenunciava o que viria a seguir - dança, hip-hop, dispersão, reciclagem, ambiguidade. Um período-charneira que em Portugal se veio a revelar decisivo para a implantação de novas formas de olhar.
Vitor Belanciano / Público
ARTIGO PUBLICADO NO DIA 20.09.2002 - SUPLEMENTO Y DO JORNAL PÚBLICO
As gabardines eram fundamentais, mas não eram o elemento-chave. "O principal era, a partir de um elemento comum, atribuir-lhe um cunho de diferença", diz João Pinto. "Claro que era uma diferença partilhada, porque se não fosse assim não fazia sentido. Às vezes bastava um pormenor, como a camisa totalmente abotoada, um crachá, um penteado, para surgir identificação. O sentimento de pertença passava por aí. Mais tarde começaram a surgir designações como 'urbano-depressivos' ou 'vanguardistas', mas sempre me pareceu redutor. O que existia era gente, diferente entre si, que ansiava por algo de diverso, mesmo se, depois, por reacção, negasse esse período. O que é natural."
António Sérgio partilha da mesma visão: "Não foi o meu caso, mas naturalmente quando nascem fenómenos deste género existe um acompanhamento no modo de vestir. Recordo-me de ver um concerto no pátio de Belas-Artes com a Sétima e os Croix Sainte e de olhar à volta e ver tudo de cinzento. Parecia-me soturno de mais, afinal aquilo era música pop."
Música pop que organizava o que vinha de trás - Velvet, Doors, Can, punk - e que prenunciava o que viria a seguir - dança, hip-hop, dispersão, reciclagem, ambiguidade. Um período-charneira que em Portugal se veio a revelar decisivo para a implantação de novas formas de olhar.
Vitor Belanciano / Público
ARTIGO PUBLICADO NO DIA 20.09.2002 - SUPLEMENTO Y DO JORNAL PÚBLICO
Jorge de Sena
O corpo não espera
O corpo não espera. Não. Por nósou pelo amor. Este pousar de mãos,
tão reticente e que interroga a sós
a tépida secura acetinada,
a que palpita por adivinhada
em solitários movimentos vãos;
este pousar em que não estamos nós,
mas uma sêde, uma memória, tudo
o que sabemos de tocar desnudo
o corpo que não espera; este pousar
que não conhece, nada vê, nem nada
ousa temer no seu temor agudo...
Tem tanta pressa o corpo! E já passou,
quando um de nós ou quando o amor chegou.
Muitos consideram-no um grande nome da literatura portuguesa e uma figura incontornável do século XX nacional, mas muitos nunca ouviram falar nele, ou não vêm qualquer justificação para o mencionar. Mais de trinta anos depois da sua morte (em Junho de 1978), Jorge de Sena continua a ser uma persona controversa no panorama português.
Professor universitário, dramaturgo, contista mas, acima de tudo, poeta, Sena encontrou no estrangeiro a liberdade que a ditadura salazarista não lhe concedia em território lusitano. Sem papas na língua e, segundo os que com ele conviveram frequentemente referem, intolerável á mediocridade, Jorge de Sena partiu para o Brasil em 1959 em busca de uma consideração e de um respeito que os eruditos portugueses não lhe atribuíam. Em "terras de Vera Cruz", embora de início tenha conseguido alcançar parte do seu objectivo, viu-se obrigado a procurar novo refúgio, longe de uma outra ditadura que lá grassava.
Foi na Califórnia, nos Estados Unidos, que acabou por assentar, com a sua esposa Mécia e os seus nove filhos. Docente na Universidade de Santa Bárbara, onde leccionava a sua amada literatura em língua portuguesa, conseguiu, enfim, algum tempo para produzir os seus textos. Prolífico, deixou imensas páginas de crítica literária, traduções, contos, diários, ensaios, romances, correspondência e, claro, poesia.Num paralelismo imenso com outros dois enormes vultos da poesia portuguesa, Jorge de Sena debruçou-se no estudo e na criação poética em torno de Camões e Pessoa. Inspirações, almas gémeas, antepassados, Sena procurou recriar esses mundos líricos, mas sempre sem abdicar da sua verdade. De legado ficam Sinais de Fogo (romance publicado postumamente), O Físico Prodigioso (novela, 1977), Andanças do Demónio (colectânea de contos, 1960), O Indesejado (teatro, 1951), Uma Canção de Camões (ensaio, 1966) e Metamorfoses (poesia, 1963) e tantos outros.
Fica a sua missão, nas suas próprias palavras: "um desejo de exprimir o que entendo ser a dignidade humana: uma fidelidade integral á responsabilidade de estarmos no mundo, mesmo quando tudo nos queira demonstrar que
estamos a mais... ou a menos."
Sinais de Fogo
Foi na Califórnia, nos Estados Unidos, que acabou por assentar, com a sua esposa Mécia e os seus nove filhos. Docente na Universidade de Santa Bárbara, onde leccionava a sua amada literatura em língua portuguesa, conseguiu, enfim, algum tempo para produzir os seus textos. Prolífico, deixou imensas páginas de crítica literária, traduções, contos, diários, ensaios, romances, correspondência e, claro, poesia.Num paralelismo imenso com outros dois enormes vultos da poesia portuguesa, Jorge de Sena debruçou-se no estudo e na criação poética em torno de Camões e Pessoa. Inspirações, almas gémeas, antepassados, Sena procurou recriar esses mundos líricos, mas sempre sem abdicar da sua verdade. De legado ficam Sinais de Fogo (romance publicado postumamente), O Físico Prodigioso (novela, 1977), Andanças do Demónio (colectânea de contos, 1960), O Indesejado (teatro, 1951), Uma Canção de Camões (ensaio, 1966) e Metamorfoses (poesia, 1963) e tantos outros.
