segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

Aldeias de Vila Flor lideram mercados dos cogumelos às águas com gás

Algumas aldeias de Vila Flor, no distrito de Bragança, contrariam o cenário generalizado de abandono do meio rural com o nome associado a marcas líderes de mercado e a uma concentração de investimentos garante de algumas centenas de postos de trabalho.

A aldeia de Benlhevai pôs os portugueses a comer cogumelos há 25 anos, sendo a sede do maior produtor ibérico do setor, criado por um empresário local. E em Sampaio, no mesmo concelho, jorram nascentes naturais de águas gaseificadas que curavam maleitas digestivas, foram vendidas em farmácias e inspiraram uma nova líder de mercado, com os sabores da Frize.

Totalizam mais de 200 postos de trabalho a que se juntam mais de uma centena, divididos pelo centro de apoio e manutenção da Ascendi - a concessionária das novas estradas IP2 e IC5, que se cruzam neste concelho da Terra Quente -, pela Capsfil, uma pedreira do grupo Mota-Engil para pavimentos rodoviários, da Resíduos do Nordeste e da DouroGás, que investiu num posto de abastecimento de Gás Natural Veicular para frotas de camiões.

A Santa Casa da Misericórdia lidera como maior empregadora, com 220 postos de trabalho num concelho com menos de 6.500 habitantes.

O setor agrícola marca também a dinâmica empresarial com as novas potencialidades do alargamento do regadio no Vale da Vilariça, terra fértil em hortícolas e pomares de citrinos e pêssego distribuídos por grandes superfícies.

Uma "economia muito sustentada" que faz de Vila Flor "o segundo ou terceiro maior exportador do distrito" de Bragança, segundo o presidente da Câmara, Fernando Barros, que aponta ainda as "grandes empresas agrícolas", com destaque para os mercados do vinho e do azeite.

Em pleno Vale da Vilariça está instalada uma das fábricas da Sumol/Compal, responsável pelas águas com gás natural Frize que foi mostrada, no início de dezembro, junto com as empresas locais de cogumelos, como exemplo de investimento sustentável, no evento Smart Travel, que reuniu no Nordeste Transmontano especialistas em soluções inteligentes, o chamado conceito "smart".

Há mais de um século que há registo da exploração das "milagrosas" águas com gás natural na zona de Sampaio.

"Eram um remédio milagroso, davam para tudo e até para tomar banhos", recorda José Afonso Lopes, natural do concelho e atual responsável pela manutenção.

Da exploração artesanal que era feita pela família Morais já nada resta e, há 20 anos, aquelas que foram vendidas como águas Bem Saúde deram lugar à Frize, com a aquisição por parte pela Fonte Netura. Mais tarde, chegou o grupo Sumol Compal, introduziu a novidade dos sabores e criou uma marca líder, sobretudo com o sabor a limão.

Em Sampaio são produzidos oito milhões de litros por ano, desde a extração, ao processo de separação do gás natural e reintrodução do mesmo, engarrafamento, rotulagem e armazenamento.

A empresa emprega 27 pessoas. Já teve o dobro.

O responsável local garante que a apesar de a crise ter travado o crescimento, a produção está "estabilizada".

Na aldeia de Benlhevai crescem os cogumelos, desde que há 25 anos o jovem Artur Sousa descobriu os "champignon" numa viagem e a França e decidiu "importar" o negócio, numa época em que os fungos ainda não eram moda na culinária portuguesa.

Começou com seis salas de produção na aldeia de Benlhevai, onde continua a empresa-mãe, com cerca de 170 postos de trabalho daquele que se transformou num grupo com mais unidades em Paredes, Vila Real e Espanha, e com perspetivas de expansão que não revela "por uma questão de estratégia".

De Benlhevai saem para todas as unidades, por semana, 400 toneladas do composto conhecido na zona pelo característico cheiro e que permite produzir semanalmente 170 toneladas de cogumelos.

Mais de metade, "60 a 70%" é exportada para Espanha, França e Holanda, como explicou Amável Teixeira, diretor do departamento de produção do grupo, que conquistou 90% do mercado português de cogumelo fresco e enlatado.

A Sousacamp emprega direta e indiretamente "700 pessoas, 170 na empresa-mãe".

Da mesma família, mas com um negócio à parte, um irmão, Eurico de Sousa, criou há 20 anos a Micellium, que produz cogumelos em fresco e produtos transformados, com a marca Alfunghi, dos quais se destaca a alheira de cogumelos, que é produto patenteado, os cogumelos de azeite de ervas finas e pudim de cogumelos.

A organização da empresa assenta num modelo de franchisado e, "nos próximos cinco dez anos", Eurico Sousa ambiciona instalar 20 franchisados em Trás-os-Montes e mais dez a nível nacional, em zonas estratégicas".

Com 40 postos de trabalho, comercializa 15 toneladas por semana em fresco e fatura cerca de dois milhões de euros por ano.

"Há aqui um conhecimento que pode criar riqueza", realça o autarca local, defensor da criação de um centro de investigação do cogumelo em torno deste núcleo de Benlhevai.

HFI // JGJ
Lusa/fim

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