sexta-feira, 1 de agosto de 2014

CASTELO DE MOGADOURO

O “Castelo de Mogadouro” localiza-se na freguesia, povoação e concelho de Mogadouro, no distrito de Bragança, em Portugal.

Na vertente norte da serra de Mogadouro, a antiga vila e seu castelo constituíram, nos alvores da nacionalidade, um importante ponto estratégico sobre a linha lindeira em Trás-os-Montes, juntamente com os castelos de Algoso, Miranda do Douro, Outeiro, Penas Róias e Vimioso. Comenda da Ordem do Templo, posteriormente sucedida pela Ordem de Cristo, atualmente inclui-se na Área Turístico-Promocional das Montanhas.

História

Antecedentes

A primitiva ocupação de seu sítio remonta à época romana conforme identificado por trabalhos de prospecção arqueológica realizados em nossos dias junto à atual Igreja Matriz. A região apresenta ainda vestígios da ocupação dos Visigodos, sucedidos, a partir do século VIII pelos Muçulmanos, que, na opinião de alguns estudiosos, lhe legaram a toponímia. Por aqui passava então uma via secundária, cruzando a região de norte a sul, ligando-a à atual Astorga (a chamada Estrada Mourisca).

O castelo medieval

A época da Reconquista cristã da península Ibérica, e desde a fundação da nacionalidade portuguesa, a região de Miranda do Douro foi palco de numerosas batalhas, vindo os castelos de Mogadouro e Penas Róias, juntamente com os de Algoso, Miranda do Douro, Outeiro de Miranda e Vimioso a integrar a primeira linha de defesa do nordeste de Portugal, controlando a antiga Estrada Mourisca.

A constituição do reino de Portugal havia determinado a defesa ativa da capital, Coimbra. Para essa tarefa, Afonso I de Portugal (1143-1185) recorreu aos cavaleiros da Ordem do Templo, a quem incumbiu da proteção dos acessos a sul e a leste do rio Mondego. Em seu reinado, a Ordem recebeu das mãos de um particular — o seu cunhado, D. Fernão Mendes, senhor de Chaves e tenente de Bragança — o senhorio de três castelos: Penas Róias e Mogadouro, a norte do rio Douro, e o castelo de Longroiva, a sul. A doação do Castelo de Longroiva foi assinada em 10 de junho de 1145 e os outros dois castelos devem ter sido entregues sensivelmente por essa altura. (BARROCA, Mário Jorge. “A Ordem do Templo e a Arquitectura Militar Portuguesa do Século XII”. p. 186.) Anos depois, o seu património fundiário estendeu-se à Beira Baixa, com a doação de Idanha-a-Velha e Monsanto.

O Castelo de Mogadouro terá sido reforçado ou ampliado pela Ordem, de 1160 a 1165 de acordo com a arquitetura militar da época. Embora muito alterado ao longo dos séculos, acredita-se que o seu traçado fosse semelhante ao de Penas Róias, cuja reforma Templária é atestada por uma epígrafe datada de 1172. Assim, seria uma fortificação com torre de menagem isolada no centro do recinto muralhado, sendo este, por sua vez, defendido por torres quadrangulares.

Em 1197, num amplo processo de reconhecimento da autoridade real nesta região, Sancho I de Portugal (1185-1211) trocou os castelos de Mogadouro e de Penas Róias por territórios raianos da Beira Baixa (Idanha), certamente mais atrativos para os Templários, mas algumas décadas depois a vila é novamente mencionada como pertença daquela Ordem. Dois anos mais tarde (1199) as igrejas de Mogadouro passaram para o padroado real.

Sob Afonso II de Portugal (1211-1223), Mogadouro foi novamente pertença da Ordem dos Templários mas as igrejas continuaram no padrado real (1223).

Visando incrementar o povoamento e defesa da região, Afonso III de Portugal (1248-1279) passou carta de foral a Mogadouro e Penas Róias (27 de dezembro de 1272), título confirmado no ano seguinte (Santarém, 18 de dezembro de 1273), ampliado com algumas disposições e então comum a Penas Róias.

