segunda-feira, 2 de janeiro de 2017

Portugal quer chegar às 120 mil toneladas de azeite em 2020

Apesar de as previsões do Instituto Nacional de Estatística apontarem para uma quebra de 15% na produtividade dos olivais para a campanha que ainda decorre, o setor acredita que o país vai continuar a aumentar a produção nacional de azeite, depois de 2015/2016 ter apresentado a terceira melhor marca dos últimos 100 anos. Pretexto para uma conversa com a secretária-geral da Casa do Azeite, Mariana Matos.

É expectável que Portugal aumente a produção de azeite nos próximos anos?

Sim, uma vez que continuam a ser plantadas novas áreas de olival e que a muitas das novas plantações não se encontram ainda na sua fase de plena produção. A Casa do Azeite tinha projetado uma produção próxima das 100 mil toneladas no ano 2020, mas, já na última campanha, Portugal produziu cerca de 110 mil toneladas, pelo que agora se reviram em alta essas projeções, para valores da ordem das 120 mil toneladas em 2020.

Que tipo de olival e quais as regiões que poderão contribuir para um eventual aumento da produção?

As duas principais regiões de produção de azeite são Trás-os-Montes, onde se produziu na última campanha cerca de 12% do total de azeite produzido em Portugal, e o Alentejo, onde se produziu, igualmente na última campanha 20015/2016, 75% do azeite produzido em Portugal. Estas duas regiões têm estruturas produtivas e tipos de olival completamente distintos: em Trás-os-Montes o olival é maioritariamente do tipo tradicional, enquanto no Alentejo, são os novos olivais de tipo intensivo e superintensivo, de regadio, que contribuíram decisivamente para o enorme crescimento da produção. Nesse sentido, os dois tipos de olival contribuirão certamente para o aumento da produção nacional, embora o olival intensivo e superintensivo, pelas suas características, permitam um crescimento mais acelerado da produção.

Podemos falar num antes e num depois de Alqueva, em termos da produção oleícola? Alqueva ainda vai crescer mais?

Sem dúvida. A conclusão do investimento do Alqueva foi um dos fatores mais determinantes para o sucesso deste sector. Sem disponibilidade de água para rega, certamente não se teria assistido ao mesmo nível de investimento em olival que se assistiu. De facto, quase metade da área de regadio atualmente na zona do Alqueva é ocupada por olival, e, tanto quanto podemos observar, poderá ainda continuar a crescer.

Os espanhóis são nossos aliados no azeite?

Claro que sim. Até porque alguns dos os primeiros investimentos que se realizaram a partir de 2003 no Alentejo foram exatamente de empresas espanholas, e tiveram o mérito de chamar a atenção dos nossos agricultores e outros investidores para a oportunidade que esta cultura oferecia. Por outro lado, num mercado aberto e global não podemos deixar de ter como aliados os outros países produtores, principalmente da Europa. Existe concorrência, certamente, mas também existem relações comerciais muito importantes entre os principais países produtores europeus.

Um possível aumento da produção é compatível o aumento da qualidade do produto?

Sim, como se tem vindo a observar nos últimos anos. Nunca como hoje o azeite português ganhou tantos prémios internacionais. É preciso referir que os novos investimentos em olival e em novos lagares colocam hoje Portugal ao nível do que de melhor se faz no mundo, com as últimas tecnologias de produção e extração. Isso permite igualmente que a qualidade do produto final seja muito melhor.

Com mais produção, está em causa o rendimento dos produtores, por via de uma redução do preço na produção?

Nem sempre é assim.

Há novos países produtores? Como reagir a uma possível concorrência acrescida?

Há novos países produtores, mas a Bacia do Mediterrânico continua a representar cerca de 98% da produção mundial. Além disso, o crescimento da produção de azeite num país também leva, normalmente, a um aumento de consumo, portanto, não há que ter muito receio de uma maior concorrência. O azeite representa apenas cerca de 4% do total do consumo de gorduras líquidas no mundo, por isso, existe ainda uma enorme margem de crescimento.

O português continua fiel ao consumo de azeite? O azeite está a perder quota no mercado interno?

Sim, continua fiel, mas o consumo em Portugal tem vindo a diminuir, ao nível do que se passa também noutros países produtores. É preciso estudar este fenómeno e perceber porque é que isto se passa, para que possamos encontrar as ferramentas mais adequadas para reverter esta situação e recuperar o consumo de azeite.

Há maior procura por parte do mercado externo?

Sim, as exportações nacionais têm crescido sistematicamente nos últimos anos, não só de azeite embalado, de maior valor acrescentado, mas igualmente de azeites a granel, o que tem de alguma forma compensado as quebras de consumo no mercado interno.

A situação em Angola prejudicou as exportações nacionais?

Não só a situação de Angola, mas também a situação económica do Brasil tem sido muito desfavorável às exportações nacionais. Apesar da totalidade das exportações nacionais não ter baixado significativamente em 2015, quando separamos essas exportações pelos principais mercados de destino verificamos que a quebra para o Brasil, por exemplo, foi de –25%, o que é muitíssimo.

O país já consegue responder com produto nacional ao consumo interno e externo? Há sustentabilidade nessa equação para futuro?

Em termos de consumo interno, Portugal é já mais que autossuficiente (consome cerca de 70 Kg/per capita e, no ano passado, por exemplo, produziu 110 mil toneladas). Com o aumento da produção nacional, certamente que há sustentabilidade e, sobretudo, grande potencial de crescimento no futuro.

A produção de azeite mantém-se relevante para a economia nacional?

Sim, principalmente no PIB agrícola, onde tem um peso crescente, mas também ao nível do emprego, sobretudo nas zonas de produção que são, simultaneamente, zonas rurais do interior do país, onde esta cultura é importantíssima para o equilíbrio social daquelas regiões, muitas delas muito desfavorecidas.

Sobre os 40 anos da Casa do Azeite, que aspetos se tornaram mais marcantes para a instituição?

Penso que um dos aspetos mais marcantes tem sido a capacidade de adaptação desta associação aos novos desafios que este sector tem enfrentado ao longo dos 40 anos de existência da Casa do Azeite. De um sector produtivo deprimido e de um mercado muito fragilizado, que foi herança dos anos 60 e se manteve em declínio acentuado até finais dos anos 80, até aos dias de hoje foi um longo percurso. As empresas associadas da Casa do Azeite, principalmente as empresas exportadoras, têm o enorme mérito de se ter mantido ativas no mercado mundial, pese embora as dificuldades que atravessava o sector produtivo nacional. Mesmo nesse contexto difícil souberam modernizar-se, investiram na qualidade e no design. E a Casa do Azeite orgulha-se de ter contribuído também de forma positiva para esse resultado, quer através de um constante “upgrade” em matéria de enquadramento legal, das características do produto e das regras de comercialização, quer através da organização de campanhas promocionais nos nossos principais mercados de destino.

Fonte: Dinheiro Vivo

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