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SOBRE O BLOG: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira..
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blog, apenas vinculam os respetivos autores.

terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

Os noticiários de antigamente

Os lavadouros, lavadeiros ou tanques do povo tiveram a sua origem inicialmente nas margens dos rios e poças e só mais tarde as localidades construíram tanques para a lavagem de roupa suja que era uma tarefa exclusiva das mulheres.
Os lavadouros do povo surgiram em finais do século XIX, passando a ser muito concorridos por lavadeiras de profissão e outras mulheres que lavavam a roupa da própria casa. Há provavelmente mais de 50 anos atrás, na nossa região existiam as lavadeiras de Alfaião que lavavam a roupas aos soldados. Esta profissão extinguiu-se por completo uma vez que a máquina de lavar e as lavandarias self-service, a seco, etc… se sobrepuseram em eficiência mas talvez não tanto em eficácia. Dias inteiros se passavam a bater, a esfregar e a “pôr a roupa à cora” que era a parte em que o sol ajudava, principalmente com a roupa mais clara como as fraldas dos bebés, que claro, eram de pano e “recicláveis” mas ficavam resplandecentes com a ajuda da cora abençoado sol. As mulheres acomodavam-se num espaço livre, de pé, no tanque ou ajoelhadas sobre os “farrapos” para lavar. 
Nos dias de hoje, ainda há pessoas - de que são exemplo as nossas rechonchudinhas do centro de dia do Felgar - “És tão linda ó minha aldeia” – que ainda lavam os cobertores do centro de dia no lavadouro. Em Edrosa e Talhas ainda há também quem lave a roupa todos os dias nos lavadouros. 
A água que saí das bicas ou nascentes enche as fontes e outrora era levada em cântaros para a casa das pessoas para uso doméstico. A água das fontes é encaminhada para os lavadouros sendo depois aproveitada para a rega das hortas no verão e dos lameiros no inverno. Durante o dia, no verão, às águas eram partidas e o determinado vizinho regava com a totalidade da água do tanque até ao pôr-do-sol, o vizinho seguinte regava de manhã esvaziando a poça até ao nascer do sol. No inverno a água era direcionada pela chamada agueira e cada qual as escondidas virava a água para o seu lameiro – “Eu vou de noite para ver se a água fica toda a noite a correr para o meu lameiro”! – fazendo jus ao ditado “De noite todos os gatos são pretos”! 
E se alguns lavadouros foram destruídos ou se encontram em fracas condições de conservação - já não tem água ou estão deteriorados - outros estão em pleno funcionamento tendo sido recuperados e são vistos como relíquias arquitetónicas que perpetuam a riqueza cultural das nossas povoações. São exemplos as aldeias de Espinhosela, Vimieiro e Serapicos.
Em tempos em que não havia radio ou televisão, os lavadouros eram os “noticiários” da aldeia - lugares de encontro onde se falava da vida alheia. Quem conta um conto acrescenta um ponto! Era desta forma que as noticias se sabiam e contavam: fulana está grávida, o filho de sicrana escreveu do ultramar, “beltrana” vai-se casar, e assim se “lavava a roupa suja” – provável origem da expressão?
Nas fontes se namorava, nos lavadouros a roupa suja se lavava!
Acreditamos que o simbolismo dos lavadouros e fontes das nossas aldeias, vilas e cidades deve ser conservado e valorizado. Um desafio aos arquitetos paisagistas?
Deixamos a sugestão.

Página do Tio João

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