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SOBRE O BLOG: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blog, apenas vinculam os respetivos autores.

segunda-feira, 4 de março de 2019

O mito do Entrudo

As manifestações tradicionais de Carnaval, chamadas de Entrudo, mantêm a sua originalidade no nordeste transmontano, em especial com as figuras dos caretos de Podence, Ousilhão, Baçal, Varge, Vilas Boas e Salsas, que personificam seres sobrenaturais, herdeiros dos deuses diabólicos venerados na Roma antiga.

A fisionomia dos caretos, com suas máscaras demoníacas, impondo um misto de terror e diversão, apresenta evidentes semelhanças com as divindades das festas Lupercais romanas que eram celebradas nesta altura do ano, em honra do deus Pã, também conhecido por “Fauno Luperco”. Esta figura apresentava-se com aspeto diabolizado, cornadura de bode e corpo peludo, perseguindo as pessoas que fugiam aterrorizadas. Note-se que uma das funções dos caretos, em especial os de Podence, é também perseguir e chicotear as pessoas, incutindo-lhes medo, especialmente às raparigas. Ignotos nas suas máscaras de lata, chocalhos à cintura, fatos de franjas de cores garridas feitas de linho e lã, percorrem os cantos da aldeia, entram e saem pelas janelas das casas e alpendres, trepam aos telhados e arrastam para a rua as raparigas indefesas, sujeitando-as ao barulho das chocalhadas e ensaiando com elas rituais eróticos.

Estas e outras tradições transmontanas (os famosos “Julgamentos do Entrudo”) assumem-se assim como herança diluída dos velhos ritos romanos em honra do deus Pã, mas também do deus Saturno, o deus da agricultura. Nas celebrações a esta divindade, conhecidas como “Saturnálias”, era permitido que o poder dos senhores passasse provisoriamente para aqueles que faziam produzir os campos: os escravos. Era um tempo de inversão, prazer e exagero, em que estes passavam a ser livres, nas palavras e nas ações, podendo expor e ridicularizar publicamente os seus senhores.

Entretanto, assistiu-se a uma implícita apropriação do mito por parte do cristianismo. Entrudo procede do latim “introitus”, que significa entrada. Entrada em quê? Na Quaresma. Tal justifica haver uma despedida ruidosa dos excessos e dos prazeres da carne (de onde veio a moderna designação de “Carnaval”), confirmando-se assim o apurado sentido cristão do Entrudo, ainda que o vejamos, como festa popular, inteiramente dominado por rituais pagãos.




Alexandre Parafita
Jornal de Notícias

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