Por: Humberto Pinho da Silva
(colaborador do "Memórias...e outras coisas..."
De longe a longe, deparamos com a triste noticia, que este ou aquele político ou figura pública, inclui, no currículo, habilitações que não possui.
A descoberta é recebida com júbilo pelos inimigos (que se dizem antagonistas) e comentada com condescendência, pelos “ amigos”
Tal sucede, porque se dá mais valor, ao diploma, do que ao verdadeiro saber.
Quando realizei série de entrevistas, a figuras notáveis, jovem deputado, revelou-me: que resolveu ingressar na Universidade, porque para ser escutado e reconhecida a competência, era preciso obter o título de “ doutor”! …
Não é novidade. Erasmo, dizia, que teve que ir a Roma, para que seus conhecimentos (talento?) fossem reconhecidos.
Há anos, jornalista da RTP, João Adelino, estava a coordenar debate político. Um, recusou participar, porque não o tinha tratado por: “ Sr. Doutor”! …
Conclui João Adelino, na crónica que escreveu no “ JN” de 14-04-2012: “ (…) Não há convidado na televisão, que não seja apelidado, invariavelmente, de “doutor” ou “engenheiro”.
Não admira, portanto, que quando não se possui diploma, se busque um “canudo”; os meios justificam o fim…
Poucos sabem avaliar com justiça. A maioria, avalia: pelo grau académico, cor politica, e ainda pelo parecer de comentadores e críticos.
Certa ocasião, famoso jurista portuense, perguntou a meu pai, que curso possuía. Sua mulher, formada em Letras, era admiradora das crónicas que publicava no matutino: “ O Comércio do Porto””.
Como lhe dissesse que frequentara “apenas” as Belas-artes, rematou deste modo:
- Continue…Continue…Tem muito jeito para a escrita! …!
Meu pai foi apresentado, pelo Fernando Figueirinhas (da livraria Figueirinhas) a António Lopes Ribeiro – famoso realizador de cinema e escritor de mérito, além de comentador da RTP.
Seguindo o “uso” latino, tratou-o por: “doutor”.
Ao que o extraordinário realizador cinematográfico, respostou de imediato:
- “ Sr. Pinho da Silva: Trata-me por António ou António Lopes Ribeiro. Eu tenho nome e orgulho-me dele! …”
E acrescentou: “Já reparou: aos grandes homens ninguém os trata por “doutor”! …
Na nossa terra, mal é de quem não é licenciado e não obteve a pró-graduação numa Universidade famosa, algures na Inglaterra ou na América…
É bacoquice nacional?! … Certamente que sim; mas tão arreigada está, que, quem enriquece, tem que ser forçosamente tratado por: “doutor” … e “excelência “…
Humberto Pinho da Silva nasceu em Vila Nova de Gaia, Portugal, a 13 de Novembro de 1944. Frequentou o liceu Alexandre Herculano e o ICP (actual, Instituto Superior de Contabilidade e Administração). Em 1964 publicou, no semanário diocesano de Bragança, o primeiro conto, apadrinhado pelo Prof. Doutor Videira Pires. Tem colaboração espalhada pela imprensa portuguesa, brasileira, alemã, argentina, canadiana e USA. Foi redactor do jornal: “NG”. e é o coordenador do Blogue luso-brasileiro "PAZ".
Terra onde todos são doutores não pode ter doentes!
ResponderEliminarOra, ou muito me engano ou, doentes, nomeadamente do foro psicológico e social, é coisa que não falta por aí!
Uma sociedade que facilmente enviesa o significado de boa conduta, rigorosa moral e incontornável ética só pode ser doutorada em doenças...
Os grande nomes da história, responsáveis pela descoberta, invenção e/ou criação de tudo aquilo que serviu de base à sociedade moderna tal como a conhecemos, eram tratados pela sua maior e mais valiosa característica, algo unico, que os identificaria na eternidade - o seu nome.
"Em terra de cegos, quem tem um olho é rei". Em terra de Dr.s, quem não o é, é o quê?