Número total de visualizações do Blogue

Pesquisar neste blogue

Aderir a este Blogue

Sobre o Blogue

SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

A GRANDE CONSPIRAÇÃO


Quando o candidato republicano à presidência dos Estados Unidos, Mitt Romney, é filmado numa conversa entre os seus a dizer que não se preocupará com os 47% de americanos que votam Obama porque se imaginam vítimas e apenas querem viver dependentes do Estado, não estamos perante uma das suas já habituais asneiras, mas sim perante aquilo que é o pensamento profundo da extrema-direita económica americana, cujos filhos dilectos agora nos governam, depois de terem tomado o poder no PSD. O que ele quer dizer é que procedeu a uma selecção e apenas governará para a metade dos americanos cujo bem-estar depende do abandono dos outros.
O "sonho americano" pressupunha uma sociedade livre, em que a igualdade se traduzia na possibilidade de cada um escolher o seu caminho e triunfar por si só — o que, por sua vez, pressupunha a igualdade de oportunidades para todos, à partida. Mas quando, em 1929, o capital especulativo rebentou com a bolsa de Nova Iorque e arrastou os Estados Unidos e o mundo para a Grande Depressão, F. D. Roosevelt e J. M. Keynes demonstraram que o Estado não se podia limitar à função de mero espectador do "saudável jogo económico" e que lhe cabia um papel decisivo na regulação do sector financeiro e industrial, no estímulo à economia e ao emprego em tempos de crise e na correcção das desigualdades que a tão louvada igualdade de oportunidades não garantia. Depois de FDR. todos os presidentes democratas alimentaram o sonho de uma .América onde o sucesso individual não implicasse a construção de um país que, sendo a nação mais rica do mundo, abandonava à sua sorte um exército de desempregados permanentes, de homeless habitando nas esquinas ou nos parques e de dezenas de milhões de americanos morrendo sem assistência médica porque os seus seguros privados de saúde ou não existiam ou não chegavam para os tratamentos. A isto chamam os republicanos uma tentativa de reproduzir o "estado social" — que, segundo eles, é a ruína da Europa. No credo republicano, apenas Deus e o talento individual de cada um determinam o destino das pessoas e das nações.
A falsidade de Romney é dizer que só os desventurados dependem do Estado. Sob a administração de George W. Bush, o Estado tudo fez para ajudar os potentados: baixou-lhes os impostos, desregulou-lhes a actividade, consentiu-lhes todo o tipo de crimes ambientais, sempre em nome do princípio de que o mercado e a iniciativa privada, deixados em paz e à solta, encarregar-se-iam de criar e semear a riqueza universal. O resultado foi novo triunfo da especulação financeira com a consequente falência de quase todo o sistema, a destruição de milhões de postos de trabalho e a ruína da administração, obrigada a fazer dinheiro sem parar para evitar a depressão. Depois de o pai ter deixado o país em défice descontrolado e depois de o democrata Clinton, contrariando a propaganda republicana, ter posto ordem nas contas públicas, passando ao seu sucessor um país em superavit, o idiota absoluto do Bush-filho estoirou toda a herança que recebera e entregou a Obama uma administração de novo falida e uma nação economicamente destruída e em guerra. Mas onde os multimilionários, que tinham feito implodir tudo, viam a sua riqueza crescer 13% ao ano. O que os republicanos agora propõem não é consertar a economia que destruíram, com a mesma receita: é fazer uma coisa nova e nunca vista.
É esse também o projecto visionário que o actual PSD trouxe para Portugal. Há quase um ano que o venho escrevendo aqui: o programa económico deste Governo não se limita a tentar endireitar as contas públicas à custa de sacrifícios cuja insensibilidade e ineficácia são de bradar aos céus. Há também uma agenda escondida, que envolve uma vingança sobre a história, uma desforra de classe, quase uma alteração dos valores cívicos em que a Europa se funda. A razão pela qual nada bate certo na política económica do Governo PSD (onde o CDS faz de ingénuo útil) não tem que ver apenas com ignorância, impreparação e incompetência — o que já seria suficiente, por si só. A razão pela qual todos vemos como um trágico desastre aquilo que o Governo persiste em classificar como um sucesso, é que estamos a falar de coisas diferentes, de objectivos finais diferentes. Os portugueses — que aguentam tudo estoicamente há um ano, sem porem o dinheiro a salvo no estrangeiro ou desatarem a partir montras, como fazem os gregos — confiavam que, atravessado o Inferno, limpo o Estado das suas