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Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço.
A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)
(Henrique Martins)
COLABORADORES LITERÁRIOS
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.
quinta-feira, 11 de outubro de 2012
A GRANDE CONSPIRAÇÃO
Quando o candidato republicano à presidência dos Estados Unidos, Mitt Romney, é filmado numa conversa entre os seus a dizer que não se preocupará com os 47% de americanos que votam Obama porque se imaginam vítimas e apenas querem viver dependentes do Estado, não estamos perante uma das suas já habituais asneiras, mas sim perante aquilo que é o pensamento profundo da extrema-direita económica americana, cujos filhos dilectos agora nos governam, depois de terem tomado o poder no PSD. O que ele quer dizer é que procedeu a uma selecção e apenas governará para a metade dos americanos cujo bem-estar depende do abandono dos outros.
O "sonho americano" pressupunha uma sociedade livre, em que a igualdade se traduzia na possibilidade de cada um escolher o seu caminho e triunfar por si só — o que, por sua vez, pressupunha a igualdade de oportunidades para todos, à partida. Mas quando, em 1929, o capital especulativo rebentou com a bolsa de Nova Iorque e arrastou os Estados Unidos e o mundo para a Grande Depressão, F. D. Roosevelt e J. M. Keynes demonstraram que o Estado não se podia limitar à função de mero espectador do "saudável jogo económico" e que lhe cabia um papel decisivo na regulação do sector financeiro e industrial, no estímulo à economia e ao emprego em tempos de crise e na correcção das desigualdades que a tão louvada igualdade de oportunidades não garantia. Depois de FDR. todos os presidentes democratas alimentaram o sonho de uma .América onde o sucesso individual não implicasse a construção de um país que, sendo a nação mais rica do mundo, abandonava à sua sorte um exército de desempregados permanentes, de homeless habitando nas esquinas ou nos parques e de dezenas de milhões de americanos morrendo sem assistência médica porque os seus seguros privados de saúde ou não existiam ou não chegavam para os tratamentos. A isto chamam os republicanos uma tentativa de reproduzir o "estado social" — que, segundo eles, é a ruína da Europa. No credo republicano, apenas Deus e o talento individual de cada um determinam o destino das pessoas e das nações.
A falsidade de Romney é dizer que só os desventurados dependem do Estado. Sob a administração de George W. Bush, o Estado tudo fez para ajudar os potentados: baixou-lhes os impostos, desregulou-lhes a actividade, consentiu-lhes todo o tipo de crimes ambientais, sempre em nome do princípio de que o mercado e a iniciativa privada, deixados em paz e à solta, encarregar-se-iam de criar e semear a riqueza universal. O resultado foi novo triunfo da especulação financeira com a consequente falência de quase todo o sistema, a destruição de milhões de postos de trabalho e a ruína da administração, obrigada a fazer dinheiro sem parar para evitar a depressão. Depois de o pai ter deixado o país em défice descontrolado e depois de o democrata Clinton, contrariando a propaganda republicana, ter posto ordem nas contas públicas, passando ao seu sucessor um país em superavit, o idiota absoluto do Bush-filho estoirou toda a herança que recebera e entregou a Obama uma administração de novo falida e uma nação economicamente destruída e em guerra. Mas onde os multimilionários, que tinham feito implodir tudo, viam a sua riqueza crescer 13% ao ano. O que os republicanos agora propõem não é consertar a economia que destruíram, com a mesma receita: é fazer uma coisa nova e nunca vista.
