Segundo adiantou hoje à agência Lusa o administrador judicial do processo de insolvência da Sousacamp, para concretizar a “redução necessária ao quadro de pessoal” - cerca de 90 colaboradores provenientes sobretudo dos setores da produção/colheita da unidade de Paredes, compostagem e logística – será dada “primazia absoluta a acordos de rescisão por mútuo acordo, assegurando-se o pagamento integral e imediato da totalidade dos créditos laborais que correspondam a cada colaborador”.
Afirmando-se “otimista” quanto à aprovação pelos credores do plano de insolvência da Varandas de Sousa, com a consequente viabilização da entrada de novo capital, Bruno Costa Pereira diz estarem previstos “novos e decisivos investimentos nas unidades produtivas que deverão superar os 10 milhões de euros”.
Conforme explicou à Lusa o administrador judicial, o emagrecimento previsto da unidade industrial de Paredes resulta da “reorganização industrial” traçada para “otimizar a atividade” do grupo e que passa por suspender a produção naquela fábrica e concentrá-la nas duas outras unidades detidas pela Sousacamp em Benlhevai e Vila Real.
O objetivo é “ajustar e racionalizar a estrutura de custos” e “criar condições para renovar e modernizar os setores que verão a atividade suspensa”.
Como resultado, a unidade de Paredes “continuará a centralizar os setores de embalamento e expedição do grupo”, o que “garante a manutenção de mais de 100 postos de trabalho”, disse.
De acordo com o administrador judicial, para a opção de concentrar a produção nas duas unidades localizadas no interior (Benlhevai e Vila Real) pesou o facto de a unidade de Paredes ser “aquela que apresenta maiores necessidades de intervenção” e de ser nesta zona “que existe a maior facilidade para recolocação dos colaboradores no mercado de trabalho”, resultado de um “tecido industrial mais vasto e dinâmico”.
“Caso a opção recaísse por uma das outras duas unidades de produção (Vila Real ou Benlhevai) o seu impacto, do ponto de vista social, seria bem mais nefasto, o que se apresentou determinante”, sustentou.
À Lusa, Bruno Costa Pereira destacou a “complexidade” do percurso de recuperação do grupo Sousacamp, desde logo pelo facto de se ter passado já “quase um ano desde a data de declaração de insolvência e um ano e meio desde que o grupo se apresentou ao PER [Processo Especial de Revitalização]”, que acabaria por ser chumbado.
A este facto associou-se uma “redução progressiva da produtividade, resultante de problemas ocorridos ao nível da qualidade do composto produzido, o que se traduziu em quebras de produção e consequentes dificuldades em manter o fornecimento regular junto dos clientes, com a consequente quebra no volume de negócios”.
De acordo com o administrador, foi neste contexto que se impuseram “intervenções de fundo no setor de compostagem do grupo”, responsável pela produção de composto, matéria a partir da qual se desenvolvem os cogumelos, e a concentração da produção em Benlhevai e Vila Real.
Bruno Costa Pereira salienta que, apesar desta reorganização industrial, o grupo Sousacamp “continuará a garantir o emprego direto de mais de 350 colaboradores em Portugal, os quais assegurarão níveis de produção similares ou mesmo superiores aos que, historicamente, eram conseguidos no conjunto das três fábricas”, num ganho de eficiência “indispensável para assegurar o futuro”.
Também destacado pelo administrador judicial é “o enorme esforço” exigido “à generalidade dos credores” que, “apesar dos ‘haircut’ [cortes] a que verão sujeitos os seus créditos, e num ato de manifesta responsabilidade social, convergiram esforços no sentido de garantir a viabilização de uma solução que salvaguardasse a manutenção da atividade e emprego”.
A Autoridade da Concorrência (AdC) deu em meados de dezembro passado luz verde à compra da Varandas de Sousa pela gestora de capital de risco CoRe Equity.
A decisão de não oposição da AdC à operação de concentração foi justificada com o facto de não ser "suscetível de criar entraves significativos" à concorrência efetiva nos mercados identificados como relevantes.
A Varandas de Sousa é uma empresa do Grupo Sousacamp, especializada na produção e comercialização de cogumelos frescos, que estava desde 2018 em processo de insolvência.
A falência do BES, no verão de 2014, marcou o início da queda do grupo, com sede no concelho de Vila Flor, em Benlhevai. O banco financiou o "braço" industrial da Sousacamp, que estava a construir uma unidade produtiva de cogumelos exóticos e outra de transformação de cogumelos em conserva (em lata e congelados), em Vila Real, tornando-se no principal credor da Varandas de Sousa, com uma dívida de 60 milhões de euros.
Em finais de junho deste ano, em Vila Flor, Bragança, em declarações à Lusa no final de uma assembleia de credores, o administrador judicial do processo de insolvência da Sousacamp, Bruno Costa Pereira, afastava “qualquer possibilidade” de o maior grupo português produtor de cogumelos encerrar porta.
Foto: António Pereira
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