(colaborador do "Memórias...e outras coisas...")
Quem hoje passa na Rua Direita raramente pensará que aquela já foi a rua mais comercial de Bragança. Tem no seu passado tanta história como todas as outras ruas somadas e acredito que ainda tenha saldo favorável.
Há hoje
obras publicadas por Editoras que com o financiamento de Entidades públicas e privadas
e o trabalho de investigação e redação de autores nados e criados na cidade ou
outros sítios do distrito que fizeram de Bragança a sua terra adoptiva e nos
informam com rigor do passado do conjunto e de especificidades de lugares ou
ruas da nossa terra.
Refiro-me
hoje à Rua Direita porque foi nela que o personagem (Uso o francesismo por me
soar melhor) que hoje tentarei descrever e lembrar, mais tempo esteve sem
interrupções.
O
Senhor Zé Poças foi sem dúvida o patrão e amigo que mais influência teve na
forma como eu conduzi a minha vida a partir dos meus dezasseis anos. Foi ele o
meu verdadeiro TIPO INESQUECÍVEL.
Esta
designação tirei-a das Seleções do Reader's Digest que eu lia avidamente na
minha juventude e incluía uma coluna que descrevia gente de características
únicas que nos poderiam servir de exemplo para o rumo a dar às nossas vidas. Não
fui capaz de reunir coragem para redigir um texto sobre o Zé Poças e enviá-lo
às Seleções para publicação. Faço-o hoje noutras circunstâncias como para
minimizar a minha negligência ou assumindo mais, a minha cobardia ao não dar a
cara por uma acção de justeza incontestável. Sumarizando: O seu pai, tio Roque
Poças era um homem que oriundo de Carção tinha na massa do sangue o negócio
como paradigma. Assim o Zé Poças foi criado em ambiente onde o trabalho era o
factor dominante de todas as coisas.
Há quem
pense que negócio e trabalho são coisas diferentes mas ali o negócio não se
fazia sem que se trabalhasse arduamente. É neste pressuposto de continuidade do
trabalho para além do razoável que toda a história deste pai e filho se
realiza.
A
confiança recíproca entre os dois deixa a uma distância enorme a mesma entre o
tio Roque e os outros filhos. Não tenhamos a veleidade de eliminar os
sentimentos e laços consanguíneos entre os muitos irmãos e o seu pai e mãe
porque eram tão patentes como em qualquer outra família numerosa daquele tempo.
Tinha
eu dezasseis anos o meu pai pediu ao Zé Poças que me desse trabalho na sua
pastelaria pois eu já era oficial de segunda na arte. Amigo como eram foi o
pedido aceite e eu passei a trabalhar no Poças no dia 10/12/1965.
Era
tempo de Natal e o trabalho era em abundância pois a qualidade do Bolo-Rei do
Poças começava a ganhar fama e sendo eu já experiente entrei ali como sopa no
mel.
Falei
anteriormente em sentimentos e ali embora parecesse que isso era coisa de
somenos, eu depressa percebi que o Zé Poças dentro do seu aspecto grave e
melancólico tinha um coração e que apenas o seu pudor em parecer fraco o inibia
de ser mais loquaz e participativo. Desde os primeiros dias de contacto fiquei
impressionado com a fluência que ele demonstrava nos diálogos. Era gago, mas
sabia contornar tão bem essa dificuldade que se tornava agradável conversar ou
até ouvir dele um raspanete que não se ensaiava dar quando necessário. -OÓ
An-Tó-ni-o, tens que tirar os croissants mais cedo, e o raspanete tornava-se
como uma pequena admoestação respeitosa que nos deixava sem sentimento de
culpa.
Homem
de visão larga construiu um reino que ainda hoje e graças à tenacidade de outro
seu discípulo continua a ser uma referência da restauração em Bragança. O nome
continua lá ad aeternum porque é a marca d'Água que sustenta o prestígio do
restaurante com mais história em Bragança.
Os
negócios entravam ali como a brisa que refresca as noites cálidas do Estio. Tão
natural como ao fim de uma tarde de Agosto no tempo em que os emigrantes
chegavam às centenas e era difícil cumprir prazos, subitamente chegava uma
excursão e era preciso dar de comer a mais cinquenta pessoas e o Zé Poças
pegava nuns quantos frangos e ia para a pastelaria fritá-los pondo à mão umas
centenas de rissóis para fritar a seguir e com uma panela de arroz resolver o
assunto é deixar encantados os excursionistas.
Tudo
ele fazia sem nos disturbar a nós pasteleiros que trabalhávamos no duro na
preparação dos banquetes mais os bolos de noiva artísticos que fizemos aos
milhares e que eram a nossa coroa de glória. Tudo Isto daria para atordoar a
maioria mas o Zé Poças via-nos ir dormir à meia -noite/ uma da manhã e ele
continuava no seu posto e de manhãzinha eu regressava às 06:00/06:30 e
encontrava-o a trabalhar no restaurante a separar as encomendas que os
emigrantes a partir das oito vinham reclamar.
Indo um
pouco mais atrás reparemos na qualidade estética, para aquele tempo invulgar,
do restaurante.
Lembram-se
que os empregados de mesa usavam todos fato preto camisa branca e gravata? Que
na residencial no mesmo edifício estavam hospedados os homens e mulheres, que
sendo de extrato social superior, como juízes, corregedores, professores do
liceu e outra gente ilustre era ali que se sentiam como em sua casa dada a
competência com que eram tratados e a afabilidade de um sorriso lhe era
dispensada. Nem todos viam este lado da questão, alguns abriam a boca apenas
para lhe chamarem perro e lamentarem com lágrimas de crocodilo que o Zé Poças
devia casar-se e entrar às nove e sair às cinco e não se incomodar com o pesado
fardo que entretanto houvesse deitado ao chão por pesado para ele.
Diriam
a seguir que o fizera por ociosidade ou preguiça. Mas o Zé Poças era corredor
de fundo, uma autêntica máquina de acção e raciocínio. O seu pensamento era
mais profundo e constante! Queria elevar os números da receita mas com eles
aumentar a qualidade. Afinal era o que havia feito ao longo de toda a sua vida
para além de nunca ter deixado de cuidar do seu Augusto e condescender com o
seu Manuel.
Regressei
ao Poças em 73. Antes de passar à disponibilidade fui abordado por ele que me
disse precisar de mim e que me queria a trabalhar para si quando saísse da
tropa. Estabeleceu salário e eu aceitei sem reservas. Eu sabia bem o que a casa
gastava. Em Julho era de novo pasteleiro no Poças, mas agora com posto de
chefia.
Antes
ele é o pai conversaram comigo. A sintonia entre eles era absoluta. Apenas o
discurso do patriarca era mais cauteloso: -Olha lá Bombadas tu vais custar umas
boas notas por isso faz por não ficarmos todos mal na foto.
Continuarei
depois de jantar. A Isabel já chamou três vezes…
Olá Henrique .O texto não está completo.Falta quase metade.Vê se é possível corrigir e completa-lo A mensagem com o texto que publiquei está completPodes sempre copiar por António dos Santos ou Tesourinhos -Bragança. Creio que o texto de contestação à Câmara está também com uma parte omissa A O dos Santos ( Bombadas)
ResponderEliminarBom dia amigo António.
ResponderEliminarVou verificar na tua página e proceder de imediato às devidas correções.
O meu pedido de desculpas.
Um abraço.
Henrique Martins