Efeitos das Cheias 1909 em Mirandela |
O jornal local A Pátria Nova, a 3 de junho de 1908, em artigo intitulado “O tempo e os campos”, diz ter sido verdadeiramente providencial a chuva que caíra nos últimos dias. “A fome [como se sublinha] tinha já levantado o estandarte negro no solo trasmontano e prometia uma campanha exterminadora”. Estávamos, ainda, em boa medida, na presença de uma economia que mantinha comportamentos típicos do Antigo Regime, em que o “mau tempo” trazia más colheitas, responsáveis pela escassez de produtos, pela fome e por crises de mortalidade.
Catástrofes provocadas por grandes tempestades causavam dolorosas perturbações e tornavam ainda mais penoso o viver das gentes. Particularmente devastadoras foram as inundações que, quando morria o ano de 1909, afetaram o Distrito e, de uma maneira geral, Trás-os-Montes.
O Nordeste de 31 de dezembro de 1909 noticiava as “inundações” e suas consequências: “Na semana próxima passada, todas as correntes do Distrito e até da Província subiram fora dos seus leitos e produziram grandes inundações de que resultaram avultados prejuízos materiais… Ficámos reduzidos à pristina medieval situação de sabermos notícias pelos simples trovadores que vêm chorando de parvónia em parvónia os tristes resultados daqueles acontecimentos. Por isso, de fora do Distrito e da Província de nada sabemos.
As linhas férreas do Tua e Douro e as linhas telegráficas de todo o Distrito ficam avariadas. … Há oito dias que não há jornais e por isso notícias dos acontecimentos que monopolizaram as vidas económica, comercial e política deste desgraçado País.
Já não são só os homens que conspiram contra ele, são os próprios elementos que no ano de 1909 marcaram uma época sísmica natural [abalos de terra e desastres na Estremadura] e com as excecionais inundações do norte de Portugal… Os nascidos… nunca tinham visto tão extraordinário fenómeno”.
Com uma ponta de humor à mistura, descreve-se, com tintas carregadas, a penosa situação vivida em 1909, ano pródigo em desgraças – às provocadas pelos homens ter-se iam juntado as causadas pela natureza. Como tudo era pretexto para confronto e chicana política, até as cheias são esgrimidas para acusar o Partido Progressista.
No artigo “Calamidades progressistas”, publicado no jornal A Pátria Nova de 5 de janeiro de 1910, escreve-se que o “partido do José Bacoco tem-nos trazido sempre desgraça, quando no poder. Em 1890, deu-nos o ultimatum inglês, em 1899 a peste bubónica, em 1905 a monumental e imoralíssima carrapata dos tabacos… e agora dá-nos logo de entrada, uma desgraça nacional”.
As inundações, que constituem uma tremenda desgraça para todo o País, com prejuízos e perdas de vida, também afetam o Distrito de Bragança. Em Mirandela, foram muitas as perdas materiais e houve “algumas mortes”.
Cheias do Tua - 1909 |
Título: Bragança na Época Contemporânea (1820-2012)
Edição: Câmara Municipal de Bragança
Investigação: CEPESE – Centro de Estudos da População, Economia e Sociedade
Coordenação: Fernando de Sousa
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