célebres "gorduras" e de todos os que, acima e abaixo, dele abusaram anos a fio, poderiam ter de volta um dia a economia, os empregos, as suas vidas. Porém, o objectivo de Passos Coelho e do seu quinteto de terroristas económicos (Gaspar, Moedas, António Borges, Braga de Macedo e Ferraz da Costa) é outro bem diferente: eles querem mudar o paradigma económico, mesmo que para tal tenham de destruir o país, como, aliás, estão a fazer. Fiel aos ensinamentos dos seus profetas americanos, esta extrema-direita económica que nos caiu em cima acredita que o Estado deve deixar de gastar recursos com quem não garante retomo e concentrar-se apenas em apoiar, ajudar, estimular e dar livre freio aos poucos negócios escolhidos — que, assim, não poderão deixar de prosperar. Aquilo a que chamam o "processo de ajustamento" da nossa economia é um caminho deliberado de abandono do que acham que não tem préstimo ou futuro: o emprego pago com salários decentes, os direitos do trabalho, as pequenas empresas que não exportam, a própria classe média que vive do trabalho. No fim do "ajustamento", ficarão apenas as grandes empresas financiadas por baixos salários ou instaladas nos antigos monopólios públicos com lucros garantidos, e uma multidão de emigrados ou de desempregados, prontos a trabalhar por qualquer preço e em quaisquer condições. Esse será o seu "sucesso" final.
Isto tornou-se claro com a história da TSU. Acreditar que uma medida tão irracional, fundada em estudos que nem se atrevem a mostrar e desacreditada por todos, capaz de pôr o país na rua e ameaçar o tão louvado consenso social e político, terá sido tomada por mera incompetência e precipitação é toma-los por estúpidos. O que se pretendia não era aliviar a tesouraria das empresas ou potenciar as exportações. O que se pretendia, como ficou evidente na entrevista do PM à RTP, era garantir uma "vantagem" permanente: a baixa de salários. Porque esse é um dos objectivos centrais desta cruzada: desvalorizar por todas as formas, incluindo por via fiscal, o valor do trabalho. O princípio é simples e, se atentarem bem, tudo segue uma ordem pré-estabelecida: primeiro, rever a legislação laboral, para tornar os despedimentos fáceis e baratos; por essa via, criar um batalhão de desempregados que pressionem o mercado de trabalho, fazendo baixar os custos salariais; assim, potenciar os lucros de algumas empresas de mão-de-obra intensiva; e, assim garantir o sucesso do “ajustamento” da nossa economia, “so help them God”.
Lembrem-se do Hamlet: “ a loucura dos poderosos não pode passar sem vigilância”.
P.S.: — Pelo segundo ano consecutivo, a Caixa Geral de Depósitos vai apresentar perdas — que, de uma maneira ou de outra, haveremos de pagar, sob o disfarce de medidas da troika. Perdas resultantes da aposta na especulação imobiliária e nos financiamentos dados a amigos para tentarem comprar o BCP ou outras oportunidades de lucro garantido. Mas talvez tudo não passe de uma manobra para nos convencerem de que o menos mau ainda é privatizar a Caixa. Falta gente na prisão.
P.S. 1 — Sem nenhum espanto, ficámos a saber que Alberto João interpretou à sua maneira o acordo feito com as Finanças para evitar a falência iminente da Madeira, a que a sua gestão de facturas debaixo do tapete a havia conduzido. Isto é, recebeu o dinheiro e gastou-o, mas esqueceu-se de cortar nas despesas. Eis uma situação insolúvel, sem uma saída drástica: quando está à rasca, ele assina todas as promessas, mas, assim que recebe o dinheiro, retoma o regabofe e os insultos; quando o dinheiro volta a acabar, regressa o choradinho e os governos, sem poderem condenar os madeirenses à fome, lá lhe dão mais dinheiro; estes, assim convencidos que da manutenção do inimputável depende a sua sobrevivência, reconduzem-no eternamente. E o pobre alucinado acaba a gabar-se de "45 vitórias em 37 anos" — todas e cada uma pagas do nosso bolso. Na próxima vitória, eu quero a Madeira independente. Já!
P.S.2 — O que o Governo tinha a fazer com as Fundações era muito simples: fechar as públicas que apenas servem para duplicar funções da administração, empregar boys e ocultar dívida, e cessar qualquer apoio financeiro ou material às privadas. Em vez disso, e ao fim de ano e meio de estudos, o que o Governo fez foi classificá-las para efeitos de manutenção de apoios. O resultado é um escândalo: basta dizer que a Fundação Social-Democrata da Madeira, com a qual Jardim financia o partido, ficou classificada à frente da Fundação Gulbenkian. Eis mais um sucesso de uma "reforma estrutural".

Miguel de Sousa Tavares in Expresso 22SET2012

Sem comentários:

Enviar um comentário