Hélia Marchante |
A espécie-alvo do inseto cuja libertação foi agora autorizada é a acácia-de-espigas, um arbusto/ pequena árvore australiana que é uma das piores invasoras no litoral Português. Além de ameaçar a biodiversidade nativa, esta planta invasora altera o solo e a dinâmica do sistema dunar, diminui a produtividade em áreas florestais e acarreta custos elevados para o seu controlo.
«A sua capacidade invasora está em larga medida relacionada com a produção de uma grande quantidade de sementes, que se acumulam num banco de sementes muito numeroso, e que permanecem viáveis no solo durante muitos anos», explica a investigadora Elizabete Marchante, do CEF/UC.
A autorização agora obtida, após um longo e exigente processo, «é um passo de gigante numa Europa muito conservadora em relação ao controlo natural de plantas invasoras. Não só é um importante contributo para o controlo da acácia-de-espigas, como abre portas para a utilização desta tecnologia no futuro, para o controlo de outras espécies de plantas invasoras», sublinha a investigadora da UC.
Elizabete Marchante |
Ao longo destes anos, a equipa realizou testes em outras plantas (na África do Sul e em Portugal) e «assegurou-se que o inseto não afetará espécies não-alvo. De facto, este pequeno himenóptero (2 - 3 mm) é muito específico e precisa da acácia-de-espigas para completar o seu ciclo de vida. Em Portugal, foi testada uma lista de 40 plantas incluindo espécies nativas e espécies com interesse económico, e apenas se observou a formação de galhas em acácia-de-espigas, o que corrobora a grande especificidade deste organismo», realçam as investigadoras.
Com os últimos estudos já efetuados no âmbito do projeto INVADER-B, financiado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia e comparticipado pelo Fundo Comunitário Europeu (FEDER), prevê-se que as primeiras largadas de insetos decorram no próximo mês de outubro.
Atualmente, os métodos utilizados em Portugal para controlar acácia-de-espigas (controlo mecânico, por vezes, conjugado com controlo químico) têm-se revelado ineficazes (além de muito dispendiosos) principalmente porque a germinação das sementes armazenadas no solo promove a rápida reinvasão das áreas intervencionadas.
Neste contexto, o controlo natural é uma importante ferramenta/ tecnologia para a conservação da natureza, sendo sustentável e amigo do ambiente quando utilizados organismos bastante específicos, como é o caso deste inseto formador de galhas.
Resumo das fases do processo para obtenção de autorização:
- Foi pedida autorização para realização dos testes ao, então, ICN (Instituto de Conservação na Natureza); os testes foram autorizados e a lista de espécies a testar validada dando-se início aos testes que decorreram entre 2005 e 2010. Após conclusão dos testes os resultados confirmaram a especificidade do organismo (de entre todas as espécies testadas apenas se formaram galhas em acácia-de-espigas) e foram publicados numa revista científica da especialidade estando disponíveis para consulta (http://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S1049964410002343).
- o pedido de libertação foi entregue ao ICNF (Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas) que entendeu que a DGAV (Direcção-Geral de Alimentação e Veterinária) devia ser consultada, por ser a entidade nacional mais competente na área de proteção de plantas;
- Por sua vez, a DGAV decidiu que o pedido devia ser analisado a nível europeu, onde os vários Estados Membros têm oportunidade de se pronunciar;
- O Comité Fitossanitário Permanente, da Direcção Geral da Saúde e Consumidores da Comissão Europeia analisou o pedido e decidiu solicitar à EFSA (Autoridade Europeia para a Segurança dos Alimentos) a elaboração de uma análise de risco.
- A EFSA elaborou o seu parecer, divulgado em Abril de 2015, e este foi favorável à libertação do agente de controlo natural - O Comité Fitossanitário Permanente analisou o parecer da EFSA e não encontrou nenhuma razão para não libertar T. acaciaelongifoliae em Portugal.
- O processo foi devolvido às entidades portuguesas que deram autorização para a libertação de Trichilogaster acaciaelongifoliae, tornando Portugal no 2º país da Europa (depois do Reino Unido) a autorizar a utilização de um agente de controlo natural para conter uma planta invasora.
Mais informações podem ser obtidas AQUI.
Cristina Pinto (Assessoria de Imprensa - Universidade de Coimbra)
Conteúdo fornecido por Ciência na Imprensa Regional – Ciência Viva
Sem comentários:
Enviar um comentário