Era uma aldeia bastante deserta, tinha alguns habitantes dos quais alguns eram desconfiados e carrancudos, gente simples do campo sem papas na língua, todos viam os visitantes com mau olhar, pois geralmente não iam visitar o campo mas sim a famosa Bruxa que lá habitava.
Ela habitava num lugar mais afastado da aldeia, tinha uma estrada esburacada somente de terra e nada mais, raramente passava algum carro e quando passava era em serviço para buscar a bruxa Zulmira Pitão.
Ela ficava um pouco distante da aldeia, numa encosta os carros tinham que parar antes de chegar a sua casa que era velha, quase caindo de podre, janelas partidas, umas ainda se via a velha tinta de cor branca, outras com outros tons e cores velhas e com as tintas descascando aos poucos. Tinha um alpendre, cheio de gatos, plantas mal cuidadas, galinhas pela casa, não existia lugar algum que tivesse arrumado, tudo estava na maior confusão.
Lembro que em frente da casa existia um lago cujas águas estavam inquinadas, fedendo mesmo, o cheiro incomodava juntamente com os milhões de mosquitos que ficavam a fazer delicias naquela porcaria. Tinha um cão sarnento, cheio de pulgas, focinho feio e todo desengonçado que dava vontade de rir.
Ao lado existia o curral dos burros, um velho casal, segundo o povo fala que sempre existiram, mas nunca viram tanta vida assim...
Falavam quase a praguejar:
- Coisas de bruxas sabem lá que raio de feitiços que ela faz, melhor e nem abrir a boca senão ainda nos transforma em sapos.
Dizia o povo sempre a resmungar.
Acho que ninguém aceitava com bons olhos a sua bruxa da aldeia, alguns queriam falar, mas todos tinham medo dela, ela praguejava tanto, que eles fechavam as portas e janelas de sua casa, quando ela passava com medo que ela atirasse algo para dentro de suas casas. Engraçado alguns colocava sal grosso e Arruda debaixo dos tapetes para que nada de ruim entrasse em suas casas.
Às vezes escutava uma ladainha estranha, tipo proteções e rezas, para que, segundo eles protegerem as suas famílias de todos os mal do corpo e da alma. Engraçado o que uma mulher solitária produzia tanto medo, acho que ela tinha mais força que um exército em batalha.
Quando algo de mal acontecia na aldeia, tudo era culpa da bruxa, morria o gado, era a bruxa, adoecia pessoas, era a bruxa, uma verdadeira perseguição contra ela. Às vezes ela sentia revoltada demais com tanta conversa e tanto ódio da aldeia, ela jamais fez nada que prejudicasse o seu povo.
Ora certo dia uma criança adoeceu, ardendo em febre, logo outra criança começa a ter os mesmos sintomas e assim ficaram mais crianças doentes. O povo estava aflito, sem saber como fazer sem carros para transportá-las para locais com médicos e dar a devida assistência a elas. Resolveram entre todos pedir que um médico fosse a sua aldeia, mas preparado para ficar lá.
Demoraria três dias a chegada do medico isto se não chovesse, pois ai seria o cabo dos trabalhos o carro geralmente atolava na lama e era difícil para tirá-lo de lá. Tinha uma mãe que estava aflita vendo o seu filho a perder as suas forças e quase já nem o escutava a respirar e foi em busca de ajuda.
Quem podia ser a Bruxa Zulmira Pitão, ela com o seu coração ansioso, batendo, ofegante e de lágrimas correndo pela face completamente desesperada. A bruxa já sabia do que estava acontecer na aldeia, saiu bem cedo para a montanha, com os seus utensílios e foi cortar algumas plantas que só ela sabia que podiam curar. Quando estava a chegar a sua casa quando dá de caras com aquela mulher e que ajoelha em grandes prantos pedindo ajuda.
Logo acede ajudar a mulher e parte com ela para a aldeia, para espantos de alguns dos seus habitantes, ela prepara algumas infusões e outros tipos de mezinhas e aplica no menino doente. Ninguém mais quis a sua ajuda esperando talvez pelos reais resultados, mas temendo que a bruxa fizesse das dela.
Passou a noite e o menino ardia ainda em muita febre, falava em grandes delírios, nem por um segundo a bruxa abandonou o menino, sendo uma pessoa humana e até bastante meiga e simpática para espanto dos pais. Já eram sete horas da manhã e o menino começava a acalmar e baixava a sua febre, voltando aos poucos as suas cores a face, acordou mais tarde pedindo comida, dizia ele que já não comia há séculos e sorrindo para a bruxa ele exclamou:
- Estranho esta noite eu vi um anjo vestido de branco e parecias tu.
Sorrindo a bruxa, falou:
- Quem sabe se não vistes mesmo um belo anjo, mas certamente não fui eu.
Ainda ficou mais um dia naquela casa, sentindo o respeito e arrependimento daquela família que se desfaziam em amabilidades e atenções de gratidão.
Chega o medico a aldeia, não tem mãos a medir com tanta criança doente, administrava medicamentos, fazia de tudo, mas nada fazia melhorar aquelas crianças para desespero dele. O povo estava sem saber o que fazer, alguns diziam que foi a bruxa que provocou aquilo para castigá-los, algumas mulheres mandavam calar os seus maridos com medo de vir a precisar dela.
Passaram mais três dias sem quaisquer resultados nem sequer uma melhora daquelas crianças, o desespero já tomava conta do povo e daqueles pais incapazes de ajudar os seus filhos. Um dos homens cansado de ver que o medico nada fazia falou bem de alto e para todos:
Falou uma mulher completamente desesperada.
- Eu pedir ajuda a bruxa, quem quiser virá comigo, não posso mais por a vida da minha filha em risco por orgulho. O medico estava renitente e exclamava:
- Que pode uma bruxa fazer com os seus chás e suas mezinhas contra os medicamentos poderosos da medicina, somente o este povo que vive na ignorância.
Alguns encolheram os ombros e seguiram a sua viagem e foram pedir ajuda a bruxa que logo ela se prontificou ajudar as suas criancinhas.
Logo todas elas, melhoravam a olhos vistos, ficando todos os dias mais fortes, mais alegres. Corriam felizes todas as crianças da aldeia, aquela aldeia voltou a ser a mesma, mas não nos maus julgamentos e tratos da Bruxa Zulmira. Toda a aldeia agradeceu e fez uma grande festa em sinal de agradecimento.
Moral da desta historia, afinal as bruxas não são tão ignorantes e nem bichos do monte, esta aqui salvou vidas com a sua sabedoria, humildade e conhecimento das plantas...
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