Número total de visualizações do Blogue

Pesquisar neste blogue

Aderir a este Blogue

Sobre o Blogue

SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

quarta-feira, 21 de julho de 2021

FALARES E DIZERES (aldeias) TRANSMONTANOS

Por: Maria da Conceição Marques
(colaboradora do "Memórias...e outras coisas..."


I PARTE

Amanha dápor manhã, bou por a albarda na burrica, escarrincho-me em cima dela e bou amarrar uns guiços, e traer um bo feixe pra acender o lume. Lebo uma calças bestidas porque sei que bou arrebunhar as pernas e os braços todos. Os guiços estão ásperos nesta altura.
Lebo um cibo de pão e uma linguiça, para merendar e passo por lá a tarde, bou xamar a ti Maria, mas ela é uma carranhosa, não deve querer ir. Que faça c`moquera, massim eu tenho que me desenvencilhar só. Bou-me emplouricar no muro do ti jaquim, salto pro outro lado faço um manhuço bom e pronto. Massim, seu não fizer ninguém fai.
O meu tonho é um lapouço, só sabe andar cas crias e não fai mai nada. Se lhe digo alguma cousa. Responde-me logo,” cala-te, com essa ladradeira”. ele é mas é guicho bô… não majuda nada, mas vai-se lixar á noite quando xigar a casa vai larpar ao lameiro. Come merda que o Monteiro também a comia e estaba gordo. Abia era de ter arranjado uma mulher dessas arreguixadas, que são todas um refustedo, só andam bem na chaldraria e não fazem nada. No berão não trabalham que está calor, no inberno andam sempre engranhadas. Uma dessas é que o meu tonho habia d` arranjar. Eu tibe um bo pretendente mas o home era birolho, e tibo medo porí ainda me nascia a canalha também birolhos, e não o quis,mas tirando esse defeito era bô home. Sabes onte, oubi dizer que o home da ti Ana lhe deu uma saronda…mas que tunda…ele é um bardino, um gandulo, um reco coxino, nem se sabe labar anda c` as orelhas cheias de surro, aquele labrego. A desgraçada, casou com ele e o sujeito até já tinha uma zorra. A outra não o quis porque ele já daba barduada nela. Lampantim do demónio, se fosse me home…bô não me achegava a roupa ó pelo…
(………….) continua

II PARTE
Amanhã, lá bou eu, escanrranxada na burra , mais o meu cadelo. Lebo um caçoulo com uma cacha de batata, um cibo de pão, linguiça, umas azeitonicas e uma cabaça dàuga pra mim e pó cucho. Ele come tudo até come as carabunhas das azeitonas, raios partira o cadelo, nunca antes bira tal coisa. Se não lhe dou do farnel, não para de caincar.
Este cucho não bale nada é um caganças,mas é guixo, mal abro o cancelo parece que tem lume nas patas foge logo pro pé da ti Albertina. Está abituado que ela lhe dê uns furgalhos que trás sempre na algibeira do abental. Depois de larpar as furgalhas, vaise pela canelha adiante e só pára ao pé do caldeiro que ela tem á porta da corriça. Ali espreita aber se me bê e bai de caras ao pobo até que me encontra, abondame um guiço e dá-mo. Já sabe que eu o lebo comigo e lebo sempre um carolo para os dois. Por bezes, subo-o e lá bai aninhado ás carranculas da burrica (……..) 
(Continua)

