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Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço.
A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)
(Henrique Martins)
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N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.
sábado, 10 de dezembro de 2011
«Não vamos conseguir exportar mais os produtos tradicionais, temos de inovar»
Jack Soifer, especialista em economia e turismo, lançou recentemente o livro «Portugal Rural - a oportunidade». Ai defende que o nosso país não necessita de grandes empresas para poder exportar, antes da união para exportação de empresas com produtos complementares. Os nichos de mercado são os que pagam melhor e estes não procuram grandes quantidades. Jack Soifer defende um turismo comprometido com os territórios. Opõe-se aos grandes projectos que trazem turistas e os fecham em resorts para consumirem produtos importados. Soifer vê futuro em matérias-primas pouco exploradas em Portugal, tais como a esteva e a beterraba.
Café Portugal - Nos seus livros costuma ser crítico quanto à forma como Portugal se promove enquanto destino. Que rupturas devem existir com o actual modelo?
Jack Soifer * - Estou convicto, devido a investigações científicas efectuadas, que os principais mercados junto dos quais Portugal actua conhecem bastante o país. Portanto, a promoção de cariz geral já foi feita. Como tal, tudo indica que não é por aí que vamos obter mais e, sobretudo, melhores turistas.
Aliás, existem várias definições para o melhor turista. Utilizo aquela mais clássica e monetarista: O turista que deixa mais valor adicionado no destino Portugal e na região onde está. Interessa-nos pouco aumentar os turistas que nos procuram pelo golfe, porque estes consomem sobretudo produtos importados. Por exemplo, é um turista que, muitas vezes, compra como presente uma jóia importada. Interessa-nos não o turista que mais gasta mas sim aquele que quase mais gasta. Este está na segunda categoria de cinco numa tabela de gastos num destino. É aquele turista que compra prendas feitas em Portugal e prendas sobretudo que possam divulgar a riqueza de Portugal lá fora, por exemplo, vinhos, queijos, artesanato. Um visitante com interesses específicos que quer conhecer a cultura portuguesa, observar as aves. Logo, o ideal seria fazer uma promoção específica para diferentes nichos de turistas. Significa que não é através da televisão, das rádios e jornais que atingiremos o nosso alvo. É uma publicidade pela Internet ou através de revistas.
C.P. - É crítico face aos designados Projectos de Interesse Nacional (PIN). Pode pormenorizar?
J.S. - Os PIN não têm nenhum interesse porque tudo indica, e no meu livro «Futuro do Turismo» abordo isto e comprovo-o. Aquilo que nos interessa não é aquele turista que fica em hotéis de cinco estrelas nem é o turista que fica num resort. Estes têm pouco contacto com a realidade portuguesa. Ficam isolados e acabam por não poder divulgar lá fora a riqueza que existe em Portugal. Divulgam, isso sim, o resort. Pode ser bom para aquele grupo empresarial mas não é bom para Portugal.
C.P. - O turismo associado a certos nichos de mercado pode, ainda, incentivar outras actividades, como a agricultura.
J.S. - Temos dois nichos que poderemos explorar melhor: o enoturismo e o gastroenoturismo. Importa destacar que um turista satisfeito nestes nichos vai levar para a sua casa e amigos, no seu país, prendas como os vinhos, os queijos, o azeite. Isto acaba por abrir o mercado para depois poder exportar. Temos produtos de altíssima qualidade, mas falta introduzi-los em novos mercados que podem até não ser muito grandes. É claro que nem toda a população pode comprar. Mas pensemos assim: na Polónia, por exemplo, temos com alto poder de compra aproximadamente quatro milhões de polacos. Estes podiam comprar os nossos produtos.
C.P. - Estando há tantos anos no nosso país, como analisa o designado «Portugal rural»?
J.S. - O que é riquíssimo é que Portugal não é, neste âmbito, apenas agricultura como alguns pensam. Temos recursos florestais, temos o mar, que também é rural, porque o que não está na área urbana é rural. Por exemplo ao falarmos do mar, recordo um ou dois produtores de flor do sal, um produto que custa balúrdios lá fora. Estes dois produtores estão a exportar quase toda a sua produção apenas para os mercados em que já entraram. Eles, tal como outros produtores, poderiam entrar noutros mercados porque estes estão abertos. Falta é quem consiga ai vender. Isto é só um exemplo de um produto gourmet. O que precisamos é formar clusters para a exportação. Não precisamos de grandes empresas para produzir, de grandes empresas para exportar. Mas precisamos de empresas com produtos complementares que se reúnam na hora de vender o produto lá fora. O custo de transporte torna-se mais reduzido quando conseguimos enviar um contentor de 40 pés fechado para um só destino. Na região Centro, por exemplo, temos vinhos, queijos, extractos, enchidos. Isto são produtos complementares de empresas que não concorrem umas com as outras. Juntos podemos ser mais competitivos nos mercados.
C.P. - Fala recorrentemente nos nichos de mercado. No seu livro quais identifica-os e analisa-os. O que retira dessa análise?
