Em Rio de Onor já só sobra uma jovem, Silvia Prieto, de 21 anos
Viagem do DN ao interior de Portugal passou por uma das Aldeias Maravilha de Portugal, a do distrito de Bragança. A única jovem da terra deu a todos razões de orgulho este verão.
Desligados os holofotes que puseram Rio de Onor, concelho de Bragança, nas notícias, por ser uma das sete Aldeias Maravilha de Portugal, o sossego regressou ao povoado, com pouco mais de 30 habitantes, vizinho da aldeia espanhola com o mesmo nome - e onde supostamente os modos de vida seriam comunitários, no forno do pão, no tratamento dos animais, na limpeza dos açudes.
O comunitarismo, porém, já era. Cada um já tem o seu forno, a agricultura é de subsistência, já não há gado e está fechada a "Casa do Touro", onde se guardava o boi cobridor (no domingo reabrirá servindo de mesa de voto). Como diz um morador ao DN: "Isso do comunitarismo é uma treta. Se nos juntamos é para beber uns copos." A economia vive agora muito do turismo, graças a um parque de campismo inaugurado em 2003 pelo então secretário de Estado da Administração Local Miguel Relvas.
Foi-se instalando também uma pequena indústria de reabilitação de casas antigas - veem-se obras em várias. Uma natural da terra, Maria José, de 53 anos, emigrou em 1985 para a Suíça. E lá casou com um operário suíço, Jurg Baldesberger. Regressaram há uns anos e Baldesberger tem um negócio de recuperação de casas na aldeia, mantendo as traças originais, de madeira nos interiores e paredes de xisto. Recuperam-se casas para vender a estrangeiros. Uma é de suíços, outra de alemães, mais uma de holandeses.
Em Rio de Onor já só sobra uma jovem - tudo o resto são adultos ou idosos reformados. Sílvia Prieto, de 21 anos, licenciada em Veterinária, em Espanha, tomava ontem conta do café dos seus pais, o Trilho, e não tinha refeições para servir porque os proprietários foram para a vindima. Conversava ao balcão com o espanhol Juan Fernandes, um aposentado de 70 anos, em tempos proprietário de empresas de decoração de interior.
A veterinária, por ora, não lhe dá emprego. Fala um português completamente espanholado e neste verão orgulhou a sua terra sendo eleita Miss Bragança e depois Miss Norte. Até podia ter prosseguido o caminho candidatando-se a Miss Portugal. "Mas não tinha ajudas", recuou, serve agora no estabelecimento dos pais, procurando oportunidades na veterinária. Há dias tornou-se a última jovem da aldeia; o outro, um rapaz de 18 anos, foi embora, estudar para fora.
O problema, explica Fernandes, é que as ditaduras dos dois países, a de Salazar e a de Franco, "foram muito diferentes". Enquanto a de Franco industrializou, a de Salazar não. "Em Portugal as pessoas emigraram para o estrangeiro mas em Espanha não, só migraram para as grandes cidades." A "diáspora" espanhola está mais perto das suas terras de origem e isso permite que o lado espanhol sobreviva melhor. Mas na verdade nada separa as duas aldeias exceto uma placa. "Mentalmente somos um só povo."
Notas de Viagem
Dia 9
2267 quilómetros
Esta é a distância percorrida desde que esta viagem se iniciou, na segunda-feira da semana passada, dia 18. Fizeram-se ontem 202 quilómetros, de Bragança a Rio de Onor, com passagem no regresso por Gimonde e seguindo depois para Vila Real, pela tranquila A4.
E quem te paga a ovelha?"
Rio de Onor fica abrangida pelo Parque Natural do Montesinho e voltámos a ouvir as queixas habituais. Faz-se, por exemplo, a preservação dos lobos. "Os lobos matam-te a ovelha? E depois quem te paga a ovelha?", pergunta, indignado, o espanhol Juan Fernandes (ler texto principal). O problema maior, acrescenta, são os javalis: "São o veneno deste povo!", porque entram pelas hortas e comem as batatas. Já os gamos parecem preferir alfaces.
Mapa político de Bragança
Rio de Onor fica no concelho de Bragança. A câmara é PSD, que recandidata Hernâni Dias. O PS, segunda maior força, avança com Carlos Guerra. Em 2013, os sociais-democratas venceram com 47%, obtendo quatro dos sete mandatos executivos. O PS ficou com dois e uma lista independente com um. Em cerca de 36 mil inscritos, votaram vinte mil (54% de participação).
João Pedro Henriques
Diário de Notícias
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