III PARTE
Onte o dia correu sumenos. Trouxe um bô feixe. Mas estaba tão estafada que á noute, não cerrei olho. Já fai um frio do carbalho, tenho que botar mais uma manta na cama. Estarrafoda o imberno. A auga que fica ao relento já se põe em carambelo.
O meu tonho tinha ido pó tasco e apanhou uma piela do caraças… chiça…que cardiela…nem sei como biu o carreiro para xigar a casa. Binha metido no carrejo, encolhido na samarra, nem se bia. Quando xigou, apeteceu-me dar-lhe um cascudo, mas fiquei queta, ainda lhe passaba a borracheira e cascaba-me balente e feio.
Xigou, como um pito, enxarcado até aos ossos. Tibo pena dele, agarrei num capão, pus um bô estrafugueiro, meia dúzia de raxos e xisquei-lhe fogo. Estariçou-se no escano, aqueceu-se e dromiu-se. Maldito home, é mesmo um songa monga. Não me ajuda mesmo nada. Só bai com a cria e anda a correr o coxio. Bai pra taberna do ti João canhoto, apanha cada cardina. Cada bêz anda pior, já não o aturo…Nem sequer olha por ele, trai uma lã que mete medo, cheio de catotas , guedelhudo... qualquer dia agarro numa ceitoura e corto-lho massim, ele nem ao rabel bai…
(………………) Continua

IV PARTE
Estarrafoda a bida. Este ano tibe azar c` coelhos, apanharam o chamorro, morreram todos. E eu que tinha tanta proa neles.
Quando entraba na loja desinfetava os chanatos com criolina mas mesmo assim, foram-se com demónho. Debia ser praga da tia Aurora, botou-me mau olhado. Agora o que me bale são as pitas, que estão bem gordas, espero que não mas lebe o diabo tamém. Oramessa…acontexe-me cada cousa…ía eu estifeita da bida a buscar umas chamiças pra acender a fornalha, ia pelo carreiro distraída, meti os pés numa xarca, molhei-me toda. Axo que me engripei, bou fazer o que mandam os antigos. “Abinhate, Abifate e Abafate. Amanhã tenho que estar boa, quero ir á feira dos chãos á xega dos touros. Como o meu tonho não m` acompanha pra lado nenhum, bou na camineta, aber se a ti Maria quer ir comigo. Ando meia cismada com ela, onte a noute, andaba a cheiriscar, não sei o quê. Só bi a luz da candeia e xeirava a pitrólio que tresandava. Nem sei como o meu cadelo, não deu sinal, estava muito entretido a rilhar um osso. Mas a minha chiva, não parava de chimpar na loja. Ainda chisquei no meu tonho mas não se descozeu, esse pamonha não quer saber de nada. Mas a bizinha… saiu-me cá uma choqueira, cuscubelheira, anda como uma labrega. Parecia uma abe penada, a noute estava escura como bréu, xobia a céu aberto e nem um chuço tinha.
Entrei pra casa, mas estava uma fumaceira do caracho, bou ter que fazer um chupão,trago cá essa cisma e ninguém ma tira do toutiço. (…………)


Maria da Conceição Marques, natural e residente em Bragança.
Desde cedo comecei a escrever, mas o lugar de esposa e mãe ocupou a minha vida.
Os meus manuscritos ao longo de muitos anos, foram-se perdendo no tempo, entre várias circunstâncias da vida e algumas mudanças de habitação.

2 comentários:

  1. Clareza de uma comunicação escrita eficaz.Rigor no conteúdo e na forma.Parabéns

    ResponderEliminar
  2. Muito interessante seu texto, cara amiga colaboradora do MOC. Fiquei muito contente em saber que se preocupa com a eternização do Mirandês,que aprendi a gostar,lendo textos de outros colaboradores,como Antônio Torrão, Manoel Amaro Mendonça,Silvino Potêncio, além de Amadeu Ferreira, que tanto me influenciaram. Aproveito a oportunidade para saudar a ti, Maria Conceição Marques, além dos outros geniais escritores,arrebanhados pelo iminente Henrique Martins,tal como Fernando Calado, Paula freire,Humberto Silva e Antônio Orlando dos Santos. Sou o único brasileiro nessa lista,e muito me orgulho do fato.
    Deixo um abraço brasuca aos transmontanos. AVE LITERATURA!

    ResponderEliminar