Altino Pires tem 42 anos. Está a começar o segundo mandato à frente da freguesia com mais aldeias de montanha do concelho de Bragança.
"Palácios, Caravela, São Julião, Vila Meã, Deilão e Petisqueira", enumera Altino, com orgulho. As seis aldeias estão na denominada Lombada de Bragança, na parte nordeste do Parque Natural de Montesinho, a mais de 800 metros, junto a Espanha. É lá que habitam cerca de 300 pessoas. "Na União de freguesias são mais ou menos 300 pessoas. Depois oscila no Natal e no Verão com os emigrantes", avança o presidente de junta.
E são essas pessoas que residem ali que vivem das culturas de montanha. "Dos cereais, da castanha e do gado bovino e ovino". Nas seis aldeias existem 11 rebanhos que durante todo o ano percorrem os montes à procura de pasto.
Foi ali, em São Julião de Palácios que Altino Pires nasceu e cresceu. O presidente de junta lembra-se bem dos tempos de escola na aldeia e dos dias de neve sem aulas. "Não éramos nós que não íamos à escola era a professora que não conseguia cá chegar (risos). Hoje a escola já não tem alunos e quase já não há neve", salienta.
Na altura as aldeias ficavam dias isoladas de tudo. Se antes havia o fumeiro que dava para o inverno e para essas ocasiões, agora todo o comércio vai ter com eles. "Porque temos os comerciantes ambulantes. Hoje aqui não falta a carne, não falta o peixe, não falta o pão nem o resto da mercearia. Todos os produtos de primeira necessidade são trazidos aqui diariamente".
As maiores faltas da freguesia diz Altino Pires, são duas: a primeira arranjar forma de possibilitar convívio aos mais velhos na freguesia, (que são a grande maioria) e a segunda o não haver indústrias para empregar e segurar os mais novos. Para a primeira já arranjou uma meia solução. A União de freguesias criou um grupo de Gaitas de fole. Tem 33 elementos
"É composto por pessoas dos 8 aos 70 anos. É um grupo que nos une pelo menos aos fins de semana, às sextas e sábados à noite que é quando ensaiamos. Foi formado também por uma questão cultural. Aqui na lombada sempre se fizeram as chamadas Festas dos Rapazes nos meses de Inverno e sempre se usaram gaitas. Para não deixarmos morrer a tradição criámos o grupo".
E para trazer gente de fora às aldeias, a junta criou alguns percursos pedestres e para bicicletas. "Mais pedestres porque o de bicicleta tem 50 quilómetros, sempre pelas montanhas e não é fácil de fazer. Dois deles, o da grande rota a pé e o de BTT passam na freguesia toda. São trilhos feitos para conhecer a fauna e a flora mas também para conviverem com as pessoas que vivem aqui", afirma Altino Pires.
É por isso e muito mais que o presidente diz que ali se vive bem. "Ninguém passa fome nem há sem abrigo como nas grandes cidades".
Altino Pires apenas se ausentou da sua terra durante os 5 anos que frequentou a universidade nos Açores onde tirou engenharia agrícola. Trabalha numa loja de venda de produtos para animais na cidade de Bragança. Sempre que pode corre para as suas aldeias e o resto do tempo passa-o em casa, na aldeia, porque diz ser um apaixonado por aqueles montes. "Se não fosse é porque a minha infância tinha sido mal vivida e como foi bem vivida nunca esqueci as raízes...estas montanhas", termina.
Afonso de Sousa
TSF
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