J.S. - Neste último livro o enfoque maior vai para o turismo de natureza, o turismo rural. Abordo o montanhismo, o surf. Neste caso porque engloba também a parte relacionada com o mar. O surf podia ser muito melhor explorado. Há ainda o mergulho. Há zonas em Portugal em que o mergulho revela coisas lindíssimas. Portugal tem cinco regiões espectaculares para o salto de parapente. Quem ama parapente gasta balúrdios para ir ao Brasil, Estados Unidos. Isto quando nós estamos muito mais perto destes destinos emissores, nomeadamente países nórdicos, Alemanha, Holanda. Estes são os destinos prioritários para nós. Outro nicho que ainda ninguém explorou e que está a crescer imenso é o mercado da Rússia e Polónia. São aqueles que por questões de proximidade vão para a Turquia, Egipto. Agora, por diversas razões poderiam procurar Portugal. Neste momento estão a ir para Marrocos e para a Espanha. Mas nós podemos oferecer um produto, na minha opinião, de melhor qualidade. O atendimento em Portugal é excelente, o povo português é muito hospitaleiro. O que falta é focar a promoção nestes nichos.
C.P. - No livro refere que são sobretudo os estrangeiros os que têm apostado nestes nichos de mercado. Na sua opinião porque não há uma aposta maior dos portugueses?
J.S. - Falta de informação correcta. A maioria dos portugueses tem a ideia que a agricultura ou o trabalho rural continuam como no tempo do Salazar, actividades brutais, com as mãos, com animais. Os estrangeiros percebem, no nosso território, que ao utilizarem as modernas tecnologias, a produtividade passa a ser muito maior. Em segundo lugar, apostam nos produtos certificados. Alguns portugueses acham que leva muito tempo a conseguir a certificação. E leva algum tempo se pensarmos numa lógica de lucro a muito curto prazo. Acontece é que depois estes portugueses não entram em alguns mercados. Um estrangeiro que vem investir em Portugal fá-lo a longo prazo. Tem a paciência necessária para conseguir um produto certificado e vai vender lá fora a um preço muito maior.
C.P. - Mas também foca na presente obra portugueses que exportam.
J. S. - No livro «Portugal rural - a oportunidade» faço uma descrição de uma empresa do Minho que exporta o seu espumante para o maior exportador de vinho, a França. E mais do que isso a empresa nacional exporta espumante para a região francesa que, por sua vez, mais exporta vinhos dentro da França, Champagne. Alguns empresários ficaram admirados e perguntaram-me como consegue isto? É muito fácil. Quando alguém está em Champagne e quer comprar os vinhos confronta-se, muitas vezes, com preços elevados. Assim, perguntam nas adegas se não há alguma coisa mais barata, mas de boa qualidade. Aí vende-se o produto português, porque este tem excelente qualidade e é mais barato do que os vinhos de Champagne. Este é o «truque» que falta a quem faz o marketing de produtos portugueses, sobretudo de produtos rurais. Faz-se uma promoção de cariz mais geral quando se deve olhar cada produto e cada nicho. Não temos em Portugal um produtor a exportar um milhão de garrafas. Quando se diz que Portugal tem uma produção pequena e que os produtores pequenos não conseguem exportar, tal não é verdade. Porque os bons nichos de mercado para a qualidade que temos em Portugal não são aqueles que pedem um milhão de garrafas. São antes nichos que pagam muitíssimo bem e que procuram pequenas quantidades.
C.P. - Pode dar-nos alguns exemplos de nichos de mercado já trabalhados e com sucesso?
J.S. - Se falamos em turismo temos o golfe; se falarmos em vinhos é o produto corrente, não é o gourmet. O vinho normal, que poderia ser exportado já o está a ser, não podemos crescer. Interessa-nos exportar o que dá lucro e aí falo de produtos gourmet, vinhos, queijos. Há, por exemplo, substâncias extraídas de determinados produtos a que aqui ninguém dá valor e que entram na produção de fármacos, cosméticos e algumas indústrias alimentares. Em Portugal não se presta atenção às estevas. Delas extrai-se um substituto do açúcar. Bastam, então, pensar nas potencialidades do mercado, com milhões de diabéticos que não podem consumir açúcar mas que querem algo doce. Há muitos nichos de mercado seja no sector do turismo, seja no sector de produtos rurais, que devem ser melhor explorados. Esta é a saída para a depressão económica em que estamos mergulhados.
Não vamos conseguir exportar mais os produtos tradicionais, temos de inovar.
C.P. - Dá-nos um exemplo interessante. Pode apontar outro?
J.S. - Outro exemplo fantástico prende-se com os biocombustíveis. Os países nórdicos importam quantidades gigantescas de etanol para países muito distantes, como Brasil e as Filipinas. O etanol pode ser feito da beterraba. Temos na região de Santarém tudo aquilo que é necessário. Em Coruche há duas indústrias de produção de álcool que estão abandonadas. É um crime porque com 30 ou 40 mil euros adapta-se estas indústrias para fazer o etanol. Além de exportar, estaríamos a produzir o etanol para substituir o crude. Ganhávamos pelos dois lados, exportávamos e deixávamos de importar crude.
* Jack Soifer nasceu no Rio de Janeiro, Brasil, mas percorreu o Mundo. Formou-se em engenharia e gestão. Ganhou reputação mundial na área da consultoria em 11 países, tais como Rússia, Brasil, Angola, China e Estados Unidos da América. É autor de diversos livros como «Empreender Turismo de Natureza», «o Futuro do Turismo», «A grande pequena empresa». Assina com regularidade colunas de opinião em jornais, onde aborda temas como a inovação, economia, exportação. Tem experiência em 36 sectores de actividade.
Sara Pelicano; fotos - Antunes Amor
in:cafeportugal.net
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