A aldeia de Constantim, no concelho de Miranda do Douro, teima em manter viva, uma das mais antigas tradições mitológicas do comunitarismo transmontano, com a celebração a 27 de dezembro da festa do "Carocho e da Velha".
Segundo o historiador António Rodrigues Mourinho, a festa tem início na quarta-feira, prologando-se até sábado, com diversas atividades, cuja, a origem se perde nos tempos mais remotos.
"O conjunto de mascarados sai à rua na manhã de quinta-feira para animar a localidade raiana, dia que é dedicado a S. Evangelista na Liturgia Romana, sendo a data assinalada em tom de festa e de diversão entre todas os residentes e muitos visitantes que vêm um pouco de todo o país e da vizinha Espanha", explicou hoje à Lusa, Aureliano Ribeiro, um morador da aldeia.
Nos dias que antecedem a festa, os rapazes fazem o "acarrejo dos cepos, da lenha e urzes e juntam-nos em pilha no largo dos Pauliteiros para posteriormente se acender a fogueira que em poucos minutos assume proporções gigantesca", conta Aureliano Ribeiro, um dos habitantes da aldeia.
"O dia de quinta-feira começa com uma arruada logo de manhã, E os foguetes anunciam que as celebrações começam e os gaiteiros da terra tocam a única música destinada a esta hora, a alvorada", indicou.
Depois disto, os personagens assumem o completo controlo da aldeia e, acompanhados pelos pauliteiros e gaiteiros, visitam todas as habitações da aldeia e 'roubam' as chouriças destinadas a alimentar a população ao fim do dia.
"A Velha e o Carocho, personagens mitológicas, são os patronos da Festa das Morcelas ou da Mocidade, que se realiza entre quarta-feira e sábado na aldeia de Constantim. Aparece muita gente para registar o evento, dada a sua raridade", adiantou à Lusa o historiador, António Rodrigues Mourinho.
O investigador defende que estas tradições só morrerão quando as comunidades locais assim o entenderam e por esse motivo é preciso celebrá-las.
A festa do 'Carocho e da Velha' é conservada de acordo com a originalidade do seu ritual e que assenta nos rituais dionisíacos celebrados na antiga Grécia, que ultrapassavam a ordem social e o que era convencional nas sociedades da época.
Para o também antigo diretor do Museu Terra de Miranda, será preciso incentivar as pessoas mais novas a manterem vivas as tradições ancestrais.
"Esta festa esteve perdida no tempo entre 1958 a 1978. No entanto, a mocidade de Constantim decidiu retomar esta tradição em 1979 e a cada ano que passa é vivida com mais intensidade. Mas há outros exemplos mais recentes", explicou.
Para António Rodrigues Mourinho, esta é uma celebração de profundo significado com ritos de iniciação, mitos de eterno retorno cuja origem há que procurar "muito longe no tempo".
"Estas rituais chegaram mesmo a ser proibidos pela própria igreja a partir do século VI, porque tem uma dose muito grande de paganismo", observou.
Agência Lusa
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