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SOBRE O BLOG: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira..
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blog, apenas vinculam os respetivos autores.

segunda-feira, 28 de outubro de 2019

O regresso triunfal de Paulo Bragança ao palco do CCB, 22 anos depois

Conta-se que um dia, ao ouvir Mísia cantar, Amália Rodrigues terá dito: “Esta ao menos não imita ninguém.” A afirmação, que se aplica com justiça a Mísia (e que esta continua a confirmar, ao longo dos anos), pode aplicar-se também a Paulo Bragança. A forma como ele interpreta o fado não é comparável à de nenhum outro fadista, e isto não é um juízo valorativo, é constatar um facto.
Paulo Bragança no CCB - JOSÉ FRADE / MUSEU DO FADO
Chamarem-lhe “fadista punk”, ou “anjo caído” do fado, pode ajudar à propaganda que procura defini-lo, mas fica aquém do que é a sua expressividade emocional. Que ele, aliás, explora ao limite, com a sobriedade que entende imprimir-lhe e sem deslizes assinaláveis. O seu regresso ao palco do Centro Cultural de Belém, em Lisboa, cumpridos exactamente 22 anos sobre o seu primeiro concerto naquela sala (25 de Outubro de 1997, agora em 25 de Outubro de 2019), cumpriu o que ele prometera: foi um concerto austero, intenso e muito centrado na música, sem distracções para lá das sóbrias luzes, e mesmo assim muito assente em jogos de sombras e no relevo dado à voz e aos instrumentos, alinhados num friso com cinco plataformas paralelas acima do nível do palco: Luís Coelho (guitarra portuguesa), Tiago Silva (viola de fado), André M. Santos (guitarra clássica), Alexandre Tavares (guitarra eléctrica) e Jorge Carreiro (contrabaixo).
Paulo Bragança no CCB com os cinco músicos em palco - JOSÉ FRADE / MUSEU DO FADO
O começo, na penumbra, com Paulo Bragança a dizer um texto poético em voz off, abriu caminho a uma entrada fulgurante, com Entrega (Carlos Gonçalves e Pedro Homem de Mello): “Descalço venho dos confins da infância/ Que a minha infância ainda não morreu./ Atrás de mim em face ainda há distância,/ Menino Deus, Jesus da minha infância,/ Tudo o que tenho, e nada tenho, é teu.” E descalço vinha Paulo Bragança, que logo aos primeiros temas colocou alta a fasquia: depois de Entrega, Rosa da noite e Mistérios do fado.

A imagem que Paulo Bragança deixou dos seus primeiros tempos não se desfez, apurou-se. Nela podem ecoar memórias dos anos 80, da pop de António Variações ao negrume dos Joy Division, mas isso dependerá muito das referências de quem ouve. Certo é que, na pose, na colocação da voz, na gestão dos tempos e dos silêncios (e com que habilidade, e noção de sedução, ele os explora!), Paulo Bragança permanece sem par no seu género. As pontes que ele agora estabelece, rumando dos fados à Irlanda, onde viveu mais de uma década (com Caoineadh na dtrí mhuíre, só voz e nove adufes, com o grupo feminino Adufe & Alguidar), ou à Roménia, país onde também viveu uns meses e pelo qual se apaixonou (cantou três canções em romeno, que talvez grave um dia), assentam no novo caminho que constrói e que já foi fixando num disco, Cativo.

O resto da noite andou pelo fado ou canções a ele sujeitas: Biografia do fado, o Fado falado de Villaret alterado ao seu modo (foi com ele, disse, que abriu o concerto de há 22 anos), Soldado, Para que quero eu olhos (da tradição coimbrã), Remar, remar (dos (Xutos & pontapés), Cansaço (de Amai, já aí dando novos tons a este belíssimo fado de Amália) e Descalço (que fechava o seu primeiro disco, Notas Sobre a Alma, de 1992).
Nos agradecimentos finais, com o grupo Adufe & Alguidar - JOSÉ FRADE / MUSEU DO FADO
O encore, com a plateia a aplaudi-lo de pé, fez-se com mais um tema do primeiro disco, Lisboa a namorar (de Rosa Lobato de Faria). Um final efusivo para um espectáculo onde Paulo Bragança nos soube dar, e com novas notas sobre a alma, o melhor de si.

Uma nota, à margem: Este sábado, 26 de Outubro, pelas 18h, foi inaugurada em Lisboa uma exposição de fotografia intitulada Requiem, compilada a partir de uma série de sessões fotográficas onde Paulo Bragança (há já uns anos) serviu de modelo ao fotógrafo franco-italiano Joseph Le Mela. Está na galeria Little Chelsea, na Rua Capitão Leitão, 40, onde ficará patente ao público até ao dia 17 de Novembro.

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