OPINIÃO: Jorge Lage |
E as águas apressadas acalmaram.
Foram subindo aqui e além; e formaram
O enorme lago desta antevisão.
Daqui, do miradouro do Arrebentão,
Contemplo as águas lisas que inundaram
As mil memórias dos que ali andaram
Roubando à terra um pouco do seu pão.
Além, rodeando um monte como ilhota,
Um barco vai cumprindo a sua rota
Para deleite de quem nele descansa.
Porém, se os ventos sopram ao revés,
Será o Santo Antão, mais uma vez,
Que as águas revoltosas pára e amansa.
Manuel António Gouveia in «Rio Sabor»
Com este poema de Manuel António Gouveia pretendemos memorar todos os que se têm batido por rios mais naturais em Trás-os-Montes, principalmente os que de todas as formas, pela escrita, pela filmagem ou em simples manifestações desaprovam as grandes barragens do Baixo Sabor e a do Tua. A barragem do Tua, em plena região vinhateira do Douro classificada de Património da Humanidade, vai tragar a última e mítica linha-férrea do Tua, entre a Foz-Tua e Mirandela. Linha que encarna o engenho e o suor de um Portugal Interior dos finais do século XIX.
Qualquer nação culta e evoluída saberia equilibrar a solução de aproveitamento de energia hídrica, com a memória e os potenciais interesses turísticos desta região transmontano-duriense. Foi uma selva de interesses e será sempre um grito de revolta contra o poder económico cego, que Jorge Pelicano soube magistralmente registar no filme: Pare, Escude e Olhe.
Os Municípios afectados pela nova barragem da foz do Tua têm a obrigação de exigir uma comparticipação anual à empresa EDP pelo aluguer das terras ocupadas pelas águas da barragem e pela energia produzida. É tempo dos municípios acordarem para os direitos transmontanos-durienses sobre as barragens que lucram à custa das nossas águas e das nossas terras.
in:jornal.netbila.net
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