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SOBRE O BLOGUE:
Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço.
A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)
(Henrique Martins)
COLABORADORES LITERÁRIOS
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.
sábado, 18 de abril de 2015
O ZÉ LUÍS
Os Domingos em Bragança nos anos sessenta viviam-se debaixo de uma etiqueta assimilada tacitamente pela maioria, sendo de bom tom cumprirem-se diversas regras. Uma delas passava por nos dias luminosos darmos luzimento ao calçado.
Uma bateria de caixas de engraxar postava-se rente ao passeio fronteiro ao estabelecimento do Sr. Júlio Coelho. Cada qual tinha o seu engraxador de estimação, sendo particularmente atractiva a competição entre eles no desafio de fazerem soltar da tira de pano estalos e lamentos ao lustrar a ponta dos sapatos.
Eu apreciava o trabalho e a conversa do Cantaria, brioso atleta do Desportivo.
Subitamente tudo mudou: um novo engraxa tinha estabelecido base no extinto Café Central.
Não era biscateiro de Domingo apresentava-se como profissional a tempo pleno. Chamava-se Zé Luís. Vestia calças de zuarte com peito, camisa de quadrados largos, as mãos denotavam evidentes marcas do trabalho executado.
Encarava as pessoas de frente, chamava à atenção devido ao impecável penteado de sulcos grossos e a uma continuada voracidade no falar. Movimentava-se continuamente entre o salão das grandes bilharadas ao prato e ao sargento, o salão do café mobilado de acordo com os criadores da Bauhaus, e o passeio-alegre de estudantes junto ao café.
O Zé Luís depressa ganhou simpatias, afectos e cumplicidades. Não tardou a atingir o estatuto de poder interromper conversas, emitir opinião, discordar ou corrigir o cliente, não se furtando a dar conselhos.
Nesses arroubos discursivos nunca lhe vi a mínima ponta de maldade, sendo particularmente zeloso na defesa de amigos seus clientes de sempre.
Fino na assunção de evidência no momento certo, tirava bom partido de uma ladinice, assente em frases a lembrarem um gongorismo ingénuo. Louvava-se sem nenhuma espécie de constrangimento; por isso quando em determinada ocasião lhe falaram no Doutor Francisco Videira Pires, num impulso entusiasta disse: “É um grande homem, o maior filósofo de Bragança, a seguir a mim!”.
in: Figuras notáveis e notórias bragançanas
Texto: Armando Fernandes
Aguarelas: Manuel Ferreira
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Não me lembro bem do Zé Luís aos pé dos claustros da Sé... Estava mais do outro lado da rua, à porta do Chave d'Ouro, não era?
ResponderEliminarNo tempo a que remonta esta história, o local era em frente ao prédio dos Coelhos. Mas é como dizes, o Zé Luís passou posteriormente para o interior do Café Chave de Ouro e é daí que te lembras dele. A excepção foi quando o proprietário do Café se aborreceu com ele devido a um qualquer episódio e o proibiu de estar dentro do café a engraxar. O Zé Luís, nunca mais foi o mesmo homem...
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