sexta-feira, 10 de abril de 2015

...baile do clube...

No baile do Clube estavam as senhoras mais finas da cidade, professores do Liceu, os militares ostentando os galões que brilhavam na noite, alguns comerciantes da rua Direita, judeus ricos, caixeiros-viajantes que estavam de passagem.
E ela estava muito triste!
- Queres dançar, ou já tens par? Pediu o Jaime da Vila com o ar mais boçal do mundo. A Antónia sentiu-se ofendida. Memórias antigas.
Como se acordasse dum sonho, cheio de pesadelos e tristezas, viu à sua frente o alferes de infantaria, também ainda mais triste. Era tão bonito.
- A Senhora dança?!
- Claro que danço! Disse a Antónia, magoada com o marido, sem pensar, como se soubesse, desde sempre que estava ali para dançar. O alferes apertou-a ligeiramente ao peito. A balsa já não se ouvia, só as mãos se colaram e acho que foi feliz! No ar havia um cheiro a canela vinda das campanhas de África. E não disse nada. A música terminou e o alferes tão perto. Depois teve medo! Pegou no xaile e saiu apressada do salão. Era uma menina. Tinha vinte e poucos anos.
O alferes ainda lhe disse num sussurro:
- Quando a volto a ver?!
- Não sei!
E saiu tremendo para a noite bragançana onde se desenhava um magnífico luar de Janeiro.

In: O MILAGRE DE BRAGANÇA - Fernando Calado
www.o-milagre-de-braganca.webnode.pt

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