Número total de visualizações do Blogue

Pesquisar neste blogue

Aderir a este Blogue

Sobre o Blogue

SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

domingo, 18 de novembro de 2018

Os tipógrafos e o seu papel inestimável no progresso da cidade de Bragança

Por: António Orlando dos Santos (Bombadas)
(colaborador do "Memórias...e outras coisas...")

Desde que comecei a tomar atenção ao que ia ouvindo e a seleccionar as diferentes formas de discurso, que uma referência às artes e ofícios me prendia a atenção . Fosse a referência a Sapateiros, Alfaiates,Trolhas ou Mecânicos e os meus ouvidos, avisados, faziam-me parar e escutar com atenção os comentários proferidos. Mais ainda quando as referências se referiam aos tipógrafos.


O simples mencionar da palavra Tipografia dava-me uma imagem e me conduzia em pensamento à Instituição, Patronato de Santo António.
Era nesse tempo onde para mim a verdade das artes gráficas, residia.
Por razões de acasos pontuais havia mais que uma vez entrado nas oficinas da Escola Tipográfica, que teve atribuída a missão de ensinar aos rapazes ali internados as artes gráficas e que para além de tipógrafos formava também paginadores e encadernadores. Havia mais duas tipografias em Bragança, ambas com prestígio e que empregavam até, gente minha conhecida e alguns meus condiscípulos que eram aprendizes e se fizeram bons tipógrafos que estiveram ligados às várias etapas acontecidas desde os anos sessenta quando se passou dos caracteres móveis para o offset  e posteriormente para o processo digital, que foi responsável pela mudança radical de planear e executar a impressão de textos sem recurso a processos arcaicos.
As duas tipografias que penso serem mais antigas do que a Escola Tipográfica eram a Gráfica Transmontana e a Tipografia Académica. Ambas situadas na Rua Direita estavam ligadas a Livrarias-Papelarias que forneciam todos os artigos que as empresas necessitavam para o seu normal funcionamento, como, facturas, requisições, livros de escrituração e cartas timbradas, material publicitário, calendários e cartões de visita, bem assim como todos os artigos que as Escolas e seus alunos precisavam para o desempenho das suas tarefas, respectivamente de ensinar e aprender. 
Ora, quando eu aos onze anos comecei a trabalhar na Pastelaria Ribeiro e dado que era eu que fazia os recados", ía com frequência ao Patronato encomendar e recolher as cintas para os Bolo-de-arroz, que eles executavam num papel próprio e num grafismo sóbrio de cor azul. O chefe de oficina era o Snr Gomes, homem simpático e afável que sempre ocupado numa azáfama frenética dispensava dois minutos para me atender após eu penetrar através da porta da oficina e com acenos lhe chamar a atenção. Acenos porque palavras eram inúteis dado o ruído que as máquinas constantemente em actividade produziam e tornava o ambiente algo em que se reconhecia a necessidade de grande concentração nas tarefas pois a comunicação era difícil. 
Daí os vários quadros que avisavam ou aconselhavam os trabalhadores e as visitas a serem vigilantes e cuidadosos. Um recordo, rezava assim: - Nada há de mais prejudicial aos que trabalham, do que a presença daqueles que nada fazem. 
Recordo bem a figura dos que trabalhavam na Tipografia nesse tempo, como o Snr Gomes, O Zé Manuel, mas confesso que os nomes da maioria está a precisar de uma recapitulação pois estou em branco nalguns casos. O mesmo não direi dos tipógrafos da Gráfica em que pontuava o Toninho Marrana, patrão, seu irmão fundador do GDB, já era falecido. O Taboada que tinha cabelo cor de cobre, o Rui meu vizinho a quem chamávamos Rui da Gráfica ou Bagaço, o Zé Maria, irmão da esposa do patrão, o Alvarinho Minhoca, havendo também o Abílio e o Carlitos que me parece que começaram no Patronato.


O João Reis, glória do Desportivo que também era do Patronato e o Fernando Rei-Preto que acho ser da Tipografia Académica, mais conhecida por Maria Preta onde trabalhavam o Alberto Geraldes, o Senhor Paixão, pai do Toni ourives do Sousa e um filho da tia Lurdes Pimpa que foi para o Brasil e não mais regressou a quem chamávamos Treló. Havia também um neto da Maria Zé que se chamava Teixeira que não vejo desde o princípio dos anos sessenta.
Também trabalhava na Académica onde ao balcão estava sempre a tia Maria Preta com o seu ar sempre sorridente, a sua filha Alcina que é das pessoas de que eu mais gostei de ter como amiga.Tinha duas filhas maravilhosas que espero estejam bem e que sempre me manifestou um carinho verdadeiro, bastando-lhe para tal o saber que eu era filho do meu pai!
A crónica é dedicada aos tipógrafos mas não lhe queda mal a inclusão daqueles(as) que trabalhavam complementarmente com eles para que se cumprisse com o determinado nas regras das artes e ofícios que no meu tempo de menino eram a alma e a vida da minha cidade, que povoada de artistas conferia ao meu pensamento idealista uma ideia de sociedade de labor e honra! Sei que a Escola Tipográfica não é hoje o que foi e que a Gráfica e a Académica fecharam portas!
É para mim motivo de grande saudade todo o imaginário que a minha mente contém e que me transporta ao tempo do meu começo. Estou ao mesmo tempo feliz porque o Abílio e o Carlitos continuam na arte e são hoje donos de Tipografias em outros moldes mais modernos e com prestígio, sendo que para mim são acima de tudo Tipografias, que estão prestando à comunidade serviços como o que as que mencionei prestaram nos tempos mágicos da minha criação em que o Mensageiro e os Amigos de Bragança eram impressos aqui mesmo e todo o material impresso que as firmas precisavam era feito por Tipógrafos de Bragança que eram operários competente e artistas completos.


Das muitas memórias que tenho das oficinas de Tipografia que mencionei, há uma que tenho gravada indelevelmente e é ainda fascinante pelo simbólico do acto que era a composição de um texto com tipos de letras separadas individualmente e que ao formarem uma palavra era separada da seguinte por um separador e também a configuração das linhas que resultava da introdução na caixa de texto de uma régua fina em metal colocada na base das letras e que fazia a separação destas. O início do texto era sempre começado por um caracter estilizado que transmitia ao texto uma elegância apreciável. Do offset lembro-me de me ter sido explicado, na Tipografia Académica no tempo em que era propriedade dos Irmãos Reis e o Alvarinho Minhoca teve a paciência de me aturar, explicando-me o sistema.
Da impressão digital em Tipografia nada sei pois tendo estado já algumas vezes na Tipografia do Abílio, na Zona Industrial das Cantarias nunca tive a ousadia de pedir o que pedi ao meu amigo Álvaro Soares. 
Deixo aqui em traços largos e imprecisos algumas memórias de mais uma profissão que também fez parte do meu imaginário de rapaz e que foi ganha pão de muita gente honesta e trabalhadora da nossa cidade.





Bragança, 14/11/2018
A. O. dos Santos
(Bombadas)

Sem comentários:

Enviar um comentário