domingo, 5 de junho de 2016

Memórias Orais: Dulce Pires

Foi professora aos 23 anos. Seguiu os passos da mãe no gosto pelo ensino. Num tempo em que as escolas nas aldeias conheceram muitas crianças, ainda que os recursos fossem escassos. “Naquele tempo havia muitas crianças, gente pobre mas humilde, nunca tive problemas”. Foi numa aldeia de Mirandela que Dulce Pires deu as primeiras aulas, e era ali que as crianças se esqueciam dos tempos difíceis e começavam a preparar uma vida que se queria diferente.
Do ritmo da vida de cidade a que se habituou enquanto tirou o curso, Dulce teve que conhecer a vida do interior do nordeste transmontano, onde os recursos chegavam sempre mais tarde. “Os senhores ricos é que tinham o poder na mão, o resto do povo não. Nessas aldeias ainda não havia saneamento nem havia água canalizada, eu tinha que ter uma empregada para me fazer o serviço, tinha uma empregada que me ia buscar água à fonte e nós tomávamos banho”. 
Nos tempos livres falava com os pais dos alunos que por vezes a convidavam para almoçar e era aos filhos deles que Dulce enxugava a roupa, no Inverno, numa “fogareira” que também servia para aquecer as salas. 
Aos 79 anos Dulce Pires viu como os tempos mudaram de forma expressiva. Concentraram-se os recursos mas isso não chegou para se “agarrar” a juventude. Do futuro de Lagoaça, onde agora vive, não sabe. As escolas cheias de crianças não existem e o infantário também fechou. Assistiu ao esvaziamento de todas elas sem nada poder fazer. Hoje, já só se lembra das saudades que tem da sua escola.

Texto: Joana Vargas


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