A partir do próximo ano, a praga da vespa da galha do castanheiro será feita com largadas de uma outra vespa que se alimenta deste inseto e que afeta as folhas dos castanheiros, debilitando a árvore e baixando a produção de castanhas.
A revelação foi feita na sexta-feira, em Vinhais, durante uma sessão de trabalho que reuniu autarcas, produtores, investigadores, representantes da Direção
Regional de Agricultura e da Direção Geral de Alimentação e Veterinária.
“Aqui nesta zona detetámos focos pouco significativos em 2015, que foram imediatamente controlados pelo corte dos
ramos. Temos estado a acompanhar e na primavera de 2017 verificou-se uma dispersão mais generalizada do que nos anos anteriores. Vamos acompanhar na primavera de 2018 para verificar a necessidade de luta biológica. Precisamos de taxas de infeção significativa e, se se verificar, iremos avançar com essa luta biológica em 2018”, prometeu Paula Carvalho, sub-diretora geral de alimentação e veterinária.
Esta responsável explicou que não é com inseticidas que se combate esta praga, pelo que até nem é conveniente que sejam utilizados produtos químicos, que podem comprometer o único meio de combate efetivo à vespa da galha do castanheiro.
“As medidas que podem ser tomadas, quando as árvores ainda são pequenas, é o corte dos ramos que têm as galhas e a destruição no local dessas galhas.
Mas têm de ser destruídas. Se ficarem os ramos com galhas em cima do terreno as vespas acabam por sair e esse trabalho é inútil. Portanto, corte dos ramos e destruição no terreno, quando é possível pelo número de galhas e pelo tamanho da própria árvore.
Quando as galhas já são adultas, já são árvores de grande porte, já não é prático estar a cortar galha a galha, porque ficaríamos praticamente com o castanheiro sem ramos. Nessa fase entramos com a luta biológica.
Ou seja, com largadas de um parasitóide específico, que é o torymus sinensis, e que se alimenta da larva da vespa, evitando que saia” e se espalhe, explicou Paula Carvalho.
No próximo ano, e pela primeira vez, dadas as indicações recolhidas no terreno, deverá haver condições para começar a fazer largadas do inseto que combate a vespa. “Esse trabalho é feito quando tecnicamente há justificação para o fazer e quando o inseto parasitóide tem alimento para poder fazer este trabalho.
Está a ser feito em várias regiões do país e, em 2018, será feito nos locais que estiverem em condições de se poder acionar a luta biológica”, frisou a mesma responsável.
O problema é que são poucos os produtores deste parasitóide.
Aliás, em Portugal ninguém tem capacidade de o produzir (na realidade, trata-se apenas de recolher este inseto que se alimenta da vespa da galha do castanheiro).
Paula Carvalho explicou que o facto de apenas se estar a recorrer a uma fornecedora italiana, docente numa universidade e com trabalho de investigação nesta área, se deve ao facto de as entidades francesas não terem capacidade para isso. “A entidade francesa não tinha disponibilidade de fornecer o nosso território. Temos de ter garantias de que estamos a comprar o torymus”, sublinhou.
Mas garante que, havendo garantias, serão procurados outros fornecedores.
Queixas de falta de fiscalização
Entre os produtores, faltam soluções e sobram preocupações.
“Se falham as castanhas, é preocupante. É o rendimento que temos e, se falha, é complicado”, dizia Francisco Serra, de Edrosa, que produz cerca de dez a 15 toneladas de castanhas por ano.
Lindolfo Afonso, de Espinhosela, fez questão de ir de Bragança a Vinhais participar nesta reunião.
“Estou muito preocupado. Segundo dizem, daqui a três anos a produção reduz-se mais de 50 por cento. É a nossa fonte de rendimento. Se a castanha deixa de ter produção, temos um problema grave”, aponta.
No entanto, durante a fase de perguntas e respostas, deixou alguns alertas aos responsáveis presentes. “Comprei castanheiros de um viveirista de Vila Real. Passou-me fatura e tinham passaporte. Mas vieram algumas árvores doentes. Também já comprei castanheiros bons em Espanha de um viveirista que não estava certificado.
Os técnicos é que deviam andar mais atentos, deviam vir às feiras onde são vendidas as plantas”.
Ora, sobre isso, Paula Carvalho garante que a fiscalização existiu, por parte da Autoridade de Segurança Alimentar e Económica (ASAE).
“Há fiscalizações às feiras”, garantiu, perante a insistência do Mensageiro. “Temos a colaboração da ASAE. É esta autoridade que está nas feiras a fazer fiscalização e, portanto, fazemos formação a inspetores da ASAE, para poderem perceber, ao olhar para uma planta, conseguir interpretar a etiqueta”, explicou.
Paula Carvalho admitiu, contudo, que “obviamente que a ASAE não está em todos os mercados”.
“Ainda que a planta tenha a sua etiqueta, pode ter passado por uma zona infestada, a vespa pode ter colocado lá o seu ovo e não há ninguém que o veja”, concluiu.
Luís Fernandes, vice-presidente da Câmara de Vinhais, entidade que promoveu este encontro, diz que “a escala já é bastante significativa nalgumas partes do concelho”. “É nessa zona que terão de ser tomadas medidas diferentes, com passagem para a luta biológica. Vão ser feitas monitorizações para depois ser adquirido o parasitóide, que é largado no próximo ano para minimizar a presença da vespa”, garantiu. Este é um dos produtos com maior peso entre os agricultores. “Todos os anos, representa entre 15 a 20
milhões de euros para o concelho de Vinhais”, apontou Luís Fernandes. O mesmo responsável informou, ainda, que “o Governo já está a par”.
António G. Rodrigues
Marta Pereira
in:mdb.pt
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