quarta-feira, 24 de outubro de 2018

Começou a remoção dos resíduos do Cachão em Mirandela

Os resíduos depositados no Complexo do Cachão, em Mirandela, Trás-os-Montes, começaram hoje a ser removidos depois de cinco anos de polémica e queixas com a perspetiva de a operação ser concluída até ao final do ano.

Atualizado 23-10-2018 12:19

As câmaras de Vila Flor e Mirandela, no distrito de Bragança, substituíram-se à empresa Mirapapel, que durante anos acumulou plástico e papel prensado em armazéns do complexo até dois incêndios terem chamado a atenção para o que foi considerado de crime ambiental e saúde pública.

O Fundo Ambiental disponibilizou 265 mil euros para a remoção que está a ser feita pela empresa Ferrovial e que prevê retirar do local cerca de quatro mil toneladas de resíduos, porém, só no final será possível avançar com o número concreto, como disse César Alvim, da Ferrovial Serviços, empresa que ganhou o concurso.

A operação começou num armazém que não ardeu, com a retirada de fardos de plástico prensado. Nos outros armazéns há materiais queimados e entulho, já que um dos edifícios colapsou num dos dois incêndios, que ocorreram em 2013 e 2016.

Os resíduos retirados serão transportados para um centro integrado de valorização de resíduos da empresa, em Famalicão, alguns depositados em aterro e outros poderão ser recuperados, como explicou o responsável.

O prazo de execução dos trabalhos é de 120 dias, mas a empresa irá “tentar” aceder ao pedido dos autarcas de acelerar a intervenção para que a conclusão ocorra até ao final do ano.

O dia de hoje foi considerado “histórico” por Pedro Fonseca, um dos habitantes da aldeia que deu nome ao complexo e que se tem insurgido contra o problema dos resíduos.

“Efetivamente é um prazer enorme poder estar aqui neste dia a assistir ao início da remoção de todo este lixo que aqui foi depositado e também para as pessoas que aqui residem e conviveram com este problema de saúde pública durante muitos anos”, afirmou.

A aldeia espera que este “possa ser o primeiro dia da recuperação deste espaço que outrora foi palco de grande atividade industrial”, com o antigo Complexo Agro Industrial a empregar mais de mil pessoas até á década de 1970.

Maus cheiros, o receio de novos incêndios e outras pessoas a depositarem entulho no local nos últimos tempos foram alguns dos problemas com que, segundo apontou, têm convivido os habitantes do Cachão.

A presidente da Câmara de Mirandela, Júlia Rodrigues, considera que “finalmente vai haver boas condições e boa qualidade de vida para todos que ali vivem e trabalham”.

“Foi um dia que foi aguardado muito pelas populações, que já não acreditavam que seria possível retirar esta carga ambiental destes incêndios que também foram tóxicos para as populações”, declarou.

A prioridade dos autarcas que gerem o complexo, agora denominado Agro Industrial do Nordeste (AIN), é retirar o lixo. Depois pensarão no processo jurídico relativamente à empresa que causou a situação.


No futuro, pretendem negociar com a Agência Portuguesa do Ambiente a requalificação ambiental de forma a dar vida e dinamismo a este complexo e fazer jus à sua história e ao fundador, o engenheiro Camilo Mendonça consid
erado o “pai” da agricultura transmontana.

O complexo está degradado e os incêndios nos armazéns dos resíduos agravaram a situação.

O presidente da Câmara de Vila Flor e do Conselho de Administração do Cachão, Fernando Barros, explicou que o processo da remoção dos resíduos demorou porque já tinha sido feito uma candidatura ao Fundo Ambiental que não foi aprovada, exigiu que a Câmara de Mirandela, concelho onde está instalado, tomasse posse administrativa, a celebração de um contrato de financiamento ao Fundo Ambiental, um concurso público, houve contestação e hoje finalmente deu-se início à retirada deste passivo ambiental.

A empresa que gerou o problema era proprietária ou arrendatária dos armazéns onde se encontram os resíduos.

Fernando Barros não quis tecer comentários sobre como foram sendo acumulados no local os resíduos destinados a reciclagem, mas falou da apetência do mercado.

“Quando tem saída corre bem, quando não tem acontece isto”, disse.

Porto Canal

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