Federação Europeia de Caminhos-de-Ferro Turísticos apelou a museus para não comprarem comboio de via estreita estacionado na Régua, em nome da defesa do património português.
A CP tentou vender junto de museus ferroviários europeus o comboio histórico de via estreita estacionado na Régua, mas a Federação Europeia das Associações de Caminhos-de-Ferro Turísticos (Fedecrail) boicotou essa tentativa, pedindo aos museus que renunciassem à compra, mesmo que estivessem interessados.
\"Essa proposta pareceu-nos escandalosa, porque o material em via métrica português é raro e é uma composição que está em bom estado\", disse ao PÚBLICO Jacques Daffis, vice-presidente da Fedecrail, que tomou a iniciativa de informar o Museu Nacional Ferroviário português, que desconhecia esta tentativa de venda por parte da CP. \"O que é incrível é que a CP tenha proposto a sua venda sem informar previamente o museu português\", disse, explicando que a posição da Fedecrail é de que o património deste tipo só deve ser vendido ao estrangeiro \"se não houver nenhuma possibilidade de preservação no país de origem e/ou se estiver em perigo\".
A tentativa de venda partiu da CP Frota, a unidade de negócios que gere o material circulante, através de um email muito informal, datado de 9 de Novembro e enviado para museus ferroviários europeus, no qual até se propunha que fossem estes a avançar com uma proposta de preço.
Contactada a CP, a porta-voz da empresa explicou que se trata de um comboio que está em condições operacionais (em 2005 ainda circulou na Linha do Corgo), mas que não tem agora utilização possível em Portugal, com o fim anunciado da Linha do Vouga, que é a última linha de via estreita em funcionamento no país. \"Podendo haver interesse por alguma companhia ferroviária na sua colocação ao serviço para fins turísticos, a CP fez uma primeira auscultação do mercado para verificar a existência de eventuais interessados\", disse a mesma fonte. A CP mantém, por isso, o interesse na venda, mas admite agora que \"será dada preferência ao Museu Nacional Ferroviário, caso este tenha disponibilidade\" para o comprar.
Esta posição oficial da CP surpreendeu o presidente da Fundação do Museu Nacional Ferroviário, Júlio Arroja, que tinha pedido à CP para que houvesse uma \"cedência\" (e não uma venda) daquele material circulante ao museu. \"Foi feito um pedido à administração da CP e creio que o assunto está bem encaminhado\", disse ao PÚBLICO.
É que, embora tenha sede no Entroncamento, o Museu Nacional Ferroviário tem secções museológicas em todo o país e existe precisamente um projecto para Macinhata do Vouga (Águeda). Este projecto consiste na requalificação do complexo ferroviária daquela estação, para albergar ali o comboio histórico e poder vir a dar-lhe utilização, com passeios turísticos entre Aveiro, Águeda e Sernada do Vouga. Um projecto que agora fica no limbo, com o encerramento da Linha do Vouga.
Material do início do séc. XX
O comboio histórico de via estreita em causa é composto por uma locomotiva a vapor fabricada na Alemanha em 1923 e enviada para Portugal a título de indemnização da I Grande Guerra. Esta máquina prestou serviço em praticamente todas as linhas de via estreita do país e está ainda operacional. A composição pode também ser rebocada por uma locomotiva a diesel de 1964, fabricada em Espanha, e comprada pela CP em segunda mão nos anos setenta.
Além de um furgão em madeira de 1925 e de um vagão-cisterna, a composição inclui uma carruagem de origem belga de 1908, outra fabricada na Alemanha em 1925 e ainda uma outra construída pelos então Caminhos de Ferro do Estado, nas oficinas do Porto, em 1913. O conjunto constitui um acervo único em Portugal e raro na Europa, que deve ser preservado, \"de preferência no país de origem\", refere Jacques Daffis.
Apesar de residual em Portugal, a exploração de comboios turísticos e dos museus ferroviários a que estes estão associados constituem uma actividade que só em três países europeus – Alemanha, Reino Unido e França – emprega 3812 pessoas e factura anualmente 174 milhões de euros.A Fedecrail – Federação Europeia dos Caminhos-de-Ferro Turísticos e Históricos é um organização de direito belga que congrega 616 membros de 27 países e que tem por missão a coordenação de todos os caminhos-de-ferro históricos e dos museus que se ocupam da sua conservação, bem como da protecção do material circulante que lhes está associado.
Em Portugal, o único comboio histórico em funcionamento é o do Douro, entre a Régua e o Pinhão, que só circula no período de Verão. A CP ameaça acabar com ele, se não aparecer qualquer entidade disposta a assumir-se como parceira de exploração do comboio que este ano registou prejuízos da ordem dos 60 mil euros. A CP já teve também o Comboio do Vinho do Porto, que circulou no Douro, mas que se encontra agora semi-abandonado em Contumil.
Apesar de residual em Portugal, a exploração de comboios turísticos e dos museus ferroviários a que estes estão associados constituem uma actividade que só em três países europeus – Alemanha, Reino Unido e França – emprega 3812 pessoas e factura anualmente 174 milhões de euros.A Fedecrail – Federação Europeia dos Caminhos-de-Ferro Turísticos e Históricos é um organização de direito belga que congrega 616 membros de 27 países e que tem por missão a coordenação de todos os caminhos-de-ferro históricos e dos museus que se ocupam da sua conservação, bem como da protecção do material circulante que lhes está associado.
Em Portugal, o único comboio histórico em funcionamento é o do Douro, entre a Régua e o Pinhão, que só circula no período de Verão. A CP ameaça acabar com ele, se não aparecer qualquer entidade disposta a assumir-se como parceira de exploração do comboio que este ano registou prejuízos da ordem dos 60 mil euros. A CP já teve também o Comboio do Vinho do Porto, que circulou no Douro, mas que se encontra agora semi-abandonado em Contumil.
Carlos Cipriano in Público
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