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SOBRE O BLOG: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blog, apenas vinculam os respetivos autores.

segunda-feira, 15 de janeiro de 2018

"Chumbo" do gasoduto da REN no Douro está nas mãos do Governo

A Agência Portuguesa do Ambiente enviou à tutela uma proposta de Declaração de Impacte Ambiental (DIA) desfavorável. Efeito do gasoduto na paisagem protegida do Alto Douro Vinhateiro seria “irreversível”, diz a Direcção-geral do Património Cultural.
Foto: Paulo Pimenta
Se quiser uma terceira interligação à rede de gás natural espanhola, Portugal terá de encontrar uma alternativa à construção de um gasoduto em Património Mundial da UNESCO. É isso que, à primeira vista, resulta do parecer negativo da Agência Portuguesa do Ambiente (APA) ao projecto da REN para construir uma linha de transporte de gás até à fronteira espanhola através da paisagem protegida do Alto Douro Vinheiro.

“Com base no parecer técnico final da comissão de avaliação, bem como no relatório da consulta pública” ao projecto, a APA “considerou existirem fundamentos que justificavam a emissão de uma proposta de Declaração de Impacte Ambiental (DIA) desfavorável” à construção do gasoduto entre Celorico da Beira (Guarda) e Vale de Frades (Bragança), confirmou a APA ao PÚBLICO.

Segundo a Agência, a proposta de DIA desfavorável já foi enviada ao secretário de Estado do Ambiente, Carlos Martins. O governante tem dez dias para emitir a DIA a partir do momento em que recebe a proposta, embora o prazo possa ser suspenso para que a REN faça comentários em sede de audiência prévia.

O PÚBLICO perguntou ao Ministério do Ambiente se a tutela vai acolher o parecer negativo da APA, mas não obteve resposta em tempo útil. A REN não quis comentar o parecer, nem revelar se há alternativa ao traçado do gasoduto que submeteu a avaliação ambiental em Janeiro de 2016 e que está orçamentado em 115 milhões de euros (que serão pagos pelos consumidores de gás).
Como o PÚBLICO noticiou em Julho, segundo os planos da concessionária da rede de transporte de gás natural (controlada pela chinesa State Grid), a infra-estrutura de 160 quilómetros atravessaria pelo menos 35 km da Paisagem Cultural do Alto Douro Vinhateiro (inscrita na lista do Património Mundial da UNESCO desde 2001). Para a Direcção-geral do Património Cultural (DGPC) – que tutela este bem protegido e que em Setembro fez chegar o seu parecer vinculativo à APA – não restam dúvidas de que aceitar o projecto, “tal como foi apresentado, implicaria a aceitação da afectação direta de parte do bem classificado como Património Mundial e Monumento Nacional”.

Afectação que segundo a entidade liderada por Paula Araújo da Silva seria “certa, permanente e irreversível”. Por isso a DGPC opôs-se a uma obra que “produzirá um impacte directo, negativo, muito significativo e dificilmente minimizável ou compensável” no Alto Douro Vinhateiro. Mais concretamente, o parecer foi desfavorável para os troços 3, 4, 5 e 6 (de um total de nove) nas duas alternativas de corredor apresentadas pela REN. A existência de um troço comum (troço 5) a ambas, “que incide diretamente no Alto Douro Vinhateiro, não possibilitou a comparação” com outras opções, explica a DGPC. Por isso mesmo, também os troços anteriores e o posterior, que afectam a sua zona especial de protecção, foram chumbados. Trata-se, diz a DGPC, da “intrusão de uma infra-estrutura com carácter industrial, descaracterizadora do território e dos seus usos, comprometendo a integridade e o carácter, nomeadamente visual, desta Paisagem Cultural”.

Na última proposta de investimentos na rede de gás que entregou em Junho (e que o regulador da energia, a ERSE, está a apreciar), a REN volta a incluir o gasoduto no Douro, assumindo que este “mantém as suas características técnicas, de traçado e de estrutura de custos”. Mas refere que os impactos negativos “podiam ser eficazmente evitados na fase de seleção de traçados, minimizando a travessia de áreas de Reserva Agrícola Nacional, evitando a generalidade das áreas protegidas e sítios da Rede Natura 2000 e evitando ou minimizando a afectação dos valores culturais ou naturais que conferem Valor Universal Excepcional ao Alto Douro Vinhateiro”.

