Por: Fernando Calado
(colaborador do Memórias...e outras coisas...)
Pois não tem acontecido nada de especial na pacatez tão desejada da aldeia. As cegonhas lá continuam na visita quotidiana aos lameiros, num voo branco e preto com uma precisão admirável. Em breve os ovos serão a promessa da vida. Os idosos continuam gemendo e mancando, espreitando a soalheira e desejando o tempo das colheitas, com dias longos e tardes quentes. O homem do pão, do peixe e da carne chega sempre, trazendo as novidades de longe e a comida para a mesa. Os rebanhos madrugaram, na melancolia dos balidos, sonhando prados verdes e os homens dos tratores já passaram para o campo, ufanos, na potência da técnica e no domínio da natureza. A lavoura com ar condicionado.
Eu também já tenho o meu quintal limpo e as ervas daninhas que me assombraram durante todo o Inverno já foram arrancadas. Tudo cavado… estrumado e a relva nova nascerá em breve. A semente da alface maravilha de Verão também já repousa no coração da terra e é promessa de salada na calmaria da tarde. As rosas já se anunciam no segredo do botão. As macieiras e a cerejeira estranham o tempo e temem as geadas que se adivinham, por isso, ainda guardam, na seiva nova, o milagre da flor.Os vizinhos passam e dizem: - Então já arranjou o quintal!
- Tem que ser!
E no ar fica o sonho da relva fresca, das rosas perfumadas, das cerejas vermelhas e das maçãs doces. Na verdade os milagres existem!
E logo tu chegarás no vermelho dos morangos!
Fernando Calado nasceu em 1951, em Milhão, Bragança. É licenciado em Filosofia pela Universidade do Porto e foi professor de Filosofia na Escola Secundária Abade de Baçal em Bragança. Curriculares do doutoramento na Universidade de Valladolid. Foi ainda professor na Escola Superior de Saúde de Bragança e no Instituto Jean Piaget de Macedo de Cavaleiros. Exerceu os cargos de Delegado dos Assuntos Consulares, Coordenador do Centro da Área Educativa e de Diretor do Centro de Formação Profissional do IEFP em Bragança.
Publicou com assiduidade artigos de opinião e literários em vários Jornais. Foi diretor da revista cultural e etnográfica “Amigos de Bragança”.
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