Sob o reinado de Dinis I de Portugal (1279-1325), a vila teve o seu foral renovado (1297), iniciando-se uma cerca para a sua defesa. São Mamede de Mogadouro constituía-se numa comenda dos Templários e, nessa época, foi elevada à categoria de priorado da Ordem. Em 1307, diante da extinção da Ordem, os seus domínios (e esta comenda) passaram para a Ordem de Cristo (1319).

Tem-se atribuído a esta época a reforma gótica do castelo, perspectiva que é reforçada pelo perfil ovalado da sua cerca, tal como Duarte de Armas a desenhará nos inícios do século XVI. Como comenda da Ordem de Cristo, o castelo foi adaptado a residência dos comendadores, facto que implicou grandes transformações na estrutura original. Desta forma, e durante os séculos XIV e XV, foram vários os edifícios construídos no interior, em especial durante o governo dos Távora (primeira metade do século XV).

Quando da Crise de Sucessão de 1383-1385, Mogadouro tomou o partido de Beatriz de Portugal.

João I de Portugal (1385-1433) doou a alcaidaria a Álvaro Pires de Távora (1433), cujo pai também já fora alcaide do castelo.

João II de Portugal (1481-1495) visitou a povoação no Outono de 1483, em trânsito de Lamego a Vila Real e Bragança, recolhendo ao Porto após ter visitado alguns outros lugares de Trás-os-Montes, como registrado nas crónicas de Rui de Pina e de Garcia de Resende. Acredita-se por essa razão que o Castelo de Mogadouro não deixaria de ser um daqueles cujo reparo o mesmo monarca fez anos depois encomendado a Cristóvão de Baião, cavaleiro da Casa Real.

Sob o reinado de Manuel I de Portugal (1495-1521), o Tombo da Comenda da Ordem de Cristo (1507) descreveu a alcáçova como "uma casa que se diz ser já em outro tempo aposentamento do prior e ora é estrebaria de Álvaro Pires de Távora, e parte ao levante e poente com casas do dito Álvaro Pires, ao aguião [norte] entesta no muro e ao avrego [sul] parte com o pátio do dito castelo. É térrea e leva de longo quatro varas e meia de medir pano e outras tantas de largo".

Neste momento a vila e seu castelo encontram-se figurados por Duarte de Armas (“Livro das Fortalezas”, c. 1509). O castelo está representado com uma barbacã de planta elíptica irregular, rematada por merlões, exceptuando "uma barreira derribada a mor parte e sem ameias e assi é o muro de dentro", a que se adossava, no canto, uma pequena torre quadrangular que "é começada". O castelejo apresentava planta poligonal irregular com duas torres salientes a norte, uma pentagonal e outra quadrangular, e um cubelo semicilíndrico junto desta, todos ameiados. No interior dispunham-se em redor da praça de armas dois "pardieiros" e oze "aposentos", retangulares e trapezoidais, alguns sobradados e telhados, providos de chaminés cilíndricas (antigas construções da Ordem). A torre de menagem, de planta retangular, era iluminada por frestas, "toda vã e fundada sobre penedo" à qual se adossavam os "aposentamentos sobradados" da alcáçova, o Paço dos Távora, composta por três corpos retangulares de alturas diferentes: o que se encostava à torre de menagem era o mais baixo, aberto por uma janela em arco pleno e quatro retangulares; o central, mais elevado, com dois pisos iluminados cada um por uma janela em arco pleno com balcão de madeira e rematado por merlões; e o extremo, um pouco mais baixo que o anterior, com janelas de arco pleno no primeiro registo e retangulares no segundo, com remate de merlões, tendo na fachada oposta um registo superior projetado em avançamento, com uma porta e uma janela em arco pleno, suportado por traves de madeira; sob este uma janela quadrada gradeada aberta no pano de muralha a que se ligava outro corpo retangular, inferiormente aberto por porta em arco pleno, e duas janelas em arco pleno no registo superior, frontal e lateralmente, coberto por telhado onde se elevavam duas chaminés. O acesso à alcáçova era feito por meio de escada de dois lanços em ângulo reto sob a qual se abria a passagem para a praça de armas, tendo quase defronte um poço circular. Extramuros, do lado leste, adossava-se à barbacã um cercado de coelhos e, do mesmo lado, estendia-se a vila com o seu pelourinho de gaiola; do lado oposto, as casa da periferia da povoação, uma igreja com uma torre campanário adossada, junto da barbacã e, mais afastado, um cruzeiro e cinco casas com logradouro cultivado.

