sábado, 29 de agosto de 2015

A LENDA DOS TRÊS RIOS

Diz a lenda que três ribeirinhos alegres e saltitantes queriam ver o mar e um dia resolveram meter-se a caminho.
    -Partimos logo de manhã muito cedo - disse um deles.
    -Partimos antes do nascer do Sol - disse o outro.
    -E vamos ver qual de nós chega primeiro ao mar - disse o último.
    O luar brilhava nas águas adormecidas dos três ribeirinhos.

    No outro dia, o primeiro a acordar bocejou, agitou as águas e pensou:
    -Partirei já e assim serem o primeiro a chegar!
    O ribeirinho que sempre ouvira chamarem-lhe Tajo deixou-se escorregar pela montanha. Como era um ribeirinho muito alegre saudava os povoados e as gentes;  a todos dizia adeus e informava:
    -Vou a caminho do mar; tudo é muito lindo, mas eu quero ver o mar. Adeus, adeus.
    Brincava com as raparigas que lavavam a roupa nas suas águas claras, escolhia os caminhos mais belos entre pinheiros, oliveiras e pomares. Aos ribeirinhos que encontrava dizia sempre:
    -Vou para o mar! Venham comigo! Vamos para o mar!
    E muitos abraçavam aquele ribeirinho aventureiro . Cada vez mais forte, o Tajo seguia feliz e encantado com as terras que banhava.
    Um dia, uma menina que brincava com as ondas pequeninas chamou-lhe Tejo e ele gostou do novo nome.
    -Tejo serei para quem me veja.
    E para os pescadores, ele ficou a ser o Tejo que lhes dava o sustento de cada dia. Para os lavradores, ele é o Tejo que lhes rega as terras.
    Calmo e divertido, o Tejo chegou ao mar entrou nele de braços abertos. Ali estava, azul e refrescante, o mar que procura por tão longo caminho.
    Entretanto, tinha acordado outro ribeirinho, aquele que se habituara a que lhe chamassem Ana e sabia que outros que davam o nome de Uadi-Ana, ou seja, Rio Ana.
    Ainda ensonado, não sabia bem qual o melhor caminho para chegar ao mar. Ora corria para um lado, ora mudava para outro. mas sabia que o desejo mar se encontrava para sul.
    E lá seguia, entre terras baixas e secas; mais tarde entre rochedos queimados pelo sol.
    Apercebeu-se então de que o povo o chamava por um novo nome. Agora, para todos, ele era o Guadiana.
    Fez amizade com o Caia e Degebe, uns ribeirinhos tímidos que também queriam ver o mar e se juntaram a este novo amigo.
    Um dia, assim em boa união, encontraram o mar, um mar bem azul e águas tépidas e límpidas. O bom do rio Guadiana mergulhou no Oceano Atlântico feliz como uma criança que brinca na areia.
    Mas não era ele o primeiro a encontrar o Oceano pois o Tejo, que saíra mais cedo, mais cedo encontrara o mar.
    Enfriorado e dorminhoco, o terceiro ribeirinho só acordou quando o sol já tinha acordado há muito tempo.
    -Estou atrasado! Já é muito tarde! - pensava o ribeirinho ensonado.
    Lembra-se de que lhe tinham chamado Durius, mas agora as gentes que o olhavam e lhe chamavam Duero. Corria por terras baixas e secas onde se demorava a observar os campos cultivados.
    Mas não deixa de pensar
    -Vou ser o último! É preciso correr!
    E partiu de abalada  esgueirando-se por corredores pedregosos saltando rochedos, correndo apressado, cada vez mais apressado.
    Nas suas margens subiam encostas cobertas de vinhedos com folhas verdes na Primavera e folhas douradas no Outono, escondendo pesados cachos de uvas maduras.
    -Quero chegar ao mar, mas vou ser o último, já sei, vou ser o último! -

Por isso, o Douro que também é Duero e já foi Durius, acabou por seguir o caminho mais agitado.

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