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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

sexta-feira, 7 de setembro de 2018

Mau tempo e inundações no distrito de Bragança - 1908/09

Numa região que vivia quase exclusivamente da agricultura, a população continuava totalmente dependente das condições climáticas. Invernos tempestuosos e verões escaldantes marcavam profundamente a vida da comunidade humana.
Efeitos das Cheias 1909 em Mirandela

O jornal local A Pátria Nova, a 3 de junho de 1908, em artigo intitulado “O tempo e os campos”, diz ter sido verdadeiramente providencial a chuva que caíra nos últimos dias. “A fome [como se sublinha] tinha já levantado o estandarte negro no solo trasmontano e prometia uma campanha exterminadora”. Estávamos, ainda, em boa medida, na presença de uma economia que mantinha comportamentos típicos do Antigo Regime, em que o “mau tempo” trazia más colheitas, responsáveis pela escassez de produtos, pela fome e por crises de mortalidade.
Catástrofes provocadas por grandes tempestades causavam dolorosas perturbações e tornavam ainda mais penoso o viver das gentes. Particularmente devastadoras foram as inundações que, quando morria o ano de 1909, afetaram o Distrito e, de uma maneira geral, Trás-os-Montes.
O Nordeste de 31 de dezembro de 1909 noticiava as “inundações” e suas consequências: “Na semana próxima passada, todas as correntes do Distrito e até da Província subiram fora dos seus leitos e produziram grandes inundações de que resultaram avultados prejuízos materiais… Ficámos reduzidos à pristina medieval situação de sabermos notícias pelos simples trovadores que vêm chorando de parvónia em parvónia os tristes resultados daqueles acontecimentos. Por isso, de fora do Distrito e da Província de nada sabemos. 
As linhas férreas do Tua e Douro e as linhas telegráficas de todo o Distrito ficam avariadas. … Há oito dias que não há jornais e por isso notícias dos acontecimentos que monopolizaram as vidas económica, comercial e política deste desgraçado País.
Já não são só os homens que conspiram contra ele, são os próprios elementos que no ano de 1909 marcaram uma época sísmica natural [abalos de terra e desastres na Estremadura] e com as excecionais inundações do norte de Portugal… Os nascidos… nunca tinham visto tão extraordinário fenómeno”.

Com uma ponta de humor à mistura, descreve-se, com tintas carregadas, a penosa situação vivida em 1909, ano pródigo em desgraças – às provocadas pelos homens ter-se iam juntado as causadas pela natureza. Como tudo era pretexto para confronto e chicana política, até as cheias são esgrimidas para acusar o Partido Progressista.
No artigo “Calamidades progressistas”, publicado no jornal A Pátria Nova de 5 de janeiro de 1910, escreve-se que o “partido do José Bacoco tem-nos trazido sempre desgraça, quando no poder. Em 1890, deu-nos o ultimatum inglês, em 1899 a peste bubónica, em 1905 a monumental e imoralíssima carrapata dos tabacos… e agora dá-nos logo de entrada, uma desgraça nacional”.
As inundações, que constituem uma tremenda desgraça para todo o País, com prejuízos e perdas de vida, também afetam o Distrito de Bragança. Em Mirandela, foram muitas as perdas materiais e houve “algumas mortes”. 
Cheias do Tua - 1909
A sua ponte de granito, a “mais importante do País”, ficou arruinada pelas águas, “que destruíram igualmente todas as outras pontes sobre o Tua”. Como consequência, “estes sinistros fizeram com que estivéssemos completamente isolados do País por espaço de oito dias, durante os quais não recebemos correspondências postal e telegráfica”. São dados mais pormenores sobre os estragos provocados na via-férrea… Na secção de Mirandela-Bragança verificaram-se vários desabamentos; na secção do Tua, a corrente levou carris e travessas.

Título: Bragança na Época Contemporânea (1820-2012)
Edição: Câmara Municipal de Bragança
Investigação: CEPESE – Centro de Estudos da População, Economia e Sociedade
Coordenação: Fernando de Sousa

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