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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

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COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

terça-feira, 21 de agosto de 2018

O Zé Poças

Por: António Orlando dos Santos 
(colaborador do "Memórias...e outras coisas...")

Quem hoje passa na Rua Direita raramente pensará que aquela já foi a rua mais comercial de Bragança. Tem no seu passado tanta história como todas as outras ruas somadas e acredito que ainda tenha saldo favorável.
Há hoje obras publicadas por Editoras que com o financiamento de Entidades públicas e privadas e o trabalho de investigação e redação de autores nados e criados na cidade ou outros sítios do distrito que fizeram de Bragança a sua terra adoptiva e nos informam com rigor do passado do conjunto e de especificidades de lugares ou ruas da nossa terra.
Refiro-me hoje à Rua Direita porque foi nela que o personagem (Uso o francesismo por me soar melhor) que hoje tentarei descrever e lembrar, mais tempo esteve sem interrupções.
O Senhor Zé Poças foi sem dúvida o patrão e amigo que mais influência teve na forma como eu conduzi a minha vida a partir dos meus dezasseis anos. Foi ele o meu verdadeiro TIPO INESQUECÍVEL.
Esta designação tirei-a das Seleções do Reader's Digest que eu lia avidamente na minha juventude e incluía uma coluna que descrevia gente de características únicas que nos poderiam servir de exemplo para o rumo a dar às nossas vidas. Não fui capaz de reunir coragem para redigir um texto sobre o Zé Poças e enviá-lo às Seleções para publicação. Faço-o hoje noutras circunstâncias como para minimizar a minha negligência ou assumindo mais, a minha cobardia ao não dar a cara por uma acção de justeza incontestável. Sumarizando: O seu pai, tio Roque Poças era um homem que oriundo de Carção tinha na massa do sangue o negócio como paradigma. Assim o Zé Poças foi criado em ambiente onde o trabalho era o factor dominante de todas as coisas.
Há quem pense que negócio e trabalho são coisas diferentes mas ali o negócio não se fazia sem que se trabalhasse arduamente. É neste pressuposto de continuidade do trabalho para além do razoável que toda a história deste pai e filho se realiza.
A confiança recíproca entre os dois deixa a uma distância enorme a mesma entre o tio Roque e os outros filhos. Não tenhamos a veleidade de eliminar os sentimentos e laços consanguíneos entre os muitos irmãos e o seu pai e mãe porque eram tão patentes como em qualquer outra família numerosa daquele tempo.
Tinha eu dezasseis anos o meu pai pediu ao Zé Poças que me desse trabalho na sua pastelaria pois eu já era oficial de segunda na arte. Amigo como eram foi o pedido aceite e eu passei a trabalhar no Poças no dia 10/12/1965.
Era tempo de Natal e o trabalho era em abundância pois a qualidade do Bolo-Rei do Poças começava a ganhar fama e sendo eu já experiente entrei ali como sopa no mel.
Falei anteriormente em sentimentos e ali embora parecesse que isso era coisa de somenos, eu depressa percebi que o Zé Poças dentro do seu aspecto grave e melancólico tinha um coração e que apenas o seu pudor em parecer fraco o inibia de ser mais loquaz e participativo. Desde os primeiros dias de contacto fiquei impressionado com a fluência que ele demonstrava nos diálogos. Era gago, mas sabia contornar tão bem essa dificuldade que se tornava agradável conversar ou até ouvir dele um raspanete que não se ensaiava dar quando necessário. -OÓ An-Tó-ni-o, tens que tirar os croissants mais cedo, e o raspanete tornava-se como uma pequena admoestação respeitosa que nos deixava sem sentimento de culpa.
Homem de visão larga construiu um reino que ainda hoje e graças à tenacidade de outro seu discípulo continua a ser uma referência da restauração em Bragança. O nome continua lá ad aeternum porque é a marca d'Água que sustenta o prestígio do restaurante com mais história em Bragança.
Os negócios entravam ali como a brisa que refresca as noites cálidas do Estio. Tão natural como ao fim de uma tarde de Agosto no tempo em que os emigrantes chegavam às centenas e era difícil cumprir prazos, subitamente chegava uma excursão e era preciso dar de comer a mais cinquenta pessoas e o Zé Poças pegava nuns quantos frangos e ia para a pastelaria fritá-los pondo à mão umas centenas de rissóis para fritar a seguir e com uma panela de arroz resolver o assunto é deixar encantados os excursionistas.
Tudo ele fazia sem nos disturbar a nós pasteleiros que trabalhávamos no duro na preparação dos banquetes mais os bolos de noiva artísticos que fizemos aos milhares e que eram a nossa coroa de glória. Tudo Isto daria para atordoar a maioria mas o Zé Poças via-nos ir dormir à meia -noite/ uma da manhã e ele continuava no seu posto e de manhãzinha eu regressava às 06:00/06:30 e encontrava-o a trabalhar no restaurante a separar as encomendas que os emigrantes a partir das oito vinham reclamar.
Indo um pouco mais atrás reparemos na qualidade estética, para aquele tempo invulgar, do restaurante.
Lembram-se que os empregados de mesa usavam todos fato preto camisa branca e gravata? Que na residencial no mesmo edifício estavam hospedados os homens e mulheres, que sendo de extrato social superior, como juízes, corregedores, professores do liceu e outra gente ilustre era ali que se sentiam como em sua casa dada a competência com que eram tratados e a afabilidade de um sorriso lhe era dispensada. Nem todos viam este lado da questão, alguns abriam a boca apenas para lhe chamarem perro e lamentarem com lágrimas de crocodilo que o Zé Poças devia casar-se e entrar às nove e sair às cinco e não se incomodar com o pesado fardo que entretanto houvesse deitado ao chão por pesado para ele.
Diriam a seguir que o fizera por ociosidade ou preguiça. Mas o Zé Poças era corredor de fundo, uma autêntica máquina de acção e raciocínio. O seu pensamento era mais profundo e constante! Queria elevar os números da receita mas com eles aumentar a qualidade. Afinal era o que havia feito ao longo de toda a sua vida para além de nunca ter deixado de cuidar do seu Augusto e condescender com o seu Manuel.
Regressei ao Poças em 73. Antes de passar à disponibilidade fui abordado por ele que me disse precisar de mim e que me queria a trabalhar para si quando saísse da tropa. Estabeleceu salário e eu aceitei sem reservas. Eu sabia bem o que a casa gastava. Em Julho era de novo pasteleiro no Poças, mas agora com posto de chefia.
Antes ele é o pai conversaram comigo. A sintonia entre eles era absoluta. Apenas o discurso do patriarca era mais cauteloso: -Olha lá Bombadas tu vais custar umas boas notas por isso faz por não ficarmos todos mal na foto.

Continuarei depois de jantar. A Isabel já chamou três vezes…




A.O. dos Santos 
(Bombadas)

2 comentários:

  1. Olá Henrique .O texto não está completo.Falta quase metade.Vê se é possível corrigir e completa-lo A mensagem com o texto que publiquei está completPodes sempre copiar por António dos Santos ou Tesourinhos -Bragança. Creio que o texto de contestação à Câmara está também com uma parte omissa A O dos Santos ( Bombadas)

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  2. Bom dia amigo António.

    Vou verificar na tua página e proceder de imediato às devidas correções.
    O meu pedido de desculpas.

    Um abraço.

    Henrique Martins

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