A caminho do trabalho |
O grande desafio, ou pelo menos um entre outros, seria o ser-se capaz de se encontrarem formas de se ocuparem as horas de lazer de uma maneira equilibrada e assaz inteligente para que a felicidade caso não morasse ao lado, também não andasse muito longe.
Enganou-se, contudo, o insigne economista em duas coisas. Numa, porque o crescimento económico em termos globais traduz-se em muito mais que os dois por cento, e noutra porque apesar disso o ser humano vê-se metido numa carga de trabalhos dado que cada vez mais lhe exigem que trabalhe até mais avançado na idade.
Argumentam os doutos senhores que a esperança média de vida aumenta a olhos vistos e ainda bem porque morremos mais velhos, vivemos mais anos, e que por isso há perigo de desequilíbrio nas contas. Quem não morre ao dobrar da esquina da terceira idade recebe a pensão durante mais tempo, em contraponto com quem desconta que é menor em número e em grau.
Quanto a isto nada a opor, pois percebe-se sem se ir a doutor em económicas em Coimbra. Utilizam este argumento e poucos ou ninguém rebate ou acrescenta. Mas pode acrescentar-se lenha no lume desta discussão. Digo eu.
Num tempo em que a riqueza criada sobe anualmente para tanto como um zero à direita do dois em cada cem, onde diabo se mete ela? Quem, quantos e aonde lhe deitam a mão? Para que gavetas escorre ela? Certo, é que os que detêm metade da riqueza mundial nem um autocarro de trinta lugares encheriam se os colocassem num para laurearem a pevide, em vez de andarem em aviões particulares.
Seguindo nos perguntares. Se as máquinas substituem cada vez mais os humanos, produzindo muito mais em muito menos tempo, onde se reflectem os ganhos, e porque raio querem que homens e mulheres presos por arames por entre andanças em consultas médicas, continuem a laborar a modos de dizer quase até ao repicar dos sinos a finados?
Porque carga de águas se condenam pessoas jovens a viver em casa dos pais até aos quarenta anos cerceando-lhes a plenitude da vida e da cidadania, porque não conseguem sentir-se inteiros apesar de colocarem tudo o têm em cada coisa que fazem? Porque não se lhes permite ver a lua que se ergue sobre o lago da vida?
Não me ficando ainda nas questões. Como é que se pretende alicerçar um país numa sociedade que se renova com gente qualificada a auferir pouco mais que o ordenado mínimo obrigatório com as nefastas consequências pessoais, cívicas e institucionais, devido ao parco valor dos descontos para a Segurança Social e afins?
Tenha paciência quem tiver que a ter, mas o senhor John Keynes também nisto esteve certo. A idade da reforma pode e deve baixar. Basta que se de oportunidade aos novos para que singrem na vida, para que somem em vez de diminuírem, e basta que os recursos se distribuam com o devido bom-senso e equilíbrio que baste.
Quanto aos que já deram muito de si, é justo que tenham mais tempo para o tempo que sentem afunilar-se na vida que se vive percorrendo-se o caminho que se curva e depois parte. Poderem sentir escorrer os dias e os anos com a placitude possível, rapiocando quando for para rapiocar, é um direito depois de muitos deveres cumpridos. Somente assim se construirá uma sociedade equilibrada e onde apetece viver.
Só assim, dando tranquilidade aos que iniciam o erguer da incomensurável obra que é a vida em que se ganha o pão com o suor do rosto, e aos que porque andaram não têm mais que andar depois de muitos limpares de suor, se evita a libertação dos demónios que voam nas asas do desassossego e do medo. Eles andam aí, voam e vociferam. Cada vez mais gente em todo o lado sente como sua a mensagem que expelem.
O mundo anda confuso. Os extremos tocam-se e trocam de posição. A esquerda entretém-se na defesa da plenitude de os rapazes poderem usar calças cor-de-rosa, e a direita radical defende os que se sentem espoliados.
Steve Bannon, guru de Trump diz que temos de acabar com a ditadura na China que funciona com mão-de-obra escrava que nivela por baixo, e damos por nós a ir com ele, mais não seja porque também afirma que temos de destruir este sistema político baseado em oligarcas e escravos.
Sentimo-nos servos cada vez mais. Não podem é impor que o sejamos durante mais tempo. Até porque não é preciso.
Manuel Igreja
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