A profunda religiosidade das gentes da Terra de Miranda assume expressão particularmente intensa em termos de vivência espiritual colectivamente assumida na Quaresma, quando se celebra a Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus Cristo.
O período da Semana Santa é um tempo de dor e de sofrimento mas também de fé e de esperança numa vida eterna liberta das dores terrenas, que se manifesta através de procissões carregadas de significado e de orações adequadas ao sofrimento e à redenção. Neste contexto de crença assumem especial significado os cantos e as orações associadas às várias práticas rituais e cultuais da Quaresma: são os cantares das almas ou encomendações das almas, são os martírios propiciadores da requerida reflexão sobre a vida terrena, são as toadas de misericórdia que se fazem ouvir nas procissões, entre outros, que dão eco colectivo de um sentimento colectivo de intensamente partilhada vivência. Orações e cantos para fazerem emergir das trevas da morte a força da luz redentora da ressurreição para a vida eterna.
As “orações das almas” participam do culto dos mortos e, nesta medida, podem ser assimiladas às Encomendações das Almas, – afirmou Michel Giacometti nos textos que acompanharam as edições das suas recolhas por todo o País – com a reserva de que estas não incluem qualquer forma de peditório no cerimonial, fortemente caracterizado, como lhe conhecemos. Ambas as cerimónias, visando a salvaguarda das almas do Purgatório, procedem do ensinamento da Igreja, para quem a oração dos mortos constitui um acto de piedade e de caridade, testemunhado no Antigo Testamento e na prática da sinagoga judaica. Foi Santo Odilon, abade de Cluny, que estabeleceu para sua Ordem uma comemoração geral de todos os fiéis defuntos, rapidamente adoptada e divulgada entre vários povos cristãos. Observe-se, por fim, que enquanto a “Encomendação das Almas” é um costume que pode considerar-se estritamente português, a “Oração das Almas”, a cujas origens aludimos, tomou feições particularizadas nos países de adopção.
Reportório
01. Encomendação das Almas (Águas Vivas)
02. Cantar das Almas – Fragmento (Aldeia Nova)
03. As Almas (Duas Igrejas)
04. Acordai, Irmãos Meus (Algoso)
05. Canto às Almas (Palaçoulo)
06. As Almas Santas – Fragmento (Malhadas)
07. Duas Tábuas de Moisés (Duas Igrejas)
08. Misericórdia (Sendim)
09. Naquele Altar (Águas Vivas)
10. Misericórdia (Malhadas)
11. Bendito e Louvado Seja (Duas Igrejas)
12. Domino Jesus Cristo (Águas Vivas)
13. Compadecei-vos de Nós, ó Deus (Duas Igrejas
Ano: Edição em 2008, Gravações realizadas entre 2001 e 2005 em vários locais
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