Paulo Trigo, de 41 anos, natural da aldeia de Alimonde, no concelho de Bragança, considera-se um verdadeiro “sortudo”, já que, “felizmente”, não entrou para as estatísticas, obrigando-nos, como quem diz, a relatar mais uma morte. "Eu e o meu cunhado andávamos a carregar madeira. Quando acabámos, pus o reboque ao tractor. Vejo tombar o reboque e levar o tractor atrás. Fica tudo com as quatro rodas para cima. Capotou. Ainda pensei saltar mas já não tive tempo. Só me vi debaixo dele. Só dou culpa à carga mal feita".
O ex-emigrante, que aos 16 anos foi para a Suíça, tendo voltado com 31, não ganhou para o susto mas não teve que receber tratamento hospitalar. Paulo Trigo diz não ter dúvidas que foi o arco de Santo António que o salvou. "A parte da barriga ainda apanhou bastante, mas, graças a Deus, correu tudo bem. Foi apenas um grande susto. O conselho que eu dou é a utilização do arco de Santo António. Se não fosse o arco, provavelmente, não estava aqui a dar a notícia", disse, explicando que o arco já vinha com o tractor e, por isso, nunca o retirou. "Os tractores até deviam ter dois, um à frente e outro atrás", rematou.
O tractor sofreu alguns danos, ainda assim, Paulo Trigo diz que “mais vale gastar dinheiro a compô-lo que, Deus nos livre, num enterro”. "O tractor, no momento, aparentemente, estava bem, mas sofreu por dentro. O orçamento ainda não sabemos".
Paulo Trigo vive e trabalha em Bragança mas tem propriedades agrícolas na aldeia, onde todos os dias se desloca para as tratar. A agricultura e os tractores são um verdadeiro vício que diz ter desde criança. "Vivo na cidade e tenho terrenos na aldeia, tenho agricultura, tenho castanheiros e vendo lenha. Já o meu pai vendia. Isto é um vício. É mais o gosto que a necessidade".
Segundo dados da GNR, durante os primeiros seis meses de 2021, no distrito, já morreram quatro pessoas ao volante de tractores. Em igual período, outras três ficaram feridas com gravidade. No total, no distrito, este ano já se registaram 16 acidentes com tractores agrícolas, nove deles são de viação, os outros sete são de trabalho.
No que toca a mortes, em 2020 houve seis. Perante este número, olhando para 2021, o cenário é mais negro, já que até fim de Junho já se ultrapassou metade desse valor.
Em acidentes de tractor, o capotamento é a principal causa de mortes e ferimentos. Por isso, desde Janeiro do ano passado, é obrigatório circular com arco de segurança erguido e em posição de serviço. Esta obrigatoriedade aplica-se aos tractores homologados com esta estrutura.
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