Nasceu em Mascarenhas, concelho de Mirandela, em 02.03.1942 e faleceu em 09.10.2000. Era filho de José Joaquim Gama (natural de Mascarenhas guarda rios e ferrador nas horas vagas) e de Natividade da Conceição Corujas (natural de Mascarenhas doméstica).
Foi o antepenúltimo nascimento de oito irmãos (ainda vivos): Maria de Jesus (doméstica) Aurora (doméstica), Mário (professor do politécnico), Fernando (empresário), Bemadete (doméstica), Humberto (sacerdote), Alda (doméstica) e Manuel Luís (licenciado em História professor radicado em Coimbra).
Fez a instrução primária na aldeia natal e a seguir frequentou o Seminário dos Jesuítas em Macieira de Cambra, que abandonou cinco anos mais tarde. Foi professor no Seminário de Balsemão. Licenciou-se em Direito pela Universidade de Coimbra. Casou se, em 1964, com Alda Beatriz Caseiro Branco (também natural de Mascarenhas licenciada em Farmácia). Deste enlace nasceram três filhos em Coimbra: Rafael (licenciado em Direito e assessor do Secretário de Estado das Comunidades), Paula (licenciada em Germânicas) e Cláudia (licenciada em Farmácia).
Os últimos cinco anos da sua vida teve por companheira Emília Galante (natural de Coimbra), que o acompanhou sempre nos momentos difíceis do final da sua vida e foi de uma abnegação e carinhos inexcedíveis, principalmente durante o período da terrível leucemia, à qual sucumbiu depois de uma luta corajosa e dolorosa. José Gama cumpriu o serviço militar na ex Província de Cabo Verde e foi oficial miliciano (Ranger). Foi um dos oficiais milicianos do Exército Português mais louvados da sua geração. Foi inspector do Ministério do Trabalho e à data da Revolução do 25 de Abril de 1974 era Secretário do Ministro do Trabalho, Pinto Cardoso, facto que o obrigou a emigrar para os Estados Unidos da América. onde contou com o apoio amigo de Veiga Simão. Ali escreveu o livro "Protesto dos Emigrados" e conheceu a dureza, o sucesso e a amizade dos emigrantes portugueses em terras do Tio Sam. Foi Director do jornal Portuguese Times, de Newark, tendo ainda programas na rádio e televisão.
Em 1979 regressa a Portugal, filia se no CDS (Centro Democrático e Social), sendo eleito Deputado à Assembleia da República pelo círculo fora da emigração, fora da Europa e mais tarde Deputado ao Parlamento Europeu. Conduziu, com sucesso, a libertação de Quatro caçadores guias portugueses na Tanzânia, quando se temia o pior pelo seu futuro. Em articulação com o Engenheiro Anacoreta Correia, no princípio da década de oitenta, conduziu a libertação do primeiro grupo de prisioneiros portugueses, aprisionados na Jamba Sul de Angola, pela UNITA.
Em 1989 candidata se à Câmara Municipal de Mirandela, pelo CDS, vencendo com maioria absoluta, começa o período mais fulgurante da sua vida política. Em seis anos vira Mirandela do avesso, isto é, "pôs Mirandela no mapa", tornando a mais conhecida e visitada. Neste período fez de Mirandela a "cidade jardim", devido aos muitos jardins com que a dotou.
Outras obras marcantes foram: o Espelho de água, a Ponte Europa, o Metro de Superfície, a emblemática Ponte de Cheias, o Parque de Campismo, a enorme Piscina Municipal, o Pavilhão do INATEL, o atrevido Repuxo, a construção das três igrejas das três paróquias da cidade, a Zona Verde da margem direita do Tua, a modernização do Mercado Municipal, as inúmeras obras de arte da cidade, os acessos ao IP4, as rotundas, os parques de estacionamento e a reabilitação das oliveiras, do granito e do xisto. Em 1995, pelo reconhecimento da sua obra, muito gabada pelo líder do PSD e Primeiro Ministro, Prof. Cavaco Silva (que lhe foi muito ingrato), foi eleito "autarca do ano", prémio recebido no Casino do Estoril.
