sexta-feira, 24 de agosto de 2018

João Miguel Pires & irmãos - 2ª. Parte

Por: António Orlando dos Santos 
(colaborador do "Memórias...e outras coisas...")
Quando, ontem, decidi parar de narrar alguns casos mais pícaros, acontecidos com o Staff,  e gerência desta casa, e fazendo uma tentativa para que os meus neurónios me ajudassem na tarefa esperançosa de recordar todos os assuntos mais ou menos dignos de menção, achei dois tipos que eram como que propriedade da minha memória, que de tanto me entusiasmarem, todas se transferiram para o Agostinho e o Azevedo.

O Agostinho trabalhava com o Ferreira na casa de Cima. Foi mais tarde para o Brasil tendo regressado a Bragança e estabeleceu -se por conta própria na João da Cruz com uma loja de materiais para a Lavoura. Era um elemento valioso como trabalhador e queda para o desempenho de tarefas de elevado grau de dificuldade o que lhe conferia o respeito e admiração de patrões, colegas e clientes.
O Azevedo, creio ser sobrinho dos patrões, pois a sua mãe Snra Isabel era irmã dos Pires.
Há muitos anos, era eu menino, soube de um acidente rodoviário que teve desfecho dramático. Morreram após embate fatal o Arnaldo e o seu amigo Azevedo. Ficou mais pobre a cidade. Ficámos nós muito tristes e as suas famílias enlutadas.
Recordo-os hoje e aqui pois eram parte da firma e tinham o perfil de poderem vir a ser gente que ocuparia lugares de destaque na comunidade empresarial da cidade. Por mim só e tendo em conta o meu sentido de observação que é apurado na análise do carácter das pessoas, não me interessando minimamente de pormenores que sendo venais me passem despercebidos e que só me prenderão a atenção se especificamente eu detectar algo de insólito no assunto.
Quando ontem relatei o episódio da urna que tinha dentro imagem de santo que despachava vassouras contra os clientes não podia imaginar que o boneco de madeira que eu julgava uma imagem de algo como o S.Cristóvão de Amarante/Feito de pau de amieiro/Primo carnal dos meus socos /Criado no meu lameiro/ (popular) fosse afinal uma carpideira.
Reparem no pormenor a que chegavam as diligências dos antigos cangalheiros. A informação foi-me hoje transmitida pelo meu amigo Serafim , filho do patrão da casa de Cima, Snr Manuel. Feita de madeira com articulações e com cabelo farto e longo servia para dramatizar com choros e lamentos, os funerais da gente de patente elevada que montavam uma cena de estadão com choros artificiais pois os mortos eram tão ruins que não tinham quem os chorasse.
O outro homem influente era o Manuel Chumbo, que após alguns anos em posição intermédia com a saída dos atrás mencionados e as habilitações que possuía e outras que foi adquirindo foi subindo a corda a pulso até ao topo da carreira. Por largos anos foi a face mais destacada da firma pois o Snr Manuel adoeceu vindo a falecer e passado a pasta da administração para o Chumbo.
O armazém da 5 de Outubro era também conhecido por Garagem de Baixo. Tinha espaço para recolher a Krupp e alguns carros simultaneamente. Eu, agora, ao escrever esta crónica não consigo ter um pensamento objectivo quanto à forma racional que a firma devia ter como máxima paradigmática. Há ainda presente a forma descuidada de cabeça de menino que não vê que o que separa os bons resultados dos maus em gestão empresarial é uma ténue linha que se chama: Sensatez, Razão e Honestidade. Resumindo, será um acto de puro entretenimento de alguém que por desfastio se entregue à tarefa de tentar reconstituir todas as passagens, melhor dizendo, todas as estórias facetas ou menos consensuais que sejam dignas de nota nos mais de cinquenta anos que a porta da firma João Miguel Pires & Irmãos,Lda esteve aberta para servir os seus clientes e a Comunidade em Geral.
O mais velho dos sócios Snr .João Miguel como todos os homens que têm sucesso, foi invejado. Ainda hoje quando a ocasião se apresenta há sempre alguém que critica acções ou omissões que faria sentido criticarem-se naquelas ocasiões. Eu pessoalmente vou dizer o que penso de homem tão industrioso, sério e amigo da família que se fosse eu a atribuir- lhe classificação política o chamaria de Conservador, apenas!
Não havia nele filosofia para outros voos para além do elementar conceito de ter todo o direito de considerar seu todo o património que amealhou ao longo de uma vida de trabalho. De exigir do Estado que conservasse a ordem e a segurança. De considerar rufias, todos os desordeiros que obstaculizavam o fluir do trânsito e consequentemente retardarem o processo produtivo por demora na entrega de mercadorias. De exigir também que o Estado lhe garantisse a segurança da sua pessoa e família pois para isso havia pago os seus impostos e se havia submetido a todas as leis da Nação.
Tendo criado uma firma sólida e havendo dado trabalho a muita gente,  directa e indirectamente e tendo feito a entrega de salários atempadamente é digno da preservação de Boa Memória e nome. Consequentemente de ter sido candidato e contemplado com a perpetuação do seu nome na toponímia da cidade.
Não aceitamos dizer o mesmo de outros e outras que também têm o seu nome elevado à posteridade sem que tenham sequer tido a mínima solidariedade de darem esmola a um pobre.
Assim da junção do vários quereres que provenientes da vontade dos homens das mais variadas classes sociais se fez esta firma, forte, para resistir às primeira e segunda investidas, não resistindo à terceira,mais letal por força da absencia de sangue novo e mentes idealistas. (Aprende a nadar companheiro /Aprende a nadar companheiro/Que a maré se vai levantar /Que a liberdade está a passar por aqui/Que a liberdade está a passar por aqui/ (Adriano Correia de Oliveira).
Creio ter deixado claro que Deus quer /O homem sonha /A obra nasce/- Pessoa /A Mensagem /poema ao Infante.

Bragança 21 de Agosto de 2018





A. O. dos Santos 
(Bombadas)

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