Fica a sua missão, nas suas próprias palavras: "um desejo de exprimir o que entendo ser a dignidade humana: uma fidelidade integral á responsabilidade de estarmos no mundo, mesmo quando tudo nos queira demonstrar que
estamos a mais... ou a menos."
Sinais de Fogo
O Verão de 1936 ficaria marcado pelo eclodir da Guerra Civil Espanhola. Na Figueira da Foz, que era amplamente frequentada por turistas espanhóis, o impacto desse trágico momento foi profundo.
A cidade, as praias e aqueles que todos os anos escolhiam a Figueira como destino de férias, a guerra apanhou todos desprevenidos e a adaptação a essa realidade não seria fácil, num país em que a ditadura salazarista grassava.Jorge foi para a casa dos tios aproveitar o tempo livre de aulas e reencontrar os seus amigos de todos os verões, numa atmosfera separada da Lisboa que deixava para trás. Nos cafés da cidade explodem discussões entre franquistas e radicalistas espanhóis, o tio mantém dois clandestinos em casa e as amizades estão diferentes. Rodrigues, Ramos, Macedo e a bela Mercedes já não são os mesmos do ano anterior. Ou será Jorge que está a mudar? Entre a descoberta da sexualidade e a entrada na idade adulta, num território que sente próxima a guerra que decorre além fronteira, os episódios são-nos narrados pelo jovem lisboeta, na primeira pessoa, numa auto-descoberta por vezes cruel.
Esta obra é parte do grande projecto de ficção (Monte Cativo) que Jorge de Sena nunca chegou a acabar, e mesmo a sua publicação foi póstuma. As cenas descritas, as palavras usadas, as dúvidas presentes ainda hoje provocam reacções apaixonadas e, ao longo da leitura, surge sempre uma comparação entre o escritor e aquele (também) Jorge que, entre fogos acesos, se descobre poeta.António Gedeão
Eu, quando choro,
não choro eu.
Chora aquilo que nos homens
em todo o tempo sofreu.
As lágrimas são as minhas
mas o choro não é meu.
Se não fosse esta certeza
que nem sei de onde me vem,
não comia, nem bebia,
nem falava com ninguém.
Acocorava-me a um canto,
no mais escuro que houvesse,
punha os joelhos á boca
e viesse o que viesse.
Não fossem os olhos grandes
do ingénuo adolescente,
a chuva das penas brancas
a cair impertinente,
aquele incógnito rosto,
pintado em tons de aguarela,
que sonha no frio encosto
da vidraça da janela,
não fosse a imensa piedade
dos homens que não cresceram,
que ouviram, viram, ouviram,
viram, e não perceberam,
essas máscaras selectas,
antologia do espanto,
flores sem caule, flutuando
no pranto do desencanto,
se não fosse a fome e a sede
dessa humanidade exangue,
roía as unhas e os dedos
até os fazer em sangue.
Compreende-se que lá para o ano três mil e tal
ninguém se lembre de certo Fernão barbudo
que plantava couves em Oliveira do Hospital,
ou da minha virtuosa tia-avó Maria das Dores
que tirou um retrato toda vestida de veludo
sentada num canapé junto de um vaso com flores.
Compreende-se.
E até mesmo que já ninguém se lembre que houve três impérios no Egipto
(o Alto Império, o Médio Império e o Baixo Império)
com muitos faraós, todos a caminharem de lado e a fazerem tudo de perfil,
e o Estrabão, o Artaxerpes, e o Xenofonte, e o Heraclito,
e o desfiladeiro das Termópilas, e a mulher do Péricles, e a retirada dos dez mil,
e os reis de barbas encaracoladas que eram senhores de muitas terras,
que conquistavam o Lácio e perdiam o Épiro, e conquistavam o Épiro e perdiam o Lácio,
e passavam a vida inteira a fazer guerras,
e quando batiam com o pé no chão faziam tremer todo o palácio,
e o resto tudo por aí fora,
e a Guerra dos Cem Anos,
e a Invencível Armada,
e as campanhas de Napoleão,
e a bomba de hidrogénio.
Compreende-se.
Mais império menos império,
mais faraó menos faraó,
será tudo um vastíssimo cemitério,
cacos, cinzas e pó.
Compreende-se.
Lá para o ano três mil e tal.
E o nosso sofrimento para que serviu afinal?
Eu sei que o meu desespero não interessa a ninguém.
Cada um tem o seu, pessoal e intransmissível:
com ele se entretém
e se julga intangível.
Eu sei que a Humanidade é mais gente do que eu,
sei que o Mundo é maior do que o bairro onde habito,
que o respirar de um só, mesmo que seja o meu,
não pesa num total que tende para infinito.
Eu sei que as dimensões impiedosos da Vida
ignoram todo o homem, dissolvem-no, e, contudo,
nesta insignificância, gratuita e desvalida,
Universo sou eu, com nebulosas e tudo.