Uma das obras de Bordalo II inserida no roteiro de arte urbana de Bragança Foto: Lucília Monteiro |
Em Bragança, consegue contactar diretamente com os produtores, transmitindo-lhes o que procura. “No Porta, mostro que é possível pegar em produtos típicos e transformá-los sem perderem o sabor e a identidade”, defende. “A cidade está a descobrir-nos lentamente, as pessoas estão cada vez mais recetivas”, adianta, muito graças ao menu executivo, ao almoço e ao jantar, com preços mais apelativos (por €19, com entrada, prato principal e sobremesa). O turismo gastronómico também dá o seu contributo nas reservas. “Há muitos clientes que querem seguir o meu trabalho e vêm pela primeira vez a Bragança por causa do restaurante”. Outros, desconhecedores do seu percurso, “ficam surpreendidos por encontrarem uma cozinha com este patamar no interior do País”. Para Hernâni Dias, presidente da Câmara Municipal de Bragança, por estes dias a promover o Festival do Butelo e das Casulas (ver caixa) pelo País, “temos um enorme potencial a nível gastronómico, nomeadamente com tudo aquilo que são os produtos endógenos, de grande qualidade”.
Um dos pratos preparados pelo chefe de cozinha André Silva no restaurante Porta Foto: Lucília Monteiro |
“Ferrero rocher” de alheira, castanha e amêndoa
Entre a restauração local, também houve quem tenha optado por se reinventar. No caso da Taberna do Javali, junto ao castelo, destacam-se os petiscos preparados com produtos da região, dos queijos aos enchidos, passando pela francesinha e empada de javali ou por hambúrgueres fartos. Aberta em abril de 2017, dá largas a uma oferta para um público mais jovem, pensada por Flávio Gonçalves e pela mãe, cozinheira do restaurante O Javali, desde há 15 anos às portas do parque de campismo, a poucos quilómetros da cidade, com um menu mais tradicional. Já no restaurante G, na Pousada de Bragança, dão cartas outros Gonçalves, família com ligação ao Geadas, um clássico brigantino. A segunda geração apostou na cozinha de autor, capaz de enaltecer os produtos da região. “Vendemos uma experiência gastronómica autêntica, com ligações ao território”, acentuam os irmãos António e Óscar Gonçalves, de 32 e 42 anos, o primeiro encarregue da gestão hoteleira, o segundo aos comandos da cozinha. No jantar preparado para a VISÃO Se7e, provou-se vieira com azedo (uma espécie de alheira, de travo mais vincado) de Vinhais, pregado com cusco de Vinhais, pombo com arroz cremoso do mesmo e rabo de boi com legumes bio e jus de cogumelos, para além de surpresas como o “ferrero rocher” de alheira, castanha e amêndoa. Tudo com sabores e apresentação irrepreensíveis.
Ana Maria Baptista e Desidério Rodrigues, proprietários do Solar Bragançano Foto: Lucília Monteiro |
Na outra margem do rio Fervença (cujo curso foi requalificado, possuindo agora uma área de lazer, com ciclovias a acompanhá-lo, desde o campus universitário até ao centro histórico), numa travessa próxima da Sé, abriu em janeiro o Baixa. Trata-se de um pequeno hotel de 17 quartos, com linhas simples e modernas (o projeto foi assinado pelo arquiteto Luís Barros), resultante da reconversão de uma antiga residencial. “Bragança não conseguia responder ao aumento da procura turística, principalmente neste tipo de oferta urbana e com uma localização tão central, um dos nossos principais argumentos”, justifica David Gonçalves, o jovem responsável pela gestão, juntamente com a mulher e o cunhado, Dina e Luís Mesquita, cuja família é proprietária do restaurante Poças, o mais antigo da cidade. “Queríamos ser competitivos em termos de preços e ter uma tipologia que fosse aceitável tanto para quem vem de visita como para quem anda em trabalho”, acrescenta. Também dali se avista o castelo altaneiro, facilmente alcançável a pé.
A rua dos museus
Os irmãos António e Óscar Gonçalves, responsáveis pela gestão da Pousada de Bragança Foto: Lucília Monteiro |
Em 2013, foi a vez de ser inaugurado, umas portas abaixo, o Centro de Fotografia Georges Dussaud, o francês apaixonado por Trás-os-Montes que, desde 1980, tem vindo a registar intensamente (a preto e branco) os rituais, os rostos, as festividades, a paisagem e os ofícios (dos trabalhos agrícolas ao pastoreio) deste território, com práticas em franca extinção. Parte do seu acervo foi doado à Câmara Municipal de Bragança e é agora explorado em exposições temporárias no reabilitado edifício Paulo Quintela, que também acolhe mostras de outros fotógrafos.
