A localização temporal e espacial das máscaras e danças rituais, a sua permanência na cultura do século XXI e apontamentos para auxílio educativo são abordagens que António Pinelo Tiza faz no seu livro «Máscaras e Danças Rituais - Ritos Ibéricos do Solstício de Inverno». A obra permite conhecer estas figuras demoníacas e danças avassaladoras, ainda presentes no nordeste transmontano, que resultam da crença dos povos no poder da Natureza.
O rosto esconde-se, oculto pela máscara de expressão demoníaca, talhada à mão num pedaço de madeira, cortiça, couro, latão. O corpo cobre-se de roupas velhas ou fatos de franjas coloridas. A cintura suporta o peso de chocalhos que serão agitados freneticamente, dando ao cenário uma dimensão ainda mais avassaladora. São homens que assumem a pele de mascarados em certas épocas do ano, como o Natal, o Ano Novo, o Carnaval. Consoante a festa, as personagens e as localidades, os mascarados assumem diversos nomes. Seja caretos, carochos, velhas, chocalheiros ou farandulos, os mascarados, tal como as danças rituais, parecem estar ligados à crença de encomendar à Natureza e aos deuses alguma sorte para as colheitas, para o novo solstício.
«O mascarado assume um papel central no desenrolar das celebrações rituais. A máscara surge como adereço indispensável ao exercício de actos mágicos», descreve António Pinelo Tiza no seu livro «Máscaras e Danças Rituais – Ritos Ibéricos do Solstício de Inverno». Natural de Varges, Bragança, desde cedo que este etnógrafo se interessou pelas máscaras e danças rituais tão comuns na sua região.
Tem ao longo dos anos estudado esta tradição, comum no Nordeste de Trás-os-Montes e na região contígua de Zamora (Espanha), e agora reúne o seu trabalho naquele livro editado pela Eranos. «Máscaras e Danças Rituais» conduz o leitor pelo fascinante mundo dos rituais celebrativos, abordando aspectos históricos, a geografia, as coreografias. Assim, pelas palavras de António Pinelo Tiza, descobrimos que as máscaras se caracterizam pela «simplicidade e alguma arte popular nos seus contornos, desenhos e pinturas».
Estas festas de mascarados são anteriores ao cristianismo. António Pinelo Tiza, e outros estudiosos desta temática, consideram que as máscaras terão origem celta e romana. «Os povos celtas atribuíram grande simbolismo aos solstícios, tanto de Inverno, como de Verão» e os romanos tinham também as suas celebrações ao Sol, mais ligadas ao ciclo agrário.
António Pinelo Tiza debruça-se também sobre as danças rituais. Pauliteiros em Portugal, Paloteo, em Espanha, estas danças são difíceis de datar. No entanto, o etnógrafo refere que, em documentos de autores antigos, há referências as danças semelhantes. «São conhecidos costumes dos povos antigos, tais como certas festividades agrárias, de culto à fertilidade, no decorrer das quais se executavam danças com paus», lê-se em «Máscaras e Danças Rituais».
Há estudiosos que ligam os pauliteiros a «danças de espadas, guerreiras», ainda presentes em algumas regiões espanholas. Mas António Pinelo Tiza coloca-se ao lado de outros autores que associam os paus usados nestas danças a alfaias «com as quais o homem começou a desenvolver os trabalhos agrícolas nas comunidades agro-pastoris». Os povos que a dançavam acreditavam que a dança favorecia a germinação das colheitas. «Hoje, os grupos seguem na frente das procissões e param em alguns locais para fazer a sua dança», sublinha o autor, mencionando assim que esta tradição ainda se mantém viva, «sobretudo na região de Miranda do Douro».
Além dos aspectos históricos e geográficos sobre as máscaras e as danças, o livro é também uma ferramenta de trabalho para professores. O autor explica que os professores «podem utilizar informação do livro nas suas aulas, retirando exemplos de como explorar os dois temas nas suas actividades educativas, por exemplo, em disciplina de história, geografia e artes visuais».
Sara Pelicano; Fotos - António Pinelo Tiza
in:cafeportugal.net
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