segunda-feira, 25 de julho de 2011

Os apanhadores de cogumelos vão ter licença - Evitar extinção das espécies

Os apanhadores de cogumelos silvestres que se dedicam à sua comercialização vão ser, a breve prazo, obrigados a ter uma carta de apanhador. A determinação consta do novo regulamento florestal, a publicar até ao final do ano, e é uma exigência com mais de duas décadas das associações micológicas.
\"Nós queremos que acabe a apanha desenfreada, sem quaisquer regras, de maneira a que se preserve o equilíbrio ecológico e garanta a subsistência das espécies\", disse ao Correio da Manhã Manuel Moreda, o presidente da Associação Micológica Pantorra, com sede em Mogadouro.
Para este responsável, se a apanha não for devidamente regulamentada e os apanhadores não tiverem formação, \"em pouco tempo mataremos esta galinha dos ovos de ouro\".
Nos distritos de Vila Real e Bragança, com destaque para Vinhais, Bragança, Macedo de Cavaleiros, Mogadouro, Vimioso, Vila Pouca de Aguiar, Chaves, Ribeira de Pena, Valpaços e Boticas, há mais de dez mil pessoas que se dedicam à actividade, sobretudo na época de Outono.
Estima-se que, por ano, na área destes concelhos sejam colhidas cerca de 1600 toneladas de cogumelos silvestres, num negócio que já ascende aos oito milhões de euros.
A maioria dos cogumelos colhidos na região é vendida para Espanha, onde há empresas que certificam e fazem distribuição para toda a Europa.
\"O cogumelo silvestre é cada vez mais procurado, por isso temos de trabalhar no sentido de o defender\", diz Manuel Moreda.
FAÇO 15 A 20 MIL EUROS POR ANO
António Azevedo, morador de uma aldeia do concelho de Vimioso, passa os meses de Outubro e Novembro por montes e vales à procura de cogumelos. É assim desde há quinze anos e, assegura, continuará a ser: \"Enquanto Deus me der vida e saúde e a actividade compensar\".
\"Tenho dias de apanhar quinze quilos de cogumelos de várias espécies, sobretudo boleto e lactário, que se dá nos pinhais\", disse ao CM este agricultor que não tem dúvidas em afirmar que ganha mais com os cogumelos do que com o trabalho de um ano inteiro na terra.
\"Faço 15 a 20 mil euros por ano, em média. Há anos melhores, com condições climatéricas mais favoráveis e outros mais secos, mas vai dando para o sacrifício\", afirma António Azevedo.
DISCURSO DIRECTO
\"A PROCURA EXCEDE A OFERTA\", Manuel Moreda, Presidente da Associação Pantorra
CM - É verdade que os cogumelos silvestres estão na moda?
Manuel Moreda - Cada vez mais. A procura excede largamente a oferta e esse é o nosso grande problema.
- Como assim?
- Os cogumelos são uma grande riqueza e a sua apanha é muito rentável. Ora, apanha-se sem quaisquer regras, o que pode comprometer a produção a breve prazo.
- Há assim tanta gente a apanhar?
- Muita mesmo. No Outono, vemos todos os dias carrinhas e carrinhas carregadas de cogumelos a caminho de Espanha.
- O que deve fazer-se?
- Deve regulamentar-se a actividade e fiscalizá-la.
COGUMELOS ATRAEM CLIENTES A MOGADOURO
A promoção que, nas últimas duas décadas, tem sido feita à actividade micológica e a utilização cada vez mais frequente do cogumelo silvestre na gastronomia, tem atraído clientela de todo o País aos restaurantes de Mogadouro.
\"Vem cá gente do Porto, de Braga e até de Lisboa à procura do que é realmente genuíno, de algo diferente, que não conseguem encontrar noutro lugar\", diz Eliseu Amaro, um cozinheiro que desde há 46 anos utiliza o cogumelo silvestre na confecção dos seus pratos.
\"Sabe que não tem nada a ver o aroma e o poder gostativo dos cogumelos de estufa comparados com os selvagens. É, se quiser, como comparar um frango de aviário com um verdadeiro pica-no-chão\", explicou ao CM Eliseu Amaro.
Referindo que \"o mundo micológico é fantástico\", Eliseu Amaro sublinha que \"a riqueza gastronómica dos cogumelos é inesgotável e cada vez mais apreciada\".
 Secundino Cunha in CM, 2011-07-23 

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