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Mogadouro é terra de cereais, centeio, trigo e cevada, vinho e azeite. Domina largamente o centeio, mas quase sempre em quantidades insuficientes para as necessidades das comunidades. Ao trigo (temporão) junta-se, por regra, algum serôdio. Cevada regista-se em algumas situações, mas sempre pouca, pois como refere o memorialista de Penas Róias, «não é terra dela». Vinho regista-se em muitos casos; menos o azeite. E quando se anota refere-se sempre que é pequena quantidade. E naturalmente a castanha. Uma informação estatística, rara nestas Memórias, sobre o volume das produções, é-nos fornecida na memória da paróquia de Vilarinho de Galegos, feita a partir do rol dos dízimos da paróquia.
Aí claramente o centeio aparece a larga distância, relativamente ao trigo e ao serodio: regista-se um montante de dízimo pago de 800 alqueires de centeio, de trigo 100 alqueires e de serôdio 30 alqueires. De castanha regista-se o montante assinalável de 70 alqueires. Normalmente o dízimo da castanha não tem uma relação directa com a produção, o que significa que os seus montantes podem ser ainda bem mais elevados. Dos líquidos, de vinho, 50 almudes, de azeite como no ano de 1757 se secaram as oliveiras, não vem referenciado à colheita. Isto é, (multiplicando por 10 o valor decimal), na paróquia colhe-se um mínimo de 930 alqueires de pão (centeio, trigo e serôdio) que repartido pelos 92 vizinhos (fogos ou casas) que enumera o memorialista, dá uma média de produção de cerca de 100 alqueires de pão, isto é, cerca de dois carros e meio de pão (a 40 alqueires por carro). Naturalmente esta média esconde a realidade que é a falta de pão com que se debate em regra uma parte significativa da população. Conforme a informação de Ventozelo onde se colhe essencialmente pão centeio, «metade da população sobra-lhe para vender, um terço produz o suficiente para as suas casas, mas outro terço falta-lhe pão para a meia parte do ano».
A estatística da freguesia de Lagoães de 1790 dá de trigo 230 alqueires, centeio 1000, cevada 15, vinho 50 almudes, azeite 10, castanha 80 alqueires, que são valores concordantes com os dados memorialísticos de 1758.
Das outras culturas, referência para o linho, a seda, o sumagre (este em grande quantidade em Bemposta). Dos frutos também se assinala grande variedade e em Macedo do Peso, melões, melancias, fava, grão de bico. Em Vale do Porco, entre os frutos referenciados, castanha, pêra, maçã, refere expressamente «muito marmelo». E também o azeite que em algumas terras ganha particular relevância.
É o caso de Castro Vicente em que se colhe em abundância «e se vende muito para as (terras) circunvizinhas» (Memória de Castro Vicente, Mogadouro). Estamos pois em terras que quase circunscrevem as suas produções aos cereais, ao centeio e ao trigo, para onde devem centrar todos os esforços. No trigo recorre-se às duas variedades, o temporão e o serôdio. E alargando as culturas às terras dos montes, ainda que estas só produzem com esterco (Memória de Sanhoane). O clima e também a pobreza dos solos são os principais obstáculos ao maior desenvolvimentos das culturas. O frio em terras como Variz está na origem de colheitas normalmente muito limitadas. O calor e a seca excessivos produzem efeitos no mesmo sentido. A grande seca de 1757 arruinou inclusive as oliveiras de Peredo de Bemposta, Vilarinho dos Galegos, matando muitas oliveiras (Memória de Vilarinho). Nem os milagres e procissões públicas acalmam as irregularidades do clima (Memória de Azinhoso e Macedo do Peso).
O concelho da Torre de Moncorvo é território de dominância dos cereais: centeio, o trigo, a cevada e também o milho. Também presente o vinho, o azeite, linho e seda e o sumagre. Nalgumas terras grande variedade de frutas, amêndoas e melões. O centeio, o trigo e a cevada estão de um modo geral presentes em todas as terras. Mas o centeio é sempre a produção mais abundante. O trigo é em geral referido como pouco, menos ainda a cevada. O milho poucas vezes é referido e nas duas variedades, milho grosso ou milhão e ainda milho miudo. Em relação com ele vai referida a cultura do feijão (Memória de Cabeça Boa). A estatística do século XVIII atribui ao centeio entre um terço a cinquenta por cento do total. Em 1790, a estatística das dizimarias de sete freguesias da área do Douro dão as seguintes percentagens: centeio, 50,3%; trigo, 29,5%; cevada, 14,3%; milho grosso (sem dados para duas freguesias e outras duas irrelevantes) 5,6%. O vinho é também escasso, excepção para a referência de Torre, onde se regista como bastante.A cultura das oliveiras pode atingir em algumas terras alguma extensão. É o caso de Adeganha, onde ao longo do Ribeiro de S. Martinho, as oliveiras poderão produzir mais de 1.000 almudes de azeite. É também o caso da Horta de Vilariça, mas aí muitos proprietários são de fora da terra (Memória de Horta da Vilariça). Especial referência é feita, em algumas memórias, à cultura do linho galego e linho canhamo, aí onde certamente a cultura é mais abundante como é o caso de Torre de Moncorvo, mas também Cabeça Boa, Cabeça do Mouro. O mesmo se passa relativamente à seda, referindo-se para algumas terras a abundância da amoreira. Em Cabeça do Mouro anota-se mesmo que o número de amoreiras é superior à extensão do terreno. Em Castedo, que a seda é, ao lado do sumagre, a cultura mais abundante. Nas frutas especial referência à pêra e amêndoa anotada em algumas partes como cultura importante (Felgar, Maçores, Larinho); a castanha (Castedo).
No concelho de Moncorvo, as serras e o vale da Vilariça, complementam o território de extensão e expansão das culturas e vão largamente referenciados pelos párocos memorialistas. Pela natureza dos solos e a eles adaptados, a das culturas, não há aqui em Moncorvo descontinuidades assinaláveis entre a área de cultivo e os incultos, os campos e os montes. A serra é em Moncorvo área, muitas vezes natural, de expansão de cereais, sobretudo o centeio e também o trigo (naturalmente para além dos arvoredo). De modo que é patente em todas as memórias, no capítulo respeitante à descrição dos montes, a cultura, de grande importância, dos cereais, especialmente do centeio. As serras vão efectivamente referidas muitas vezes como áreas de grande extensão e de boa produção (v.g. Felgar). O outro território de especial importância para a agricultura de Moncorvo, são as áreas do vale da Veiga da Vilariça. Aí se produz em grande extensão e produtividade uma extrema variedade de produtos agrícolas. Terreno de aluvião, vai assim descrito na Memória de Cabeço de Mouro «Não menos deleitavel à vista no tempo de Verão, a verdura dos barrais e veigas do território da Vilariça, com os seus frutos, como já disse, de trigos, cevadas, milhos, linhos canimos e melões, de que é abundante, porquanto alguns Invernos com as enxentes da dita ribeira de Vilariça e rio Sabor que vão parar e findar no rio Douro, e este como lhe passa ao través, tem mão das ditas enchentes e as faz espalhar pela planície das ditas veigas quase o espaço de mais de meia legoa e na vazante com o polme e lodo que lhe fica a faz bastantemente pingue».São escassas as referências aos níveis de abastança e suficiência da terra. A extensão da cultura pela serra e o contributo de Vilariça não são suficientes para alterar certamente o panorama comum, próprio destas culturas e estrutura, insuficiência e pobreza produtiva (Memórias de Cabeça Boa e Estevais).
continua...
Memórias Paroquiais 1758
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