A arquitecta Joana Gonçalves, distinguida a 29 de Setembro com o Prémio Ibérico de Investigação de Arquitectura Tradicional, considera que «há um património que se está a perder» em Portugal, e defendeu que se ponha em prática a investigação desenvolvida nesta área.
O prémio, criado por entidades de Portugal e de Espanha para valorizar o conhecimento e conservação do património na Península Ibérica, recebeu este ano 36 candidaturas, e a investigação de Joana Gonçalves foi escolhida por unanimidade.
Joana Gonçalves explicou que o trabalho de investigação «Tradição em Continuidade: Levantamento das Quintas da Terra Fria Transmontana e Contributos para a Sustentabilidade» foi feito para o mestrado na área de Arquitectura que realizou na Universidade do Minho.
«Desde há muito que me interesso pela área da reabilitação e, com este trabalho, pretendi fazer a ponte entre a arquitectura tradicional e a comunidade, abordando também a sustentabilidade», indicou.
Joana Gonçalves desenvolveu a investigação em quintas na região de Bragança, percorrendo localidades onde as casas, na maioria, se encontravam já em ruínas e os terrenos abandonados.
«Só dez das cerca de 60 casas que visitei estavam habitadas, as restantes estavam em ruínas», apontou, lamentando que «os antigos modos de habitar já se perderam, e com eles uma certa identidade. Mas ainda há pessoas com memórias desse tempo».
Na sua metodologia de trabalho, a investigadora realizou 25 entrevistas aos proprietários e fez um levantamento métrico, gráfico e fotográfico, além de ensaios higrotérmicos.
Através desses ensaios sobre temperatura e humidade no interior das casas antigas, Joana Gonçalves concluiu que as habitações das quintas «tinham uma temperatura muito mais estável no Verão do que as habitações modernas, da ordem dos 20 a 21 graus, quando nas habitações recentes sobe para os 30 graus».
«Hoje fala-se tanto em auto suficiência e em sustentabilidade, e isso era algo que antigamente já existia. Pode-se ainda aprender muito com estas formas de construir e de habitar que estão gradualmente a desaparecer», sustentou.
Joana Gonçalves observou que «há muita investigação desenvolvida nesta área que poderia ser colocada em prática, optando-se pela reabilitação em vez da construção de raiz».
Ao prémio, de carácter bienal e no valor de 3.000 euros, concorreram nesta edição 36 projectos, dos quais tinham sido apurados oito finalistas.
Promovido pela Fundação Convento da Orada (FCO), pela Fundação Antonio Font de Bedoya (FAF), pela Fundação Cultural do Colegio Oficial de Arquitectos de Léon (FUNCOAL) e pela Ordem dos Arquitetos de Portugal (OA), o prémio deste ano será entregue a 7 de Outubro, Dia Mundial da Arquitetcura, numa cerimónia, às 18h00, na sede da Ordem dos Arquitectos, em Lisboa.
Café Portugal/Lusa; Foto: Ruin´Arte
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