Não foi essa, no entanto, a opinião das várias entidades que se pronunciaram negativamente junto da APA; entre elas a Comissão de Coordenação e Desenvolvimento da Região do Norte, que gere o bem protegido do Alto Douro Vinhateiro, e a Fundação Côa Parque, gestora do bem Sítios Pré-Históricos de Arte Rupestre do Vale do Rio Côa e de Siega Verde, como revelou a Comissão Nacional da UNESCO (que funciona na dependência do Ministério dos Negócios Estrangeiros e foi “informada” do processo em Julho).

“Atendendo à tipologia de projecto e à sensibilidade inerente à maior parte do traçado” e às “condicionantes existentes ao longo de grande parte da extensão do território atravessado”, a comissão de avaliação da APA (que reuniu os “pareceres das entidades representadas e de outras”) concluiu que o parecer técnico final teria de “ser desfavorável à globalidade” da obra, resumiu a DGPC.

Podem estes pareceres travar a empreitada? “Uma eventual declaração por parte do Governo de interesse nacional ou prioritário deste projeto deverá ter em conta os pareceres emitidos pelas diversas entidades representadas na comissão de avaliação”, responde a DGPC.

Travando-se o gasoduto da REN – que passaria por Celorico da Beira, Trancoso, Meda, Vila Nova de Foz Côa, Torre de Moncorvo, Vila Flor, Mirandela, Macedo de Cavaleiros, Bragança e Vimioso (Vale de Frades) – surgiria a incógnita sobre o futuro da terceira interligação de gás Portugal/Espanha.

Trata-se de uma obra que o comissário europeu da energia, Arias Cañete, considerou, numa entrevista ao PÚBLICO, “absolutamente necessária”, que tem sido defendida pelo Governo português, e que a REN conseguiu reinscrever na última lista de Projectos de Interesse Comum (PIC) da União Europeia (elegíveis para financiamento do Mecanismo Interligar Europa, ou CEF), publicada em Novembro.

A infra-estrutura (que permitiria uma capacidade de importação e exportação diárias de 70 Gigawatts hora) tem sido defendida como um dos eixos para completar o mercado interno da energia e garantir a segurança do abastecimento europeu (reduzindo a dependência do gás russo através de importações marítimas pelo terminal de Sines), mas também para dar impulso ao mercado ibérico do gás, aumentando a concorrência.

Em Dezembro de 2016, em declarações ao Dinheiro Vivo, o secretário de Estado da Energia, Jorge Seguro Sanches, dizia-se confiante quanto ao arranque do gasoduto, após a garantia de Bruxelas de que a interligação Espanha/França (sem a qual a Península Ibérica continuará uma “ilha energética” sem ligação à rede central europeia) seria uma realidade. “A única questão que existe agora é ambiental, mas estou convencido que tudo se irá resolver. Há um potencial enorme”, afirmou.

A REN, que é remunerada sobre a base de activos regulados e tem mais proveitos quanto maior for essa base, tem há muito a terceira interligação na agenda. Contudo, esbarrou sempre na oposição da ERSE, que analisa os planos de investimento que a empresa apresenta de dois em dois anos olhando para a segurança do abastecimento, mas também para o impacto para os consumidores, que são quem paga o custo das infra-estruturas e têm das facturas mais altas da Europa. O parecer da ERSE é obrigatório, mas a palavra final cabe ao Governo (apesar de estar previsto que os planos passem a ser discutidos no Parlamento).

Em 2013, o regulador já dizia que sem a interligação entre Espanha e França e sem certezas sobre co-financiamento europeu, os custos da nova ligação poderiam ser insustentáveis para os consumidores. E em 2016 voltou a rejeitar o projecto.

Em 2017, a REN voltou à carga, mas em moldes diferentes: o último plano de investimentos veio distinguir entre projectos base e complementares. Os primeiros resultam de uma avaliação técnica quanto aos activos da rede que precisam de ser modernizados e os segundos “da necessidade de criação das condições requeridas para o cumprimento das orientações de política energética, em linha com os compromissos assumidos pelo Estado concedente”.
É neste lote que se insere o gasoduto de 115 milhões de euros (cujo valor inicial eram 137 milhões), que passou a estar condicionado “à decisão de realização” da primeira fase da interligação Espanha/França através dos Pirenéus, e que por isso tem data incerta de execução.

A REN destaca que, tal como em 2015 conseguiu fundos do CEF para desenvolver os estudos de engenharia e de impacte ambiental do gasoduto, mantém “a perspectiva de eventual obtenção de fundos comunitários para o desenvolvimento das fases de aquisição de materiais, construção e comissionamento”. Segundo a empresa, com um financiamento comunitário a 50%, o custo do gasoduto poderia baixar para 85 milhões de euros.

Ana Brito
Jornal Público

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