É esse também o projecto visionário que o actual PSD trouxe para Portugal. Há quase um ano que o venho escrevendo aqui: o programa económico deste Governo não se limita a tentar endireitar as contas públicas à custa de sacrifícios cuja insensibilidade e ineficácia são de bradar aos céus. Há também uma agenda escondida, que envolve uma vingança sobre a história, uma desforra de classe, quase uma alteração dos valores cívicos em que a Europa se funda. A razão pela qual nada bate certo na política económica do Governo PSD (onde o CDS faz de ingénuo útil) não tem que ver apenas com ignorância, impreparação e incompetência — o que já seria suficiente, por si só. A razão pela qual todos vemos como um trágico desastre aquilo que o Governo persiste em classificar como um sucesso, é que estamos a falar de coisas diferentes, de objectivos finais diferentes. Os portugueses — que aguentam tudo estoicamente há um ano, sem porem o dinheiro a salvo no estrangeiro ou desatarem a partir montras, como fazem os gregos — confiavam que, atravessado o Inferno, limpo o Estado das suas célebres "gorduras" e de todos os que, acima e abaixo, dele abusaram anos a fio, poderiam ter de volta um dia a economia, os empregos, as suas vidas. Porém, o objectivo de Passos Coelho e do seu quinteto de terroristas económicos (Gaspar, Moedas, António Borges, Braga de Macedo e Ferraz da Costa) é outro bem diferente: eles querem mudar o paradigma económico, mesmo que para tal tenham de destruir o país, como, aliás, estão a fazer. Fiel aos ensinamentos dos seus profetas americanos, esta extrema-direita económica que nos caiu em cima acredita que o Estado deve deixar de gastar recursos com quem não garante retomo e concentrar-se apenas em apoiar, ajudar, estimular e dar livre freio aos poucos negócios escolhidos — que, assim, não poderão deixar de prosperar. Aquilo a que chamam o "processo de ajustamento" da nossa economia é um caminho deliberado de abandono do que acham que não tem préstimo ou futuro: o emprego pago com salários decentes, os direitos do trabalho, as pequenas empresas que não exportam, a própria classe média que vive do trabalho. No fim do "ajustamento", ficarão apenas as grandes empresas financiadas por baixos salários ou instaladas nos antigos monopólios públicos com lucros garantidos, e uma multidão de emigrados ou de desempregados, prontos a trabalhar por qualquer preço e em quaisquer condições. Esse será o seu "sucesso" final.
Isto tornou-se claro com a história da TSU. Acreditar que uma medida tão irracional, fundada em estudos que nem se atrevem a mostrar e desacreditada por todos, capaz de pôr o país na rua e ameaçar o tão louvado consenso social e político, terá sido tomada por mera incompetência e precipitação é toma-los por estúpidos. O que se pretendia não era aliviar a tesouraria das empresas ou potenciar as exportações. O que se pretendia, como ficou evidente na entrevista do PM à RTP, era garantir uma "vantagem" permanente: a baixa de salários. Porque esse é um dos objectivos centrais desta cruzada: desvalorizar por todas as formas, incluindo por via fiscal, o valor do trabalho. O princípio é simples e, se atentarem bem, tudo segue uma ordem pré-estabelecida: primeiro, rever a legislação laboral, para tornar os despedimentos fáceis e baratos; por essa via, criar um batalhão de desempregados que pressionem o mercado de trabalho, fazendo baixar os custos salariais; assim, potenciar os lucros de algumas empresas de mão-de-obra intensiva; e, assim garantir o sucesso do “ajustamento” da nossa economia, “so help them God”.
Lembrem-se do Hamlet: “ a loucura dos poderosos não pode passar sem vigilância”.
P.S.: — Pelo segundo ano consecutivo, a Caixa Geral de Depósitos vai apresentar perdas — que, de uma maneira ou de outra, haveremos de pagar, sob o disfarce de medidas da troika. Perdas resultantes da aposta na especulação imobiliária e nos financiamentos dados a amigos para tentarem comprar o BCP ou outras oportunidades de lucro garantido. Mas talvez tudo não passe de uma manobra para nos convencerem de que o menos mau ainda é privatizar a Caixa. Falta gente na prisão.
P.S. 1 — Sem nenhum espanto, ficámos a saber que Alberto João interpretou à sua maneira o acordo feito com as Finanças para evitar a falência iminente da Madeira, a que a sua gestão de facturas debaixo do tapete a havia conduzido. Isto é, recebeu o dinheiro e gastou-o, mas esqueceu-se de cortar nas despesas. Eis uma situação insolúvel, sem uma saída drástica: quando está à rasca, ele assina todas as promessas, mas, assim que recebe o dinheiro, retoma o regabofe e os insultos; quando o dinheiro volta a acabar, regressa o choradinho e os governos, sem poderem condenar os madeirenses à fome, lá lhe dão mais dinheiro; estes, assim convencidos que da manutenção do inimputável depende a sua sobrevivência, reconduzem-no eternamente. E o pobre alucinado acaba a gabar-se de "45 vitórias em 37 anos" — todas e cada uma pagas do nosso bolso. Na próxima vitória, eu quero a Madeira independente. Já!
P.S.2 — O que o Governo tinha a fazer com as Fundações era muito simples: fechar as públicas que apenas servem para duplicar funções da administração, empregar boys e ocultar dívida, e cessar qualquer apoio financeiro ou material às privadas. Em vez disso, e ao fim de ano e meio de estudos, o que o Governo fez foi classificá-las para efeitos de manutenção de apoios. O resultado é um escândalo: basta dizer que a Fundação Social-Democrata da Madeira, com a qual Jardim financia o partido, ficou classificada à frente da Fundação Gulbenkian. Eis mais um sucesso de uma "reforma estrutural".
Miguel de Sousa Tavares in Expresso 22SET2012
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