O primeiro piso do Centro de Arte Contemporânea Graça Morais é dedicado a exposições temporárias da pintora transmontana Foto: Lucília Monteiro |
As quatro estações de Montesinho
No Centro de Fotografia Georges Dussaud explora-se o acervo do fotógrafo francês Foto: Lucília Monteiro |
Parque Natural de Montesinho Foto: Lucília Monteiro |
VER:
Centro de Arte Contemporânea Graça Morais
Até 25 de fevereiro, está patente Uma Antologia, de Ana Vieira, e, no primeiro piso, até 17 de junho, Cabo Verde – O Espírito do Lugar, a série que Graça Morais dedicou ao arquipélago. Rua Abílio Beça, 105 > T. 273 302 410 ter-dom 10h-12h30, 14h-18h30 > €2,03
Museu do Abade de Baçal
Rua Abílio Beça, 27 T. 273 331 595 ter-dom 9h30-12h30, 14h-18h > €3
Centro de Interpretação da Cultura Sefardita do Nordeste Transmontano
Rua Abílio Beça, 103 T. 273 240 022 ter-dom 10h-13h, 14h-18h > grátis
Memorial e Centro de Documentação Bragança Sefardita
Rua Abílio Beça, 26 > ter-dom 10h-13h, 14h-18h > grátis
Centro de Fotografia Georges Dussaud
Rua Abílio Beça, 77 T. 273 324 092 ter-dom 9h-12h30, 14h-17h30 > grátis
Plataforma – Arte e Criação
Inaugurada em dezembro, além de dar visibilidade ao trabalho de vários artistas, a Plataforma organizará workshops de pintura, cerâmica, construção de máscaras, serigrafia... “Em Bragança não há educação para as artes”, realça Miguel Moreira, artista que lidera o projeto, juntamente com Alexandra Dias, “e estas são oficinas para todos os públicos”. Rua 5 de Outubro, 32 > T. 93 581 3853 > €50 (8h por mês, 2h por semana), €80 (16h por mês, 2h por semana), €10 (aulas abertas)
Bétula Tours
Rua N. Sra. da Lapa, 27, Lagomar > T. 273 326 290/96 735 6665 > €75/dia por pessoa, €45/4h por pessoa
O Centro de Interpretação da Cultura Sefardita do Nordeste Transmontano foi inaugurado em 2017 Foto: Lucília Monteiro |
Um mapa agrupa os trabalhos (Bordalo II, Daniel Eime, Draw, The Caver, MAR...), executados no Sm’arte – Festival de Street Art de Bragança, num percurso pedestre de 8 km.
DORMIR:
Baixa Hotel
Travessa da Misericórdia, 202 > T. 273 312 079 > quarto duplo a partir de €50
Pousada de Bragança
Rua Estrada do Turismo > T. 273 331 493 > quarto duplo a partir de €80
COMER:
Porta Restaurante
Largo Forte São João de Deus, 204 > T. 273 098 516 > ter-sáb 12h30-15h, 19h30-23h
Taberna O Batoque
Aberta em 2013, a Taberna optou por uma ementa à base de cogumelos, desde os cremes aos risotos. Rua dos Batoques, 25 > T. 93 534 5188 seg-dom 18h-23h45
Solar Bragançano
Praça da Sé, 34 T. 273 323 875 > ter-dom 12h-15h, 18h-22h
Taberna O Javali Foto: Lucília Monteiro |
Rua D. Fernando Bravo, 46/48 > T. 93 685 4789 > seg 10h-17h, ter-dom 10h-00h
Restaurante G
Pousada de Bragança > Rua Estrada do Turismo > T. 273 331 493 > seg-dom 19h30-23h
NOITE:
Praça 16
No regresso à sua cidade natal, Pedro Cepeda uniu-se a Norberto Lopes e, juntos, abriram, em março de 2016, este bar de visual retro, com uma intensa atividade cultural. “Queríamos ter uma programação eclética, ser mais do que um local para beber uns copos”, conta Pedro. Concertos ao vivo em pequeno formato, sessões de poesia e debates têm animado as noites do Praça 16. Praça da Sé, 16 T. 93 406 1653 > dom-qui 20h30-02h, sex-sáb 20h30-04h
COMPRAR:
Navalhas artesanais
Sempre teve gosto por navalhas e facas e, aos poucos, aprendeu a fazê-las, criando até máquinas para trabalhar o aço. “O transmontano anda sempre com uma navalhita no bolso”, diz Gilberto Ferreira, o artesão de 36 anos. As mais simples, faz em duas horas; as mais complexas, numa semana. Os cabos podem ser de madeira ou de hastes dos veados recolhidas em passeios pelos montes. Na oficina, tanto responde a encomendas de chefes de cozinha como de caçadores. Aveleda, Bragança T. 93 894 7491 > a partir de €8
Mel do Parque de Montesinho
Mel de montanha, multifloral, de Bragança e de Vinhais, com selo DOP ou de produção biológica. Na Casa do Mel, também se vende cera de abelha, própolis, pólen e sabonetes. Quinta das Fontainhas > T. 273 327 228 > seg-sex 9h-18h > 1 kg €6 (DOP) e €7 (biológico)
AGENDA:
Carnaval dos Caretos
Mascarados com fatos coloridos, chocalhos e más caras, os caretos desfilarão pelas ruas da cidade a assustarem as solteiras e a dançarem até mais não. A festa termina como manda a tradição: com a queima do diabo. A partir da Praça Cavaleiro de Ferreira > 10 fev, sáb 16h
Lucília Monteiro
Joana Loureiro
Visão7
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