Os lavadouros, lavadeiros ou tanques do povo tiveram a sua origem inicialmente nas margens dos rios e poças e só mais tarde as localidades construíram tanques para a lavagem de roupa suja que era uma tarefa exclusiva das mulheres.
Os lavadouros do povo surgiram em finais do século XIX, passando a ser muito concorridos por lavadeiras de profissão e outras mulheres que lavavam a roupa da própria casa. Há provavelmente mais de 50 anos atrás, na nossa região existiam as lavadeiras de Alfaião que lavavam a roupas aos soldados. Esta profissão extinguiu-se por completo uma vez que a máquina de lavar e as lavandarias self-service, a seco, etc… se sobrepuseram em eficiência mas talvez não tanto em eficácia. Dias inteiros se passavam a bater, a esfregar e a “pôr a roupa à cora” que era a parte em que o sol ajudava, principalmente com a roupa mais clara como as fraldas dos bebés, que claro, eram de pano e “recicláveis” mas ficavam resplandecentes com a ajuda da cora abençoado sol. As mulheres acomodavam-se num espaço livre, de pé, no tanque ou ajoelhadas sobre os “farrapos” para lavar.
Nos dias de hoje, ainda há pessoas - de que são exemplo as nossas rechonchudinhas do centro de dia do Felgar - “És tão linda ó minha aldeia” – que ainda lavam os cobertores do centro de dia no lavadouro. Em Edrosa e Talhas ainda há também quem lave a roupa todos os dias nos lavadouros.
A água que saí das bicas ou nascentes enche as fontes e outrora era levada em cântaros para a casa das pessoas para uso doméstico. A água das fontes é encaminhada para os lavadouros sendo depois aproveitada para a rega das hortas no verão e dos lameiros no inverno. Durante o dia, no verão, às águas eram partidas e o determinado vizinho regava com a totalidade da água do tanque até ao pôr-do-sol, o vizinho seguinte regava de manhã esvaziando a poça até ao nascer do sol. No inverno a água era direcionada pela chamada agueira e cada qual as escondidas virava a água para o seu lameiro – “Eu vou de noite para ver se a água fica toda a noite a correr para o meu lameiro”! – fazendo jus ao ditado “De noite todos os gatos são pretos”!
E se alguns lavadouros foram destruídos ou se encontram em fracas condições de conservação - já não tem água ou estão deteriorados - outros estão em pleno funcionamento tendo sido recuperados e são vistos como relíquias arquitetónicas que perpetuam a riqueza cultural das nossas povoações. São exemplos as aldeias de Espinhosela, Vimieiro e Serapicos.
Em tempos em que não havia radio ou televisão, os lavadouros eram os “noticiários” da aldeia - lugares de encontro onde se falava da vida alheia. Quem conta um conto acrescenta um ponto! Era desta forma que as noticias se sabiam e contavam: fulana está grávida, o filho de sicrana escreveu do ultramar, “beltrana” vai-se casar, e assim se “lavava a roupa suja” – provável origem da expressão?
Nas fontes se namorava, nos lavadouros a roupa suja se lavava!
Acreditamos que o simbolismo dos lavadouros e fontes das nossas aldeias, vilas e cidades deve ser conservado e valorizado. Um desafio aos arquitetos paisagistas?
Deixamos a sugestão.
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