(colaborador do "Memórias...e outras coisas...")
Quando, ontem, decidi parar de narrar alguns casos mais pícaros, acontecidos com o Staff, e gerência desta casa, e fazendo uma tentativa para que os meus neurónios me ajudassem na tarefa esperançosa de recordar todos os assuntos mais ou menos dignos de menção, achei dois tipos que eram como que propriedade da minha memória, que de tanto me entusiasmarem, todas se transferiram para o Agostinho e o Azevedo.
O Agostinho trabalhava com o Ferreira na casa de Cima. Foi mais tarde
para o Brasil tendo regressado a Bragança e estabeleceu -se por conta própria
na João da Cruz com uma loja de materiais para a Lavoura. Era um elemento
valioso como trabalhador e queda para o desempenho de tarefas de elevado grau
de dificuldade o que lhe conferia o respeito e admiração de patrões, colegas e
clientes.
O Azevedo, creio ser sobrinho dos patrões, pois a sua mãe Snra Isabel
era irmã dos Pires.
Há muitos anos, era eu menino, soube de um acidente rodoviário que teve
desfecho dramático. Morreram após embate fatal o Arnaldo e o seu amigo Azevedo.
Ficou mais pobre a cidade. Ficámos nós muito tristes e as suas famílias
enlutadas.
Recordo-os hoje e aqui pois eram parte da firma e tinham o perfil de
poderem vir a ser gente que ocuparia lugares de destaque na comunidade
empresarial da cidade. Por mim só e tendo em conta o meu sentido de observação
que é apurado na análise do carácter das pessoas, não me interessando
minimamente de pormenores que sendo venais me passem despercebidos e que só me
prenderão a atenção se especificamente eu detectar algo de insólito no assunto.
Quando ontem relatei o episódio da urna que tinha dentro imagem de
santo que despachava vassouras contra os clientes não podia imaginar que o
boneco de madeira que eu julgava uma imagem de algo como o S.Cristóvão de
Amarante/Feito de pau de amieiro/Primo carnal dos meus socos /Criado no meu
lameiro/ (popular) fosse afinal uma carpideira.
Reparem no pormenor a que chegavam as diligências dos antigos
cangalheiros. A informação foi-me hoje transmitida pelo meu amigo Serafim , filho
do patrão da casa de Cima, Snr Manuel. Feita de madeira com articulações e com
cabelo farto e longo servia para dramatizar com choros e lamentos, os funerais
da gente de patente elevada que montavam uma cena de estadão com choros
artificiais pois os mortos eram tão ruins que não tinham quem os chorasse.
O outro homem influente era o Manuel Chumbo, que após alguns anos em
posição intermédia com a saída dos atrás mencionados e as habilitações que
possuía e outras que foi adquirindo foi subindo a corda a pulso até ao topo da
carreira. Por largos anos foi a face mais destacada da firma pois o Snr Manuel
adoeceu vindo a falecer e passado a pasta da administração para o Chumbo.
O armazém da 5 de Outubro era também conhecido por Garagem de Baixo. Tinha
espaço para recolher a Krupp e alguns carros simultaneamente. Eu, agora, ao
escrever esta crónica não consigo ter um pensamento objectivo quanto à forma
racional que a firma devia ter como máxima paradigmática. Há ainda presente a
forma descuidada de cabeça de menino que não vê que o que separa os bons
resultados dos maus em gestão empresarial é uma ténue linha que se chama:
Sensatez, Razão e Honestidade. Resumindo, será um acto de puro entretenimento
de alguém que por desfastio se entregue à tarefa de tentar reconstituir todas
as passagens, melhor dizendo, todas as estórias facetas ou menos consensuais
que sejam dignas de nota nos mais de cinquenta anos que a porta da firma João
Miguel Pires & Irmãos,Lda esteve aberta para servir os seus clientes e a
Comunidade em Geral.
O mais velho dos sócios Snr .João Miguel como todos os homens que têm
sucesso, foi invejado. Ainda hoje quando a ocasião se apresenta há sempre
alguém que critica acções ou omissões que faria sentido criticarem-se naquelas
ocasiões. Eu pessoalmente vou dizer o que penso de homem tão industrioso, sério
e amigo da família que se fosse eu a atribuir- lhe classificação política o
chamaria de Conservador, apenas!
Não havia nele filosofia para outros voos para além do elementar
conceito de ter todo o direito de considerar seu todo o património que amealhou
ao longo de uma vida de trabalho. De exigir do Estado que conservasse a ordem e
a segurança. De considerar rufias, todos os desordeiros que obstaculizavam o
fluir do trânsito e consequentemente retardarem o processo produtivo por demora
na entrega de mercadorias. De exigir também que o Estado lhe garantisse a
segurança da sua pessoa e família pois para isso havia pago os seus impostos e
se havia submetido a todas as leis da Nação.
Tendo criado uma firma sólida e havendo dado trabalho a muita gente, directa e indirectamente e tendo feito a
entrega de salários atempadamente é digno da preservação de Boa Memória e nome.
Consequentemente de ter sido candidato e contemplado com a perpetuação do seu
nome na toponímia da cidade.
Não aceitamos dizer o mesmo de outros e outras que também têm o seu
nome elevado à posteridade sem que tenham sequer tido a mínima solidariedade de
darem esmola a um pobre.
Assim da junção do vários quereres que provenientes da vontade dos
homens das mais variadas classes sociais se fez esta firma, forte, para
resistir às primeira e segunda investidas, não resistindo à terceira,mais letal
por força da absencia de sangue novo e mentes idealistas. (Aprende a nadar
companheiro /Aprende a nadar companheiro/Que a maré se vai levantar /Que a
liberdade está a passar por aqui/Que a liberdade está a passar por aqui/
(Adriano Correia de Oliveira).
Creio ter deixado claro que Deus quer /O homem sonha /A obra nasce/-
Pessoa /A Mensagem /poema ao Infante.
Bragança 21 de Agosto de 2018
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