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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

segunda-feira, 13 de janeiro de 2020

A Idade da Reforma

A caminho do trabalho
Mais ou menos há noventa anos, o economista inglês John Keynes, um dos mais reputados na área até hoje, defendeu que se a economia crescesse dois por cento ao ano, no final de vinte, o ser humano estaria bastante livre de trabalhar e com muitas horas vagas, apontando o não se fazer nada como potencial problema.

O grande desafio, ou pelo menos um entre outros, seria o ser-se capaz de se encontrarem formas de se ocuparem as horas de lazer de uma maneira equilibrada e assaz inteligente para que a felicidade caso não morasse ao lado, também não andasse muito longe.

Enganou-se, contudo, o insigne economista em duas coisas. Numa, porque o crescimento económico em termos globais traduz-se em muito mais que os dois por cento, e noutra porque apesar disso o ser humano vê-se metido numa carga de trabalhos dado que cada vez mais lhe exigem que trabalhe até mais avançado na idade.

Argumentam os doutos senhores que a esperança média de vida aumenta a olhos vistos e ainda bem porque morremos mais velhos, vivemos mais anos, e que por isso há perigo de desequilíbrio nas contas. Quem não morre ao dobrar da esquina da terceira idade recebe a pensão durante mais tempo, em contraponto com quem desconta que é menor em número e em grau.

Quanto a isto nada a opor, pois percebe-se sem se ir a doutor em económicas em Coimbra. Utilizam este argumento e poucos ou ninguém rebate ou acrescenta. Mas pode acrescentar-se lenha no lume desta discussão. Digo eu.

Num tempo em que a riqueza criada sobe anualmente para tanto como um zero à direita do dois em cada cem, onde diabo se mete ela? Quem, quantos e aonde lhe deitam a mão? Para que gavetas escorre ela? Certo, é que os que detêm metade da riqueza mundial nem um autocarro de trinta lugares encheriam se os colocassem num para laurearem a pevide, em vez de andarem em aviões particulares.

Seguindo nos perguntares. Se as máquinas substituem cada vez mais os humanos, produzindo muito mais em muito menos tempo, onde se reflectem os ganhos, e porque raio querem que homens e mulheres presos por arames por entre andanças em consultas médicas, continuem a laborar a modos de dizer quase até ao repicar dos sinos a finados?

Porque carga de águas se condenam pessoas jovens a viver em casa dos pais até aos quarenta anos cerceando-lhes a plenitude da vida e da cidadania, porque não conseguem sentir-se inteiros apesar de colocarem tudo o têm em cada coisa que fazem? Porque não se lhes permite ver a lua que se ergue sobre o lago da vida?

Não me ficando ainda nas questões. Como é que se pretende alicerçar um país numa sociedade que se renova com gente qualificada a auferir pouco mais que o ordenado mínimo obrigatório com as nefastas consequências pessoais, cívicas e institucionais, devido ao parco valor dos descontos para a Segurança Social e afins?

Tenha paciência quem tiver que a ter, mas o senhor John Keynes também nisto esteve certo. A idade da reforma pode e deve baixar. Basta que se de oportunidade aos novos para que singrem na vida, para que somem em vez de diminuírem, e basta que os recursos se distribuam com o devido bom-senso e equilíbrio que baste.

Quanto aos que já deram muito de si, é justo que tenham mais tempo para o tempo que sentem afunilar-se na vida que se vive percorrendo-se o caminho que se curva e depois parte. Poderem sentir escorrer os dias e os anos com a placitude possível, rapiocando quando for para rapiocar, é um direito depois de muitos deveres cumpridos. Somente assim se construirá uma sociedade equilibrada e onde apetece viver.

Só assim, dando tranquilidade aos que iniciam o erguer da incomensurável obra que é a vida em que se ganha o pão com o suor do rosto, e aos que porque andaram não têm mais que andar depois de muitos limpares de suor, se evita a libertação dos demónios que voam nas asas do desassossego e do medo. Eles andam aí, voam e vociferam. Cada vez mais gente em todo o lado sente como sua a mensagem que expelem.

O mundo anda confuso. Os extremos tocam-se e trocam de posição. A esquerda entretém-se na defesa da plenitude de os rapazes poderem usar calças cor-de-rosa, e a direita radical defende os que se sentem espoliados.

Steve Bannon, guru de Trump diz que temos de acabar com a ditadura na China que funciona com mão-de-obra escrava que nivela por baixo, e damos por nós a ir com ele, mais não seja porque também afirma que temos de destruir este sistema político baseado em oligarcas e escravos.

Sentimo-nos servos cada vez mais. Não podem é impor que o sejamos durante mais tempo. Até porque não é preciso.

Manuel Igreja

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