No baile do Clube estavam as senhoras mais finas da cidade, professores do Liceu, os militares ostentando os galões que brilhavam na noite, alguns comerciantes da rua Direita, judeus ricos, caixeiros-viajantes que estavam de passagem.
E ela estava muito triste!
- Queres dançar, ou já tens par? Pediu o Jaime da Vila com o ar mais boçal do mundo. A Antónia sentiu-se ofendida. Memórias antigas.
Como se acordasse dum sonho, cheio de pesadelos e tristezas, viu à sua frente o alferes de infantaria, também ainda mais triste. Era tão bonito.
- A Senhora dança?!
- Claro que danço! Disse a Antónia, magoada com o marido, sem pensar, como se soubesse, desde sempre que estava ali para dançar. O alferes apertou-a ligeiramente ao peito. A balsa já não se ouvia, só as mãos se colaram e acho que foi feliz! No ar havia um cheiro a canela vinda das campanhas de África. E não disse nada. A música terminou e o alferes tão perto. Depois teve medo! Pegou no xaile e saiu apressada do salão. Era uma menina. Tinha vinte e poucos anos.
O alferes ainda lhe disse num sussurro:
- Quando a volto a ver?!
- Não sei!
E saiu tremendo para a noite bragançana onde se desenhava um magnífico luar de Janeiro.
In: O MILAGRE DE BRAGANÇA - Fernando Calado
www.o-milagre-de-braganca.webnode.pt
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