terça-feira, 2 de setembro de 2014

A Mudança de Sinal ou o Acelerado Envelhecimento do Nordeste Transmontano

Se é verdade que a desertificação e o envelhecimento do interior desencadearam o encerramento de muitas escolas que deixaram de ter utilidade devido à ausência de crianças, também não deixa de ser verdade que o encerramento de escolas e de outros serviços públicos essenciais promoveu o encerramento das aldeias do interior.

Era Agosto e durante alguns dias fomos até Trás-os-Montes. De Gimonde a Varge, de Rio de Onor a Montesinho, de Sacoias a Baçal fomos percorrendo a aldeias do Parque Natural de Montesinho passando também, contudo, pelas cidades transmontanas.

Nestas aldeias, apesar de ser Agosto e de os filhos da terra a elas voltarem, a desertificação era uma nota a que ninguém pode ficar alheio. Com os serviços essenciais por vezes a muitos quilómetros de distância, sem farmácia, mercearia ou médico por perto, o único serviço público que muitas vezes restava era a escola. Escola agora fechada e ao abandono nas aldeias e, nos maiores aglomerados populacionais, transformada em sede de múltiplos serviços: da banda de música, da rádio local, do centro de emprego ou do jornal da terra.

Se é verdade que a desertificação e o envelhecimento do interior desencadearam o encerramento de muitas escolas que deixaram de ter utilidade devido à ausência de crianças, também não deixa de ser verdade que o encerramento de escolas e de outros serviços públicos essenciais promoveu o encerramento das aldeias do interior. É uma pescada de rabo na boca: não há serviços porque não há pessoas ou não há pessoas porque não há os mais elementares serviços? O lema "fechar uma escola é fechar uma aldeia" mantém-se actual. Só que agora a somas às escolas contam-se as estações dos correios, os centros de saúde e os tribunais.... e já não se fecham só aldeias, corre-se o risco de fechar também vilas e cidades do interior

A desertificação e o envelhecimento que podem ser constatados por qualquer um, fazem-se notar também nos sinais de trânsito. O sinal de trânsito de perigo que indica a aproximação de um local frequentado por crianças é quase inexistente, por outro lado o sinal de perigo que indica a aproximação de um lugar frequentado por idosos pode ser avistado dezenas de vezes, em todos os aglomerados populacionais

É razão para nos interrogarmos, será que com o constante encerramento de serviços públicos e com os apelos sucessivos do Governo à emigração não teremos um dia destes todos o país, e não só o interior, sob um imenso sinal de perigo devido à aproximação de idosos? Porque são apenas os que restam...

Cristina Nogueira
in:diarioliberdade.org

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