Era lindo o Rio Tua!
E era porreiro! No Inverno pregava uns caguços valentes. No Verão deixava-nos apanhar peixes á pala e nadar e mergulhar em águas calmas e claras. Aprendi a nadar na fraga grande!
Dava meia dúzia de pintchos cada vez q o meu Pai mandava o Baptista pastar os bois prás salgueiras, onde havia erva fresca e as moscas num picavam o Cabano e o Amarelo.
Eu ía com ele, a cavalo pra atravessar no váu. Passávamos a tarde ós ninhos, a apanhar cobras pelo rabo, a ver os pica-peixes, os mergulhões e, uma ou outra lontra.
Ás vezes aparecia um peixe de barriga pró ar, mas pra ir buscá-lo... Bai lá!
Olha, crias! Bai lá tu!
Num se via o fundo do rio e as fragas debaixo de água pareciam lobisómes á espera de nos apanhar uma perna. Ou o peixe - cabalo q nos arrastava pró fundo do piadocórbo!
Nã, eu num bou lá!
Atão bamos os dois!
O peixe é q tinha de vir.
Olha!
Bem lá o cambóio das seis!
Vinha carregado de adubo e a velha máquina bufava mais q o peixe-cavalo!Fugíamos até á curva do Ribeiro dasBogas e conseguíamos apanhá-lo. Íamos até á estação de Codeçais, onde parava pra meter água. Logo q abrandava saltávamos pra fugir ó Carregador! Corria - nos á pedrada!
Ó toque das alminhas, já cansados, sentávamos - nos a ouvir as rãs. Róóóc, Róóóc,Róóóc! Eram ós milhares!
Passei lá agora. Á tarde. E fiquei baralhado! Não conhecia aquele rio! As margens carrapatas, limpas! Não vi peixes a saltar! Não vi as salgueiras! Não vi pica-peixes! Não vi mergulhões! Não vi lontras! E em vez do barulho inconfundível do " cambóio " das seis, ouvi o ruído ensurdecedor de pesadas máquinas q desfizeram as salgueiras, os amieiros, os choupos e espantaram a bicharada !
Cum C r lho!...
Mataram o Meu Rio Tua!!!
E no fundo do Piar do Côrvo com vinte metros de água agora amansada em cima, vão sepultar o herói e fantasma dos meus sonhos de menino, O Peixe - Cavalo.
Vou fazer o que posso.
A placa, lápide negra, não deixará morrer a minha inocência
AQUI JÁZ UMA LENDA
António Magalhães
Grupo: Trás-os-Montes - Um Reino Maravilhoso
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