Lagos do Sabor |
Perdeu o epíteto de “último rio selvagem” de Portugal quando há dois anos foi dominado pela “mãe de todas as barragens”. Mas isso não significa que tenha deixado de ser arisco, à espera de ser explorado nas suas águas tépidas. Por detrás do Douro, há uma porta que se abre para a nova paisagem do rio Sabor, cheia de espelhos de água, à espera de serem quebrados. Os Lagos do Sabor são uma novidade no horizonte transmontano que ainda não cedeu ao turismo de massas. Nem tem como.
Lagos do Sabor |
Ainda há segredos por descobrir em Portugal. Já ouviu falar dos Lagos do Sabor? Em Trás-os-Montes, numa extensão de 70 km, existem lagos ligados entre si por gargantas e penhascos, que formam um verdadeiro santuário da vida selvagem e oferecem aos visitantes um céu azul e um horizonte de cortar a respiração, que une os concelhos de Alfândega da Fé, Macedo de Cavaleiros, Mogadouro e Torre de Moncorvo. Os “lagos” propriamente ditos nasceram com a construção da barragem do Baixo Sabor, que alterou a afluência de água e proporcionou uma mudança no cenário, tornando-o um ponto de visita natural obrigatório.
Lagos do Sabor |
A barragem do Baixo Sabor nasceu como alternativa à barragem prevista para Vila Nova de Foz Côa. As gravuras salvaram o Côa e empurraram o domínio pela EDP mais para cima, para o Sabor, também ele um rio que se junta ao Douro. Apesar de anos de contestação, sobretudo por ser uma zona de protecção ambiental, a Comissão Europeia acabou por dar luz à construção da barragem, que custou cerca de 450 milhões de euros à eléctrica e produz electricidade para 300 mil pessoas.
Lagos do Sabor |
A linha do horizonte entrecortada de Trás-os-Montes ganhou, através da acção da mão humana, água nos vales, mas a mesma mão não modificou nada ou mudou muito pouco do que ficou à tona. Ainda não há autorização para novas praias fluviais, ainda não há os famosos barcos-casa, as casas palafitas, os barcos de recreio ainda são poucos, a pesca ainda não está regulada e o regadio também não é programado.
Lagos do Sabor |
É um imenso mar de água doce por explorar e organizar e isso dá a sensação ao visitante que é o primeiro a fazer tudo por ali. Onde antes quase só se via terra e um pequeno curso de água, nasceram desde há dois anos três grandes lagos: o Lago de Cilhades, o Lago do Medal e o Lago dos Santuários. Com a subida do leito, ficou maior e mais larga a Foz do Azibo. Em cada um há uma história que ficou escondida na água ou para ser descoberta nos montes que a rodeiam.
Lagos do Sabor |
Essa sensação de ter uma experiência turística ainda partilhada por poucos é um dos segredos mais bem guardados da região. Na verdade, por esta zona, fazer praia nos novos lagos ou passear de barco apenas pode ser feito por conta e risco próprios, já que não há empresas que possam explorar as margens das albufeiras criadas com a barragem e existem apenas duas praias fluviais que já existiam, a praia da Foz do Sabor e a praia da Foz do Azibo. As duas com água mais quente do que seria de esperar para rio – rondaria os 23, 24 graus no final de Agosto.
Lagos do Sabor |
No cimo de um dos montes que circundam os lagos aparece um santuário trasladado. As imagens de satélite do Google ainda estão no antigamente. Ainda se vê o rio, estreito, com a areia acumulada e as rochas a descoberto. Agora, no cimo do monte, a cerca de um quilómetro onde existia o santuário com mais de 200 anos, foi erigido o novo lugar de culto. Ou foi reerguido. Durante meses, equipas de restauradores foram desmontando a igreja de um lado e montando do outro, pedra a pedra até à sua nova morada, no cimo do monte da Parada e de frente para o novo Lago dos Santuários.
Lagos do Sabor |
A igreja lá no alto marca com imponência uma das curvas do rio, onde este se junta com a ribeira Zacarias, antes uma pequena ribeira, agora do tamanho e largura de um rio. Como muitos dos sítios religiosos da zona, a igreja agora trasladada foi mandada construir no século XVIII pela família dos Távoras, senhores do Mogadouro.
Lagos do Sabor |
Neste local, onde é possível apreciar a nova paisagem criada pela água do Sabor, foi construído um pequeno museu que mostra em fotografias como a igreja subiu a encosta ao longo de meses, que tem um espaço dedicado à vida do Santo Antão e ainda uma parede dedicada aos “ex-votos” que os crentes faziam ao santo, para pagarem promessas. Do lado de fora, há espaço para um restaurante panorâmico, ainda fechado por falta de equipamentos, e um dormitório na Casa do Romeiro, também ele fechado. Este espaço, propício a um investimento de turismo rural pela vista e pelas condições que oferece, está meio abandonado, apenas visitado por curiosos ou quando se prepara a romaria anual.
Lagos do Sabor |
Pode contactar com diversos animais, como o Grifo, a Águia de Bonelli, a Lontra Europeia, entre muitos outros. Há ainda actividades como birdwatching, passeios micológicos e botânicos, rota do lobo, ecopista do sabor, entre tantas outras. A par destas iniciativas, há ainda outros motivos que convidam a uma visita demorada. O estilo de vida tradicional destes concelhos e a gastronomia transmontana, que integra pratos como Cogumelos “Pantorra” ou “Belfuradinha”, Peixe frito de rio, “Peladinhas” ou Amêndoas de Moncorvo.
Fotos de José Rodrigues
Vortex Magazine
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