Com a sua certificação europeia, a tradicional amêndoa coberta de Torre de Moncorvo, característica da quadra pascal, ganha estatuto de "embaixadora" do concelho.
A este produto típico de Torre de Moncorvo está associado o trabalho das cobrideiras, ou seja, as mulheres que, com arte, mestria e paciência, confecionam as amêndoas cobertas com calda de açúcar.
Ilustrado a morosidade do processo, Deolinda Morais, umas dessas cobrideiras, diz que produzir cerca de 10 quilos de amêndoa coberta demora cinco dias.
"Contudo, há amêndoa que é maior e mais requintada, levando cerca de um mês a cobrir", observou.
Para obter este produto certificado é necessário ter amêndoa de qualidade, uma calda de açúcar apurada e benfeita (água e açúcar fervidos durante uma hora e meia). E é preciso saber regular a temperatura das brasas que aquecem o alguidar de cobre onde são cobertas.
"Vamos vendo quando é necessário dar mais ou menos calor ao alguidar, conforme vamos mexendo. Vamos vendo também a necessidade de juntar mais ou menos calda às amêndoas, durante o processo. Este é o segredo", confidenciou Deolinda Morais.
Para que os dedos das cobrideiras não acabem queimados, de tanto mexer as amêndoas que são aquecidas, é preciso alguns cuidados. Daí que, desde há pelo menos uma centena de anos, as cobrideiras usem dedais de metal.
Depois de prontas, as amêndoas são embaladas em pequenos saquinhos visando a comercialização.
Cada 100 gramas de amêndoa coberta certificada, custa cinco euros.
Joaquim Morais, da Confraria da Amêndoa de Torre de Moncorvo, referiu que o reconhecimento da amêndoa coberta pela União Europeia, com a chancela de Indicação Geográfica Protegida (IGP), vai permitir transmitir ao consumidor a qualidade que o produto representa.
"Quem quiser comprar esta amêndoa nas lojas, fica a saber se o produto é ou não certificado através de um selo que é colocado na embalagem do produto, a fim de obedecer ao caderno de especificações entregue em Bruxelas, pela entidade certificadora", observou.
O vice-presidente da Câmara de Torre de Moncorvo, Vítor Moreira, frisou que “houve a necessidade de colocar de novo na ribalta a amêndoa coberta”, dando-se início ao processo de certificação em 2014.
"A certificação do produto tornou-se num marco importante para a agricultura local e para a defesa de um produto que estava sujeito a imitações de fraca qualidade", enfatizou o autarca.
Neste momento estão a ser proporcionados cursos para a formação de novas cobrideiras de amêndoa, evitando-se assim que a tradição se perca.
Torre de Moncorvo é um dos maiores produtores de amêndoa a nível nacional, com uma produção anual que ronda as seis mil toneladas.
Em qualquer estabelecimento deste concelho do distrito de Bragança vende-se amêndoas, sejam cobertas, torradas, em receitas de bolos e pastéis. Sendo um dos produtos da terra mais apreciados, ajuda a potenciar a economia local.
Lurdes Caetano, uma das doceiras de Torre de Moncorvo, frisa que os apreciadores de amêndoa coberta afluem à localidade transmontana “de todo o lado”, sobretudo nesta quadra pascal.
"Trata - se de um produto único e genuíno e que as pessoas gostam de levar para consumo ou até mesmo para oferecer", vincou.
A tradição das amêndoas cobertas de Torre de Moncorvo perde-se no tempo, não se sabendo com exatidão, a sua origem. Contudo, há documentos que referem a sua presença na Exposição Universal de Paris, em 1886, onde integrou uma mostra da doçaria nacional.
Agência Lusa
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