Uma das sobremesas do menu servido por Óscar Gonçalves DR |
Tudo certo, portanto. Viajamos no lugar dos jornalistas, supostamente “longe do poder”, que é como quem diz, do rei ou do Presidente que, noutros tempos, este comboio terá transportado e que seguiam nos seus aposentos privados. Entre muitas outras histórias, foi nele que viajou, em 1970, o caixão de Salazar, saindo de uma estação improvisada em frente aos Jerónimos, em direcção a Santa Comba Dão.
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De qualquer forma, não ficamos muito tempo na nossa carruagem – só o suficiente para um primeiro copo de vinho, o Olo, da Niepoort e os dois snacks iniciais: uma bola (tipo berlim) de queijo Terrincho com presunto bísaro, e um roché de alheira com castanha.
António Gonçalves, o irmão de Óscar, espreita à porta do nosso compartimento para nos explicar de onde vêm as duas ideias – a primeira nasceu das visitas que Óscar lhe fazia ao Algarve e do que repetia sempre que comia uma bola-de-berlim: “Isto é bom, mas com queijo e presunto ficava muito melhor.” A segunda vem dos bombons Ferrero Rocher, que não podiam faltar na mesa de Natal e que aqui aparecem com os principais produtos da época em Trás-os-Montes, a alheira, a castanha e a amêndoa.
Em breve somos convidados a passar para a carruagem restaurante, onde será servido o almoço. O Douro desfila lá fora, iremos vê-lo através da janela durante toda a viagem, na ida sob um sol de início de Outono, ameaçado por algumas nuvens, no regresso a mergulhar num doce anoitecer, até a escuridão o engolir e nós, entre bombons, vinho do Porto e piano ao vivo na carruagem da suite presidencial, cometermos a heresia de quase o esquecermos.
Gonçalo Castel-Branco leva-nos a visitar as cozinhas. A original, totalmente restaurada, com o seu forno de portas em ferro trabalhado, já só pode ser usada para armazenar. Por isso, para que os chefs possam trabalhar, foi adaptado o antigo furgão de transporte do correio e mercadorias. Quando o visitamos, está a ser preparado o caldo verde que será servido no final da viagem, quase a chegar a São Bento, encerrando assim um lanche que incluiu queijos, enchidos, doces, patés, scones e bolinhos vários.
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É assim que António Gonçalves vai apresentando os pratos que Óscar termina na cozinha, sempre com os sabores de Trás-os-Montes em destaque: cuscos de Vinhais num jus de cabeça de carabineiro, com cavacas de Peniche; corvina com batata e abóbora menina; javali com castanhas, trufa e cogumelos da época; gelado de pinheiro; e pudim de amêndoa. A acompanhar, vinhos Niepoort (Conciso 2017, VV 2017, Batuta 2014).
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