Também data desse período, em 1512, o Foral Novo, concedido por sendo alcaides-mores os Távora, que desde o século XV haviam feito edificar um soberbo palácio, vindo a assumir importante papel na defesa de Trás-os-Montes ao final do século XVII, durante a Guerra da Restauração de independência portuguesa.

Do século XVII aos nossos dias

Data do século XVII a construção da torre do relógio.

No século XVIII, nas gravuras da época surge a denominação de "Palácio, a que chamam castelo". Na segunda metade deste século, diante do trágico destino dos Távora, e com a perda da sua função defensiva, o castelo foi sendo progressivamente abandonado, vindo a cair em ruínas.

O conjunto chegou até aos nossos dias como uma notável ruína, de que se conserva apenas a torre de menagem e parte das antigas muralhas.

Encontra-se classificado como Monumento Nacional pelo Decreto n.º 35.443, publicado no Diário do Governo, I Série, n.º 1, de 2 de janeiro de 1946.

A ZEP foi definida por Portaria publicada no Diário do Governo, II Série, n.º 29, de 4 de fevereiro de 1966.

A Direcção-Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais (DGEMN), promoveu intervenções desde 1950 (consolidação da torre e restos das muralhas), 1951 (regularização de terrenos), 1952 (construção da parede da torre), 1956 (escavações para sondagens), 1957 (restauro e consolidação das muralhas), 1958 (elevação de parte da muralha poente), 1959 (restauro das ameias da torre de menagem e consolidação das paredes). Novas intervenções tiveram lugar em 1961 (lajeamento da torre e porta nova), 1970 (conservação da torre), 1975 (reparação da torre), 1980 (reparação da torre e consolidação de pavimentos), 1981 (limpeza e beneficiação da muralha), e 1982 (trabalhos diversos de reparação e conservação).

No início da década de 1990 a torre foi alvo de vandalismo tendo sido destruído o corrimão, a porta de entrada e o material arqueológico depositado no interior.

Em 1 de junho de 1992, o imóvel foi afeto ao Instituto Português do Património Arquitetónico (IPPAR), pelo Decreto-lei n.º 106F/92, publicado no Diário da República, I Série A, n.º 126.

O Inverno muito rigoroso, em 1993, provocou estragos na torre do relógio.

Características

Trata-se de um castelo de fronteira, urbano, isolado, implantado na cota de 754 metros acima do nível do mar sobre uma colina com afloramentos rochosos, de onde se avista a serra de Mogadouro, a sul.

Apresenta planta elíptica, em aparelho de granito e xisto argamassado com barro, conservando torre de menagem de planta retangular, em aparelho "incertum", ameiada, com duas portas elevadas em arco rebaixado (a nordeste e a sudeste), a que se acede por escada de pedra de dois lanços em ângulo, com patamar. Na fachada noroeste abre-se uma janela retangular, gradeada, encimada por uma fresta e na fachada sudoeste rasgam-se duas frestas em dois registos. Tem adossado a sudeste um pano de muro da antiga alcáçova e respectivo cunhal, vazado por uma porta em arco pleno, e outro troço de muralha que liga o que resta da alcáçova a uma pequena torre de ângulo de forma trapezoidal, apresentando cantaria nos vértices e aparelho "incertum" a meio. É dividida internamente em três pavimentos, o último preparado para receber sinos, rematado em pirâmide. É encimada, nos vértices, por quatro pináculos de granito. A oeste, junto à torre de menagem, abre-se a boca de uma cisterna quadrangular. Na encosta sudeste encontra-se parte do que resta da barbacã.

in:fortalezas.org

Sem comentários:

Enviar um comentário