Neste mesmo ano, já pelo PSD, deixa a autarquia mirandelense para ir ocupar o lugar de Deputado à Assembleia da República, lugar que conquistou como cabeça de lista pelo círculo eleitoral de Bragança. Em 1997 candidata-se à Câmara Municipal de Coimbra, a convite do líder do PSD, Marcelo Rebelo de Sousa, aliciado por um futuro lugar de deputado ao Parlamento Europeu, mas não cumprido. Durante a campanha autárquica coimbrã teve a oposição demolidora, não do candidato do PS. mas dos "barões" locais do PSD. Apesar de tudo, fez ali subir o partido dez pontos percentuais, deixando o em excelente posição. Empenhou se, em 1999, com o movimento cívico "Portugal Plural", no referendo pela Regionalização (que foi derrotado), contra a vontade do PSD, sonhando com uma autonomia de cabeça erguida para Trás os Montes. Perante estes resultados e alguma animosidade do líder do PSD, suspende a actividade partidária e funda, com Eurico de Figueiredo e Fernando Condesso, entre outros, o novo movimento cívico "Portugal Radical". Mas José Gama, muito viajado pelos quatro cantos do mundo, tem um currículo brilhante no campo político e social.
Foi Vice Presidente da Associação Nacional de Municípios, auditor da Defesa Nacional e professor convidado de Direito Internacional Público da Universidade Moderna, condecorado com a Cruz de Santo António do Deserto e, em 1999, com o Grand Marshall (sucedendo a Amália Rodrigues e a Ramos Horta), na Parada do 10 de Junho, em Newark USA, pela Fundação Luso Americana, Bernadino Coutinho. Foi ainda Presidente e Sócio Honorário de várias associações luso americanas. Em 2000, para se furtar à intriga mesquinha, à maledicência e às mentiras alimentadas pelo actual lobby camarário mirandelense, retira se para New Mildford, nos USA, para neste local pacato e idílico (Candelwood Lake), escrever o livro "De Nova Iorque a Mirandela". Mas como ele diz neste livro inacabado, "a doença fizera me unia espera, reduzindo a dúvidas e cinzas os campos dos sonhos sem fronteiras", porque "um cancro (leucemia) trava comigo uma luta feroz, serre quartel", ceifando lhe a vida, após três meses de imenso sofrimento, no Hospital de S. João no Porto, assistido, com dedicação. pelo médico Jaime Sá.
Este seu último livro é um testamento político, "para que os mirandelenses soubessem o que penso deles em vida". Sobre o mesmo escrevi na imprensa: "O pormenor com que critica erros, defende soluções e descreve o nascer e concluir da sua obra,... fazem deste livro uma consulta obrigatória, para quem deseja gerir, com equilíbrio, um município ". Eurico de Figueiredo refere no prefácio, "a determinação, dignidade, frontalidade. qualidades, que os transmontanos atribuem a eles próprios, encontram em José Gama uma espécie de incarnação do mito". José Gama foi um tribuno brilhante, que se inflamava sempre que apelava ao telurismo das suas raízes transmontanas: "Continuo simples caminheiro. de atalhos de terra batida, cor testas alpergatas que o povo calça e conhece". O maior autarca de sempre de Mirandela, faleceu quando ainda muito tinha para dar em prol da nossa região.
A Câmara Municipal de Mirandela, não tendo a coragem de o homenagear em vida. durante a doença, acabou por o fazer no período mais sensível do nojo e dor. Manifestou lhe a gratidão pela obra deixada em Mirandela e pelo desenvolvimento que imprimiu ao município. Atribui-lhe a medalha de ouro da cidade, a título póstumo; à Zona Verde da Margem Direita do Rio Tua passa a ser chamado "Parque Dr. José Augusto Gama"; e por desejo de muitos mirandelenses disponibilizou um local nobre para aí lhe ser erguida urna estátua.
Jorge Lage
In ii volume do Dicionário dos mais ilustres Trasmontanos e Alto Durienses, coordenado por Barroso da Fonte, 656 páginas
Sem comentários:
Enviar um comentário